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domingo, 28 de setembro de 2025

É conforme tem que ser.


As pessoas costumam avaliar a própria vida e considerar que se tivessem a oportunidade de voltar atrás, teriam mudado muitas coisas, teriam feito outras escolhas, teriam evitado isso e aquilo.

Na minha concepção, tudo o que vivi e escolhi foram o que me trouxeram até aqui e formaram quem eu sou. Não mudaria nada. 

Não é que eu não avalie as consequências, não é que eu tenha aprovado tudo, não é que eu não reconheça tropeços ou não pense que algo poderia ter sido melhor considerado na época.

Simplesmente entendo que a vida é um kit completo, onde você colhe instantes de felicidade, mas não sem infelicidade. Vitória em algum aspecto mas não sem algum tipo de fracasso, alegrias mas não sem dor, ganhos mas não sem perdas. A vida é dual sempre.

Ontem meus netinhos de oito e quatro anos me disseram: vovó, se você não existisse, meu pai também não existiria e nem eu e meu irmão. Achei engraçado eles chegarem nessa conclusão e é tão óbvio que tudo acontece exatamente como deve ser...

Eu poderia não ter engravidado, mas não é garantia que em outra época da vida eu tivesse oportunidade de ser mãe. Hoje talvez eu tivesse a casa impecável de tão limpa, tivesse estudado horrores, tivesse construído uma carreira, tivesse muitas coisas, mas não teria exatamente essas crianças na minha casa, na minha vida, no meu coração.

Hoje tem cachorro mijando no lugar errado, tem brinquedos pela casa, tem farelo na mesa e desenhos chatos o tempo todo na TV. Mas também tem gargalhadas, tem declaração de amor, tem comida infantil em todo lugar, tem passeio, tem vida. 

Assim muitas outras escolhas que fiz e poderia ter sido outras, mas o resultado também seriam outros e eu também seria outra, com outra realidade, com outras experiências. 

Ao mesmo tempo tenho o meu silêncio para recarregar minha bateria quando volto de alguma interação social. Em outras áreas também mantenho o controle por ter escolhido ser quem sou, enfim, embora nada tenha sido tão fácil pra mim, sinto que não gostaria que nada fosse diferente, porque estou caminhando para meu destino, muito satisfeita com o que me tornei.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Mudanças de ciclos


Durante a vida, passamos por diversas mortes. Toda vez que um ciclo acaba, causa muito desconforto porque gostamos da segurança, mas se não enfrentamos o fim do ciclo, também não podemos começar outro e essa estagnação não é saudável, estamos aqui para ser aperfeiçoados nessa experiência que é viver. É importante viver a morte das fases, viver o luto e continuar fazendo escolhas. Quando nos recusamos a encerrar ciclos, morremos por dentro. A aparência é de quem vive, mas o vazio de ocupar uma vaga na existência sem nenhuma razão mina toda motivação. O que estimula a viver é a própria vida, os recomeços, desbravar novos caminhos, conhecer novas pessoas, fazer diferente, experimentar, se reconhecer na nova versão.
O apego demasiado ao passado, às pessoas, ao emprego, aos lugares, às coisas, rouba de nós a possibilidade do novo, das conquistas, das realizações, das experiências. É possível existir por várias décadas num estado de letargia constante e chegar no fim da existência sem nunca ter vivido.

Crente, melhore!

