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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Olhar para além

Há muito que não alimento ilusões.
De certo que aprendi a ver mais vantagem nas desilusões do que nas ilusões, porque pelo menos são verdades. Encaro o sabor amargo da vida, com todos os seus percalços, todas as suas adversidades, todas as frustrações, todas as inseguranças... contudo, quem me sustenta está adiante e eu ouço sua voz.

Não, não há ilusões. Quando olho para trás e remexo nas minhas coleções de sonhos frustrados, na falta de amor, nas tentativas vãs de encontrar felicidade nesta vida, vejo que a infantilidade dos meus sentimentos me fizeram muito mal. Não as pessoas, mas o que esperei delas.

O que o homem tem de bom para oferecer? Que esperança é esta que nutrimos uns nos outros? Por que investimos tanto tempo procurando no outro, o que pode nos suprir, se o Único que pode, porque é pleno em si mesmo, é aquele que nos chama a perseverar até o fim?

Pareço pessimista, sei. Mas não estou lamentando nada. Apenas enxergo para além do que vêem e prefiro não me juntar aos que correm atrás do vento, porque entendi que só sobrará enfado e cansaço. Aprendi a viver com pouco, com menos companhias, com poucas expectativas, com nenhuma ilusão.

Sob o prisma da carne, que nunca se satisfaz, certamente ela não se alegra em ter que viver só, sem a segurança de um bom emprego, sem o conforto de um salário justo, sem a oportunidade de gozar as delícias dessa vida, porque certamente conheço algumas.

Mas sob o prisma do espírito, que está pronto e segue para o alvo, a consciência de que sou uma privilegiada, chamada para ser luzeiro na vida de meus irmãos é o que me conduz para adiante. Não há tempo para correr atrás do vento, há pressa para chegar vencedora em meu destino.

Peregrina em terra estranha, não poucas vezes mal recebida. As palavras que tenho, não são amadas por todos e como forasteira, muitas vezes não tive onde recostar a cabeça. Mas há propósito, sou serva designada por meu Senhor, a ir anunciando que Ele voltará.

Meu Senhor não é o meio de conseguir coisas. Ele é o meu destino, o objetivo porque caminho, o alvo onde quero chegar. Quem me alimenta é sua Palavra, quem me sustenta é o espírito e vida que vem dela. Sem o amado da minha alma eu não vivo. Minha esperança não está em dias melhores, mas adiante, na vida que terei na minha Pátria.

Os sonhos tornam esta vida possível, mas só a esperança torna esta vida suportável. Enquanto correm atrás do vento cada vez com mais pressa, eu olho para o Monte e digo vem, Senhor, vem!

1 Coríntios 15:19 "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens."


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sobre o amor na tricotomia

Neste post, pretento transcrever o que tenho meditado nestes dias, sobre o amor em seus três tipos distintos, tão melhor percebido pelos gregos do que por nós. Se por aqui temos que nos virar com uma única palavra amor, que pode significar muitas coisas, nos textos bíblicos é possível identificar o amor em cada uma de suas fontes.

De qualquer forma, o amor é um impulso na direção do outro.

Em Eros, o mais egoísta dos três tipos de amor, é o que liga um corpo ao outro, não necessariamente entre um casal, mas mesmo entre amigos, quando há toque, abraço, beijo. É estreitamente ligado ao prazer, porque desperta os sentidos do corpo, que busca satisfação. É troca, mas se prioriza o próprio desejo.

Em Philos, é a alma que é despertada, com sua sede de troca. Com o mesmo ímpeto que doa de si, quer receber na mesma medida. São afinidades, são necessidades que complementamos uns com os outros. O que falta em um, o outro supre. Mas não é amor incondicional, pois perdemos o interesse quando não nos correspondem na mesma medida. Investimos, mas esperamos retorno.

