Há dez anos não estou inserida em um rol de membros e para mim isto significa apenas que não quero estar institucionalizada, mas desvinculada da ilusão de pertencimento onde a dinâmica já não satisfaz.
Para mim não é Evangelho, chegar num lugar e encontrar sorrisos e abraços, tapinhas nas costas e cordialidade superficial, de gente que na verdade não se envolve com sua vida, não quer saber o que você vive, o que sente, as dificuldades que passa, se chora, se ri, se come, se é crente, contando que não falte nas programações da religião, tá tudo bem.
Ora, canta, repete o que mandam, ouve um sermão tecnicamente construído, cumpre uns rituais e vai embora se sentindo santificado até a próxima sessão de dopamina artificial.
Experimenta sair desse ambiente pra você constatar o que constatei. No início te chamam pra tudo, porque tem esperança que você volte e continue aceitando o cabresto. Depois, se você permanecer firme na sua decisão, recebe a placa de desviado e passa a ser visto como uma ameaça, um perigo .
Sou um tipo que nunca me envolvi com conversa fiada, chegava demonstrando meu afeto por todas as pessoas. Abraçava a todos, tinha o sorriso fácil, conversava e brincava, mas também era firme nos meus posicionamentos. Era respeitada como cristã, nunca tive nada que me desabonasse, até porquê construí o respeito das pessoas à duras penas, porque o preconceito precisou ser desconstruído. Uma mãe solteira, que constrói uma casa e se mantém, cria filho, nunca precisa de nada, é algo que destoa da "perfeição" daquele seleto grupo. Mas consegui, me ouviram e contribuí até certo ponto.
Surpreendi algumas pessoas quando quis me desligar, alguns verbalizaram, outros apenas oraram por mim, eu mesma vivi o luto porque inaugurava uma nova versão de mim mesmo, deixando uma história para trás e isso dói. No início ainda era confuso, porque eu me sentia ligada a essas pessoas. Eram uma família que eu não queria perder, mas para eles eu só tinha valor se estivesse no clube.
Com o tempo, o vínculo virou distância, os sorrisos viraram frieza, o amor deixou de existir, a companhia deixou de ser valiosa. Quando se reúnem já não me incluem, se eu convido ninguém vem. O que falo causa terror, pode ter a coerência que for, sempre um leigo vai entender e me procurar, jamais um evangélico.
O que parece família é um jogo de interesses, o que parece um povo que vive a Graça de Deus é um teatro de manipulações, o que vivi durante décadas não passou de uma grande ilusão, um devaneio que projetei por algum tipo de carência. Verdade é o que vivo hoje, devagar e sempre.
Nem sempre é fácil, sozinha eu sempre fui, mas achava que não. Agora, se eu não arregaçar as mangas, ninguém faz minha parte. Mas a desilusão é infinitamente melhor que a ilusão, porque sei o que me espera e sei em quem espero.
A verdade não é tão sedutora quanto o espetáculo forjado para iludir, mas é de fato compromisso com o Evangelho, na caminhada, de dentro para fora, consciência pautada nas palavras de Cristo, num mundo que não é simpático conosco, mas o olhar está adiante, na esperança.
Não me distraío com entretenimento para a alma, não perco tempo observando se estamos ensaiando o suficiente e nem preciso viver o esteriótipo da religião. O melhor de tudo é que não estou mais sozinha nessa forma de viver a fé. Às vezes aprendo, às vezes ensino e vamos crescendo para a glória de Deus, que sempre termina o que começou em nós.
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