Crente, melhore! Tem coisa mais antipática do que sair por aí ameaçando pessoas que não vivem sua religião de ir para o inferno? Ou aceita tua agenda ou não está credenciado ao céu. Te ocorre que o preço desses foi pago e se você refletisse Cristo como deve ser, estas pessoas teriam desejo de conhecer a razão da sua fé? Se você fosse carta viva, testemunharia o novo nascimento inquestionavelmente, se usasse seu dom em favor do crescimento do todo, as pessoas te veriam como um luzeiro que faz a diferença no mundo, seria luz nas trevas, seria sal indispensável, seria padrão a ser imitado... Ao invés disso sai por aí com dedo em riste, ri na cara de pecadores, acusa e humilha quem está cego, condena quem não tem entendimento, escandaliza e expõe o nome de Jesus. Se tem uma coisa que fica clara, é que o que te mantém nesse pacote de regras é o medo do inferno, jamais o amor que a Graça ensina. Segundo, quem quer ser como você, caminhar contigo, viver como você vive? Merecimento por merecimento, por que você acha que está em situação melhor? Sabe o que é um culto racional? São as escolhas que a gente faz na vida, se elas honram a Deus. Sabe o que glorifica a Deus? Refletir a pessoa de Cristo, nosso mediador. Então não perde tempo classificando a humanidade em qual pecado é mais grave que o outro, porque a priori, o mundo jaz no maligno. Anuncia a boa nova e quem se interessar em aprender sobre isto, instrui. Quem não quiser, a Deus pertence seu destino. Força e violência nunca representaram Jesus. Se você não puder amar, fica calado.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Vai valer a pena



Era pra ter ido aos dois, mas perdeu o trem 
Acabou ficando, mas agora sem lugar
Chorava demais, tentava demais, sobrava demais 
Chamada de feia por quem deveria cuidar 
Cresceu ouvindo que era a pior
Antes tivesse partido pra melhor 
Talvez tivesse história bonita pra alguém contar...

Mas não, foi colecionando dor e solidão 
Talento? Só o de fazer os outros desistirem 
Lenta demais para acompanhar 
Triste demais pra alguém escutar
Fala monótona, hiperfocada e olhar perdido 
Chata demais pra alguém deixar ficar

Chora não, vem aqui pra perto 
Você não é má, não é feia e nem chata
Este lugar que não te compreende
Quis te salvar e agora te mata
Escuta bem a voz que vem de dentro,
Que te orienta desde tão pequena 
Siga seu rumo plantando e colhendo 
Te juro que vai valer esta pena...

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Celina

Nossa menina, 
Vem e ilumina
Com seu amor
Pequenina,
Nossa Celina, 
Obrigada, Senhor!
Setembro trará a primavera 
E junto com ela
nascerá nossa flor
Saúde, Celina 
Nossa menina, 
Bem vinda, meu amor!

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Tentando entender essa viagem 2

Sempre me considerei e me consideraram uma pessoa tímida, introspectiva, excessivamente calada, mas não chamava muita atenção como algo anormal e eu mesma achava que com o tempo as coisas aconteceriam naturalmente. Eu estudaria, depois conheceria alguém que meu coração reconheceria e então me casaria, teria filhos, trabalharia, como se a vida seguisse por um trilho. Nunca pensei na possibilidade de alguma coisa não dar certo, teoricamente eu só precisaria observar o tempo para reconhecer o momento certo de tomar as decisões.

Porém a adolescência chegou e eu ainda era criança. Brincava com meninas com a metade da minha idade enquanto as que tinham a minha idade, já tinham outros interesses. Sempre fui muito infantil e imatura, o corpo se desenvolveu muito antes do emocional. Na verdade a vida me deu um empurrão quando as coisas começaram a sair dos trilhos. As primeiras paixonites frustradas, a morte do meu pai, a falta de dinheiro, a traição do primeiro namorado, a incapacidade de me abrir, a dor de não ter apoio, a solidão, a depressão... Novas tentativas, a gravidez inesperada, mais frustrações, mudança de Estado, as idealizações ficando pelo caminho, a consciência do preconceito das pessoas e depois me enxergar como uma pessoa neurodiversa, apesar de nunca ter tido direito a um diagnóstico.

A vida me arrancou da ilusão da menina sonhadora e arregalou meus olhos para a desconstrução. Não, a vida não segue um roteiro. Não tive os filhos que sonhei, com o marido que amei, não terminei os estudos, não construí uma carreira, não escolhi a religião que me desse respostas, não tive a reciprocidade que merecia nas minhas amizades. Entre um relacionamento abusivo e a solidão, preferi focar em criar meu filho, construir minha casa, aceitei os empregos que apareceram, aceitei migalhas de todas as partes de amigos atraídos pela minha utilidade e não trocas leais. Com o tempo me afastei de tudo e de todos, blindando o coração para evitar novas frustrações.