Ágape é doador. Não se prioriza e nem busca a própria satisfação. É o amor despertado no espírito, é sublime, é incondicional. E quanto menos possibilidade há de retorno, maior o grau de amor. Jesus amou assim, se dando por quem estava perdido. Negando-se em favor de quem nada poderia retribuir. Amor puramente espiritual.

Assim, respectivamente Eros, Philos e Ágape, são próprios do corpo, alma e espírito. Para quem não entende muito bem como distinguir a constituição humana, penso da seguinte forma:

Percebo o espírito como uma espécie de cordão umbilical, que faz parte da mãe, mas que alimenta o filho em formação. O espírito é sopro e não parte do homem, é o que possibilita nossa sensibilidade espiritual, a intuição das coisas invisíveis, o relacionamento com Deus propriamente dito. É de Deus e volta para Ele quando expiramos.

Estamos assentados nas regiões celestes em espírito e de lá rebemos a revelação. O Espírito se comunica com nosso espírito (ou com este canal que faz a transcendência entre o sublime e o limitado.

Corpo é uma capa de pó e alma é nosso HD com todos os registros do que somos e adquirimos. 

É assim que Deus revela ao meu entendimento, a constituição humana. Isto sem que seja necessário esquartejar nada, porque é patente a função de cada nuance do homem.

O espírito tem sua função enquanto Deus nos edifica. Quando nosso edifício celeste estiver terminado, seremos imagem visível de Deus em Cristo. Enquanto nos negamos aqui e crescemos alí, o espírito, tal como o cordão umbilical, nos dá crescimento enquanto nos purifica dos "produtos de eliminação" igualzinho no ventre.

É um canal e não a parte mais importante em detrimento às outras. É ambiente propício para o Espírito Santo habitar.

Enquanto o homem é carnal, Eros e Philos alternam as posições em seus relacionamentos. Na medida em que se torna espiritual, é Ágape que toma o governo e a decisão de se doar passa a ser prioridade.

sábado, 22 de novembro de 2014

Culto racional

"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Romanos 12:1

Ouvi ontem uma reflexão sobre culto racional, onde o preletor dava ênfase à purificação do corpo, citando inclusive a prostituição, adultério e masturbação. E enquanto ele falava sobre estas coisas e sobre a tricotomia, fiquei pensando no prisma como leio o versículo. Interessante como cada um tem uma percepção diferente do mesmo texto que lê. Eu o entendo da seguinte forma:

O culto que saciou a Deus de uma vez por todas, foi realizado por Jesus na Cruz, não restando para o homem nenhum outro tipo de culto, sacrifício e ritual que agrade a Deus. Foi o que Jesus realizou, que Deus enxerga quando nos olha, pois Ele faz esta mediação entre nós.

Assim, o culto que nos cabe, não é o que chamamos de culto na igreja. Aqueles acontecimentos servem para nos unir e não para cultuar a Deus. O culto que devemos oferecer é por meio do corpo, através dos sentidos, nos encontros, no ato de amar e servir ao próximo. É racional porque acontece por meio da consciência de ser separados para o uso de Deus.

Pelo que entendi da pregação, a ênfase à purificação do corpo foi no sentido de não pecar. Mas como é impossível ao pecador viver sem pecado, não creio que o texto trata disto. Pelo que entendo, cultuamos por meio do corpo, porque é por meio do corpo que transformamos o amor em ação. Culto racional acontece, quando fazemos escolhas que agradam a Deus com relação ao próximo. Eu ia até comentar sobre este prisma ontem, mas achei que atrapalharia o raciocínio do meu amigo.

O que chamamos de culto não é culto. Só é possível cultuar por meio do amor e concretizando-o por meio do corpo.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O amor nos regenera

João 3:16 "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a Vida eterna."

A Vida de Cristo se manifestou aos filhos de Deus, dando-lhes vida.

Primeiramente, gostaria de meditar com os irmãos sobre o que é o amor. O mundo romanceou a palavra amor, de forma que conseguiram banalizar seu significado. Hoje se apelida qualquer sentimento com a palavra "amor", mas nem tudo o que se chama de amor, é de fato amor.