Fui uma mãe possível, sobrecarregada pela ausência do pai, acertando e errando mas sempre amando e priorizando. Ainda assim sendo cobrada por poder muito pouco, atravessei a adolescência do meu filho ouvindo muitas coisas que não merecia. Em certo momento, escolhi acreditar em novas mentiras e achei que estava reatando meu relacionamento, meu filho merecia que eu tentasse, mas isso me rendeu dores maiores ainda, um aborto espontâneo e mais receio ainda de me relacionar.

Depois me afastei também dos falsos amigos, preservando uns poucos que vejo esporadicamente. Também pus um basta na prática religiosa, que mais causa repulsa pelas atitudes dos adeptos do que dá alívio a alma.

Ora, hoje vejo a vida como quem pode escolher o que quer experimentar. Não esperando nada, sou grata por tudo. E graças a Deus o mundo gira pra todos e o tempo estreitou meus laços de afeto com meu filho, que me deu netos e que suprem minhas necessidades de troca. Por último resolvi não dar meu sangue para ter retorno financeiro. Aprendi viver com pouco para não perder a dignidade e tem dado certo.

Olho para trás enxergando o tanto de escaladas que já enfrentei, o tanto que me superei e o quanto cresci a duras penas. Na frente apenas minha fé, o alvo onde quero chegar quando essa viagem acabar. Consciente de que sou apenas um instante e logo passo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Deus conosco



O Cordeiro imolado desde antes da fundação do mundo, anuncia que a Graça de Deus É,  antes que houvesse história,  homem e pecado.  A onisciência de Deus revela que já havia plano para a humanidade, apesar do que somos. Então,  dentre tantos que não o percebiam, Deus se revelou à alguns para que anunciassem que Ele haveria de se revelar a todos em Cristo.

E assim, no tempo oportuno, tudo o que era subjetivo se tornou concreto diante dos homens, para cumprir na história o que antes estava proposto. Era Deus caminhando conosco, apontando o Caminho, a Verdade e a Vida,  até cumprir seu objetivo. E ressurreto se retirou em carne, para vir em Espírito.  Assim, tornou possível estar conosco em todos os tempos, lugares e povos, manifestando e ensinando a boa , perfeita e agradável vontade de Deus, à todo aquele que crer.

Deus conosco é orar no ambiente do quarto e saber que cada palavra é ouvida e acolhida, sem a necessidade da mediação de outros homens. Deus conosco é saber que nenhuma construção humana, pode reter o ensino, monopolizar o poder de Deus ou determinar seus milagres. Deus conosco é ser grato pelos recursos que vem não por barganhas, nem por pagamento de impostos perpetuados malignamente por oportunistas,  mas porque tudo é Dele, por Ele e para Ele. Deus conosco é ser parte do Corpo de Cristo simplesmente por ter crido e enxerga-lo nos pequeninos onde Ele disse que também estaria. Deus conosco é ser verdadeiramente livres, na companhia de um Senhor que é também amigo.

Já não há sentido para as introduções musicais que pretendem conduzir o povo à presença de Deus, porque Ele escolheu habitar dentro e não fora. Não há lugar especial e nem homem gabaritado para conduzir ovelhas que só tem um Pastor. Tantos são os costumes que tem valor apenas psicológico e nada tem de espiritual.

Cante, ore, seja útil, se reúna, mas consciente do que é em Cristo. E jamais se deixe manipular por persuasões que não vem de Deus, porque Ele está conosco até o fim e isso, doutrina nenhuma pode negar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Tentando entender essa viagem 1

Sou a segunda filha de um jovem casal. Quando nasci minha mãe estava há um mês de completar 21 anos e meu pai de completar 25. Tinha uma irmã de 1 ano e 11 meses. E como não havia ainda ultrassonografia, aguardavam o tão sonhado menino. Cheguei, minha mãe até que aceitou depressa, mas meu pai segundo ela, soltou um baita palavrão de frustração, mas enfim o menino chegaria 1 ano e 8 meses depois, então estava tudo mais ou menos certo, um casal, três crianças e dois hóspedes pra ajudar e atrapalhar. A pequena casa servia de guarida para o irmão do pai e o irmão da mãe e um pouco antes do meu irmão nascer, o irmão da mãe veio a óbito por meio violento. Já o irmão do pai, era desonesto e roubava até o sustento da família. 
Eu fui uma criança muito doente. Começamos minha irmã e eu com crises de bronquite, revezando as internações. Depois, como adquiri outras infecções, doenças da enfermaria, fui ficando cada vez mais debilitada e fraca. Curava uma coisa e já emendava em outra, até que o médico desenganou. Minha mãe dizia, que o medo era que eu contagiante outras crianças internadas, porque pra mim não teria jeito. Então tive alta para ficar em casa o tempo que restasse. Claro que não lembro de detalhes, dos dois anos só guardo flashs isolados de injeções, muito choro, o colo da minha mãe e o dia que recebi uma oração numa campanha de igreja evangélica e cheguei em casa com fome, depois de meses me recusando a ser alimentada. Lembro que minha mãe foi na cozinha preparar a janta e eu disse "quer mama". Eles sorriram, ela me preparou a mamadeira e dali em diante começou minha recuperação.

Por causa dessa intercorrência, eu estava com apenas 6 kilos e tinha parado de caminhar. Quando comecei a me recuperar, voltei a andar e engordar, meu desenvolvimento começou a se normalizar, mas algo dentro de mim continuou desencaixado. Não sei se já nasci com algum traço autista ou se algo aconteceu durante o desenvolvimento enquanto estive doente. O fato é que nunca me encaixei ou me senti pertencente a lugar nenhum. Sempre faltou algo, eu não sabia interagir, sempre fui muito chorona e me desregulava muito emocionalmente. Crises de choro e gritos eram constantes, não sabia me reorganizar e não tive nenhum tipo de suporte, até porque ninguém investigava essas diferenças. Era vista como criança difícil, até porque não tinha atrasos cognitivos, apenas angústia, depressão e não conseguia brincar.

Minha irmã um pouco mais velha, interagia com outras crianças, brincava de roda, pai Francisco e batatinha frita 1, 2, 3. Eu tinha até vontade mas não sabia, não aceitava, só ficava perto. Até que em determinado momento entrava e deitava no tapete, acho que já ficava exausta depois de cada tentativa. 

Essa irmã durante muitos anos foi ponte para que eu pudesse interagir. Como ela era muito falante e eu calada, acabava sendo usada como instrumento para as poucas interações que eu tive durante a infância. Já na escola eu não tinha esse apoio e me encaixar foi um sofrimento. Aos 4 eu chegava na escolinha e deitava na rede para dormir. Não fazia nada até minha mãe me buscar. Já aos 5 comecei a ser alfabetizada, mas como não interagia com crianças, a professora levou meu caso para a diretora e ambas ficaram me observando durante muito tempo. Eu não aceitava ensaiar para nada, permanecia quieta e só ficava perto da professora na hora do recreio. Se eu sentasse em w, a diretora vinha me corrigir, me ajudaram muito até eu ganhar segurança, aprender as letras e no final do ano até aceitei participar da festa de encerramento. Mas minha vida escolar sempre foi difícil, eu aprendia no tempo esperado, mas não conseguia interagir, sofria bullying, passava mal até pra responder a chamada. Com muita frequência dispersava a atenção e chegava a chorar se tivesse alguma dúvida, porque não queria perguntar. Na terceira série fui reprovada mesmo sendo uma aluna mediana, porque fui considerada imatura para ir para a quarta série. No ano seguinte quebrei o braço na escola e não disse a ninguém porque não consegui. Dois meninos corriam no recreio, o da frente me jogou no chão e o segundo pisou no meu braço. Ninguém me socorreu porque não consegui pedir ajuda.

Era um suplício fazer algum trabalho em grupo, na maioria das vezes eu fazia sozinha e colocava o nome do grupo. Nunca consegui fazer educação física, jogar e conseguia as notas com provas teóricas. A vida inteira elegia apenas uma amiga, que muitas vezes era a excluída da classe e se tornava ponte para que eu pudesse me incluir em outras rodas de amigos. Sempre fui muito introvertida e calada. Sozinha não conseguia interagir, ser natural com esses mesmos amigos.