Como a Palavra nos diz que Deus é amor e não que Ele apenas possui amor, concluo que o amor é a sua mais pura essência e não um mero sentimento. Essência que o impulsionou à uma ação que manifestou este amor ao mundo. Um ato amoroso, a concretização de algo, uma doação de si mesmo em favor dos homens.

Quando Jesus disse que quando fazemos algo aos seus pequeninos, estaríamos fazendo à Ele, estava dizendo que o amor só se torna real no ato de amar e Ele escolheu ser amado no nosso próximo. Não de palavras, mas em verdade, com ações reais e sinceras.

Uma vez que o amor de Deus transcendeu na direção do homem, este homem está apto à emanar o amor na direção do próximo, porque a essência de Deus está nele e jorra dele. Esta é a evidência de que o homem foi vivificado com a Vida de Cristo. Você crê que recebeu em si a Vida de Cristo? Sua essência é o amor?

Efésios 2:1 a 3 "E vos vivificou, estando vós mortos em delitos e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência."

Tal como os que ainda estão dominados pela concupiscência da carne, estávamos nós arrastados pelo curso do mundo, que assim como num rio, arrasta tudo o que cai em suas águas. Não há escolha para um objeto sem vida que cai num rio. Inevitavelmente ele segue o curso das águas. Assim são os filhos da desobediência. Quem dita as ordens são os maus pensamentos e os desejos da carne. Assim éramos nós, quando estávamos mortos, filhos da desobediência, filhos da ira, inimigos de Deus.

Mas Deus é riquíssimo em misericórdia. Ele colocou o coração na nossa miséria. Pelo muito amor que nos amou, estando nós mortos, Ele nos deu Vida de sua Vida, nos colocando assentados nas regiões celestiais, porque agora quem vive em nós é Cristo e é esta Natureza divina em nós, que sujeita nossa velha natureza carnal, de forma que já não somos mais arrastados pelo curso do mundo, mas seguimos na direção oposta, com os olhos fixados em Cristo e vivendo o amor que recebemos primeiro.

Fomos salvos de nós mesmos, da morte em que nos lançamos quando vivíamos em desobediência. Recebemos a Vida no maior ato de amor, porque não poderíamos lhe retribuir. Não vivemos nós, mas Cristo vive em nós.

Este ato de regeneração só pôde acontecer porque Deus amou o mundo e enviou a Luz para nos iluminar e dissipar as trevas. A fé que vem pelo ouvir a palavra, é como receber a iluminação e passar a enxergar a própria miséria, assim, a Graça nos salva, porque abriu nossos olhos por meio da fé e passamos a ver a Luz e a refletí-la ao mundo.

Os que antes estavam mortos, precisaram nascer de novo, para receber de Cristo a Vida. Como se deu isto?

Romanos 6:6 "Sabemos isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos o pecado como escravos."

Efésios 4:22 a 24 "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; E vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade."

É um ato de fé, crer que o velho homem já foi crucificado com Cristo. Mas a velha natureza morre aos poucos. Despojar e revestir sugerem um processo. Nos despirmos da velha natureza, para que possamos nos revestir da nova. A Noiva está sendo ataviada para encontrar o Noivo.

Relembrando, a regeneração é o dom da Graça de Deus, realizada em nós pelo Espírito Santo. É este processo de mudança de natureza, cujo principal efeito é nos salvar de ser arrastados pelo curso do mundo, das trevas, da morte espiritual, mudando a disposição da nossa alma à direção oposta, inclinando nosso coração à Deus e sua Vontade.

Nascer de novo, não é o dia em que ouvimos um apelo e resolvemos levantar a mão. E também não é o dia em que fomos inseridos num rol de membros. Nascemos de novo quando despertamos para nossa condição de miséria e entendemos que sem Cristo, nada podemos fazer e assim, confiamos que Dele procederá toda a transformação necessária, pois Ele que nos amou , a completará.

Romanos 8:1 "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito."