Tive pouquíssimos relacionamentos amorosos, não tinha muita maturidade e era muito fácil me enganar e trocar por outras. Até que em casa eu era espontânea e até brigava bastante com meus irmãos. Era vista como criança agressiva e adolescente irreverente, acho que uma terapia ajudaria, mas a terapia lá em casa era chinelo e cinto. Todas as vezes que me frustrava me isolava, comecei a escrever para desabafar. Poesias, redações, cartas. Escrever se tornou mais fácil do que falar.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

meu lar

A casa que a gente mora, tem que falar de nós 
Tem que contar nossa história 
Tem que acolher, tem que ser nossa voz
Nos detalhes, no estilo, 
tem que contar as memórias 
Alegria nos encontros, paz nos momentos a sós.

A minha me encanta em cada canto 
Nas texturas que escolho, nas cores, nos adornos 
Tem gente que enxerga excessos
Mas não gosto de nada morno
São os excessos que carrego
Cheiro de lavanda ou bolo no forno 

Nem todos gostam de muita informação 
Mas  são informações ao meu respeito 
E poucos se interessaram nessas também 
Cada um decora do seu jeito 

Em tempos de minimalismos e tons pastéis 
Móveis planejados e sofisticação 
À mim encanta o rústico, o vintage
E a alma sensível do artesão 
O belo pra mim não é o luxo
Bonito é escolher com o coração 

Minha casa é meu mundo
Meu descanso, meu lugar de paz
Aqui a rainha sou eu, tudo tem minha alma
Descubra-se e se faça esse carinho 
O cantinho dos sonhos se faz com calma

domingo, 11 de maio de 2025

cronos e kairós

Estamos familiarizados com o tempo cronológico, é nele que baseamos a história do mundo e nossa própria trajetória, o tempo linear narra os fatos em sua ordem, nos fazendo medir o tempo no antes, agora e depois, passado, presente e futuro, como se a série de fatos contasse sobre a existência obedecendo sua ordem de acontecimentos.

Kairós porém, é a maneira grega de contar o tempo pelo seu significado ou momento oportuno, propício, momento certo. 

Na Bíblia fica bem subjetivo, pois narra que antes da fundação do mundo, Deus já havia imolado o Cordeiro que levaria sobre si o pecado. Sendo que em cronos, isto só se tornou objetivo há pouco mais de 2 mil anos. Em outro lugar está escrito que para Deus, um dia é como mil anos e mil anos é como um dia. Então, as coisas que esperamos podem não acontecer no tempo que queremos, mas no tempo de Deus, como os religiosos costumam entender kairós.

O tempo medido em significados, não é exclusivamente de Deus. Muitas vezes podemos entender, quando percebemos que a oportunidade foi aproveitada, ou algo aconteceu quando deveria mesmo ter acontecido, ou como se algo era para ser... Outro exemplo é como algo nos marca tanto emocionalmente que é como se tivesse acabado de acontecer. Kairós é tudo ao mesmo tempo e agora, diferente da contagem linear de cronos 

Uma mãe que perde um filho, pode passar o tempo cronológico em 30 anos, mas sempre vai ter a dor latejando, como se a perda tivesse acabado de acontecer. Cada detalhe de suas memórias serão vivas, causando as mesmas sensações de novo e de novo.

Algo que nos fere, decepções, abandonos e vários outros traumas, porém permanecer décadas depois. Ou algo de muito bom pode perdurar e fazer bem novamente quando for lembrado.

Assim, a eternidade não é apenas um tempo sem fim, mas um tempo onde todas as coisas acontecem simultaneamente. Passado, presente e futuro são uma coisa só como uma grande tela em movimento. Ao passo que Deus te salva enxergando quem você foi, também te salva do que você ainda vai cometer no futuro como condição humana. Ele viu toda a sua história e te amou. 

Kairós é um tempo que não obedece fronteiras, são significados que nos moldam tanto com o que já passou quanto com o que esperamos. Penso que a fé é um instrumento valioso para dar significado a todas as coisas, processar que nada é por acaso e tudo acontece quando deve ser, pois se em cronos um dia haverá um ponto final, em kairós chegaremos onde devemos chegar e seremos quem fomos chamados para ser. Porque afinal, somos eternos e apenas estamos neste tempo e espaço.

sábado, 8 de março de 2025

ser o que sou

O que uma pessoa precisa ter e ser, para não ser acolhida? O que ela tem que ser para sofrer preconceito? Ser mulher, preta, pobre? Precisa ser mãe solo, resiliente, obesa? Precisa ser forte e independente para não tolerar abusos de nenhuma espécie? Precisa dar conta ao ponto de não aceitar menos do que merece? Então vai, você será exatamente assim. Não vai ser acolhida, nem amparada, nem respeitada, ainda assim se dará o respeito, amor e valor, porque o que você precisa vem de dentro. Solidão não existe pra quem gosta da própria companhia e o restante a fé te dá. Sua missão está traçada, seu destino desenhado, sua história é de superação. Suas limitações físicas e neurológicas nunca te impedirão de conseguir o que deseja, embora você seja desprendida do que é transitório e saiba que para onde voltarás, não precisa senão da tua essência. Poderia ser diferente? Sim, mas o resultado seria outra pessoa, mas eu gosto de ser esta.

café comigo



Chamei minha versão mais nova pra tomar um café.
Ela, disponível como é, aceitou correndo e trouxe pães recheados, biscoito frito, pão de queijo. Lembrei que ela sempre fazia isso quando visitava alguém.
Eu, dez anos mais velha, se puder escolher, prefiro evitar o desgaste de sair de casa, minha bateria social agora dura pouco, a paciência também, além da fadiga do corpo. Então fiquei encarregada do café e do suco. Assei um bolo com banana e canela, gosto de receber com a casa perfumada de coisas gostosas. Mas confesso que estava apreensiva. Visitar o passado pode ser desconfortável.
Ela chegou sorridente e com o abraço forte e demorado, com cheirinho de madeira em flor. Os cabelos escovados e bem maior do que os meus, que esperam ânimo pra receber uma tintura nas raízes. Ela viu nos meus olhos que algo se perdeu, mas ainda deu uma boa gargalhada, daquelas que todo mundo conhecia. Nunca imaginei que você ficaria assim, muito mais contida, menos expansiva, mas parece que não vive mais ansiosa.
Sim, agora percebo a energia da vida se esvaindo, sei que concluí muitas coisas que gostaria.
E os amigos, ainda encontra muitos deles? Não, uma vez ou outra no ano encontro dois ou três conhecidos. Mas eram tantos... Lembra dos banquetes, a casa cheia? Sim, acho que eles amavam mais a mesa do que nossa companhia... Hoje, vejo que alguns se encontram, mas já não me incluem. E se convido pra algum evento, dão desculpas e não vem. Uau... Achei que eram nossa segunda família. Pois é, parece que era um tipo de parentesco condicionado à mesma agenda e não ao amor. Puxa, você não voltou mais lá?
Não, fui muito ferida naquele lugar, não me senti bem quando fui visitar algumas vezes. Aproveitei que pararam de me convidar e sumi.
E aqueles mais próximos? Com esses nós contamos não é? Hum, olha é melhor você saber logo. Nem tudo é o que parece. Alguns só te usam por causa da sua generosidade. Sanguessugas tirando proveito. Faz o seguinte, pare um pouco de se doar. Logo começarão a se revelar. Outros, não te amam com reciprocidade. Mas não se sinta tão mal, são assim com os outros também. Estão alí pelo holofote, pela validação, confronta com a Palavra pra você ver, vai ganhar inimigos.
Logo você vai despertar desta ilusão, vai saber quem é quem, vai chorar, vai adoecer, vai até precisar de cirurgias por causa da somatização. Mas vai ressurgir mais forte e segura pra escolher melhor.
Entendi... E nossas realizações? Já podemos parar de trabalhar? Ainda não, mas falta pouco. Ainda aproveitamos para colocar ordem no caos das pessoas e aos poucos os sonhos vão se concretizando. Faz parte, né?
E coisas boas, não tem? Teeeem! Você não vai acreditar! Tem casa cheia de crianças, tem relações reconstruídas, tem família cada vez maior e mais unida.
E as lutas? Tem também, mas a vida é o kit completo, né? Tem lutas pra vencer todos os dias, mas Deus dá Graça. Até aqui nos ajudou.
Ouvi tudo com carinho e não sem dor. Mas só uma preocupação eu tenho: com tantas decepções, onde está Jesus na nossa vida?
Ah, Jesus! Se não fosse Ele eu não teria aguentado a decepção, o abandono, o luto. Jesus continua sendo minha suficiência e a razão da minha existência.
É só o que temos em comum, nossa fé?
Não, muita coisa mudou, quase não tem vestígio de você em mim, a não ser nossa essência que é o que de fato permanece. Ainda somos amor.
Então pelo que percebi, o processo é importante. Gostei muito de saber como estarei daqui há dez anos. 
Fica firme, a ilusão nunca é amiga. A desilusão dói, mas ter autonomia pra escolher crescer é pra poucos, essa visão panorâmica nos livra dos manipuladores. Eu não sabia que seria assim, mas estou feliz por você estar alguns degraus acima de mim.
Bora tomar o café, você é minha melhor companhia!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