Não basta dizer "sou de Cristo" "estou em Cristo". Há uma característica manifestada na vida dos que são. Eles não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Cristo só é Salvador, daqueles de quem também é Senhor.

E você, consegue distinguir entre estas duas direções distintas? Você vai no curso do mundo, ou vive pela Vida que recebeu de Cristo por causa do amor do Pai?

sábado, 25 de outubro de 2014

Compartilhando uma experiência






Terça feira, depois de sair do supermercado, parei no semáforo para esperá-lo fechar. Ele fica próximo à uma banca de revistas, onde também tem um poste. Como é um cruzamento difícil e eu vi que de um lado não vinha carro e do outro vinha um ônibus com certa distância, pensei: "Dá tempo de atravessar" e fui.

Ao chegar do outro lado da avenida, o ônibus que eu tinha visto, bateu na banca e parou no poste. Imediatamente o poste pegou fogo, os cabos de alta tensão arrebentaram e entraram em curto, caíram pela rua, enquanto dentro do ônibus as pessoas gritavam desesperadas e as pessoas na rua corriam para socorrer. Ficou tudo escuro e eu estática do outro lado da rua, pensando que por uma fração de menos de um minuto, eu poderia estar morta.

Teoricamente, eu estava em segurança, pois esperava o sinal fechar. Mas se não fosse o impulso de atravessar com ele aberto, eu poderia ter sofrido um atropelamento ou uma descarga elétrica que não me daria chance nem de ser socorrida.

Foi um susto bem grande, mas graças a Deus, não houveram mortes neste acidente e dos cinco passageiros feridos, só um precisou ir ao pronto socorro. Eu fui pra casa bem assustada ainda e durante esta semana, refleti em algumas coisas.

Se me perguntarem se tenho medo da morte, eu diria que não. Se perguntarem se quero ver o Senhor, é a coisa que mais anseio. Mas se perguntarem se quero sofrer um atropelamento ou ser eletrocutada, a resposta é claro que não. Isto, porque o autor da vida, nos deu o instinto de preservação dela. Sem este instinto, nos tornaríamos suicidas na primeira crise existencial.

Mas falando racionalmente, a hora que o Senhor me chamar, é isso mesmo. Sei que não tenho raízes nesta vida, nem ninguém que dependa de mim. As pessoas que sentiriam minha falta, sentiriam porque gostam da minha companhia e não porque precisam de mim.

Este episódio me fez pensar na brevidade da vida, em como somos vulneráveis e como nada depende de nós. Num minuto estamos aqui e no outro, podemos não estar. Então, será que as coisas que empurro com a barriga, ficarão inacabadas? Preciso repensar algumas posturas.

Também pensei em conceitos que são teóricos, mas que após um evento desses, se tornam experiências reais, como: Deus tem o controle de todas as coisas. De fato, vi com meus próprios olhos, que Ele domina minuto a minuto, pois não sei se gastei um minuto atravessando a rua, o que sei é que dentro de um minuto, Ele me tirou do lugar de risco e colocou num lugar seguro.

E se me livrou da morte, deve haver algum propósito. Sou uma pessoa que tem o privilégio de falar sobre o Evangelho todos os dias, mas será que isto é tudo o que posso fazer? Será que o Senhor espera mais de mim, será que preservou minha vida para que eu cresça mais e viva melhor?

Outra particularidade, é que meu pai morreu exatamente assim. A cena diante de mim, foi como uma viagem no tempo, a diferença é que meu pai ficou imprensado entre o ônibus e o poste, enquanto o curto impedia as pessoas de se aproximarem. Seria um choque enorme pra minha família, se me perdessem da mesma forma. Um mistério que não vou conseguir entender agora.

Por fim, o Senhor tem se agigantado em mim. É maravilhoso mergulhar no Evangelho e ajudar a edificar pessoas, enquanto eu sou edificada por outras. Melhor ainda é a certeza de que Ele está comigo o tempo todo, como prometeu, até o fim, porque o viver é Cristo e o morrer é lucro.

sábado, 18 de outubro de 2014

Ali eu estou no meio deles





"Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus. Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles".