8 anos de saudades

O teu lugar em mim, será pra sempre teu
Por hora ecoa o silêncio da tua ausência 
Se busco na memória, dói tanto a saudade
E tento te encontrar na minha própria essência 
Quem sou, foi moldado por você 
Enquanto me ensinava a viver
Com os exemplos da própria vivência
 
O espelho me reflete e te reconheço 
Somos tão semelhantes e cada vez mais 
Até mesmo no jeito que eu jamais esqueço 
Ou apenas te continuo por te amar demais 
Se penso, atordôo com tanto vazio ao redor 
Se sonho te reencontro de formas surreais

Sinto falta de você, do cheiro e da voz
Sinto falta de mim quando éramos nós
Teu lugar é sempre teu no meu coração 
A saudade tem o tamanho do seu abraço 
O amor não morre, você tinha razão,
Ele nos unirá em outro tempo e espaço.
 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Por que Cristo?

Por que Cristo? Porque podendo me condenar, foi o único que me absolveu. Conhecendo quem sou nas mínimas coisas, jamais me abandonou. Enxergando meu passado, presente e futuro, é o único que realmente está comigo e habita em mim e eu nele. Como  criança atípica fui tão observada e reprovada, mas nunca enxergada de fato com minhas diferenças, tantas vezes anulada, parecia penoso demais carregar a culpa de ser quem era, mas venci meus desafios mesmo sem suporte. Sorte minha que alguém sempre dizia que escapei da morte por um fio porque Jesus me curou, de certa forma, isso me salvava do abismo, porque me sentia amada. Se Ele me curou, era porque eu não era ruim, Cresci, mas sem maturidade, sem desenvoltura, sem articulação para conversar, sem beleza, parecia que a alma não estava tão bem conectada com o corpo, parecia que eu teria que sempre me contentar com o pouco, parecia que o mínimo afeto era tudo o que eu teria, então aceitava, me submetia, relevava... Engravidei. Com isto tantos comentários desnecessários, olhares e risos, mas ao mesmo tempo eu agora tinha um norte. Eu tinha por quem viver. Já não me frustrava tantos abandonos, eu tinha medo do futuro, mas sabia de alguma forma que no fim daria certo. Me inseri em grupos que não me acolheram, nem ouviram, nem cessaram de me julgar. Até resolver que não dou mais legalidade pra ninguém decidir nada para mim. Abracei minha liberdade, acolhi quem sou e foquei em quem sempre esteve do meu lado. Os outros... Foram. Alguns não deveriam nem ter vindo. Jesus, está! Sempre esteve, sempre estará. Não como figura mística, mas como presença viva, que me ouve, supre e mostra por onde devo andar. Os dedos em riste, se existem eu não enxergo mais, tenho outras coisas pra me importar e pessoas pra cuidar. Jesus ressignificou minha vida.