Bem sabemos que o Senhor está conosco todos os dias, até a consumação do século. É Ele o nosso Bom Pastor, que vai-nos guiando, orientando, conduzindo, cuidando, de forma que nem se cairmos num abismo, ele nos permite ficar lá, pois não nos abandona.

Sabemos que o nosso quarto é o melhor ambiente para conversar com Ele, pois alí não é possível forjar máscaras, nem escolher palavras que impressionem os homens, nem estar em evidência numa reunião, pois o Senhor sondará o interior e Dele nada pode ficar oculto. No quarto ou em qualquer outro lugar onde oramos sós, somos de fato nós mesmos, derramando diante do Senhor a nossa verdade e entrega.

Mas há uma forma de reunião, onde Ele garantiu que estaria presente. Não apenas porque é um ajuntamento humano, pois se fosse assim, o mesmo seria num estádio, num ônibus, numa festa, numa feira, onde certamente se encontrarão vários cristãos.

Mas a decisão de nos reunir em Nome do Senhor, é o que nos faz um Corpo. É quando nos reunimos como Igreja, que tornamos possível a presença física do Senhor. Assim, quando um membro se liga ao outro, por meio de intercessões, por meio de tomarmos a dor uns dos outros, de nos alegrar uns com os outros, de compartilhar juntos e aprender a Palavra, de nos edificarmos uns aos outros... é quando o amor circula no nosso meio, como o sangue circula num organismo, é que o Senhor se faz presente como o Senhor da Igreja.

Como Corpo, comemos juntos, estreitando os laços de comunhão, como Corpo trocamos afeto e palavras de consolo, como Corpo nos encorajamos a prosseguir perseverando, como Corpo nos exortamos, nos suportamos uns aos outros, como Corpo nos tornamos UM no Senhor, que é o Cabeça de todo o Corpo.

Geralmente quando oramos sozinhos, nos empenhamos em colocar diante de Deus as nossas próprias causas, mas o Senhor está falando do que será feito, quando estes que se reúnem no Seu Nome, se unirem num mesmo propósito de oração, quando concordarem em algum assunto diante Dele.

Estarmos reunidos como a Igreja do Senhor, é um grande privilégio para nós e é do agrado do Senhor que assim seja, pois sozinhos não somos Corpo, sozinhos não fazemos circular entre nós afetos de misericórdia, sozinhos, corremos o risco de nos tornar egocêntricos, atrás de nossos próprios interesses.

O Senhor está verdadeiramente presente quando somos UM.


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Triunidade humana

À imagem e semelhança de Deus, o homem é criado triuno. Formado à partir do pó da terra, recebe nas narinas o fôlego de vida e assim torna-se alma vivente. Porque a vida de Deus está nele, relaciona-se como amigo e coopera com Deus, na administração de toda a criação. Experimenta a vida à partir dos sentidos porque é da terra, mas submete-se à Deus porque é Dele. Toda a sua capacidade de sentir, raciocinar e desejar está sujeita à Deus, que relaciona-se com ele sem intermediários, pois seu espírito faz este elo perfeito.

Mas o ser que nos caracteriza como indivíduos, nos lembra o tempo inteiro das nossas faltas e necessidades. No caso de Adão, ele precisava de uma companheira e a alma dava sinais de tristeza e insatisfação. Então, manifestou sentimento, vontade e razão para ter uma companhia. Até aí, a forma do homem era saudável: O instinto se submetia à vontade, que se submetia à vontade de Deus. Ou seja, o espírito governava tanto a alma, quanto o corpo. Assim, o homem esperou o tempo de Deus para receber a sua esposa.

Assim, o homem criado se relacionava com Deus, com intimidade, porque estava organizado de maneira correta. Criado do pó (corpo), recebeu nas narinas o fôlego de vida (espírito) e se tornou alma vivente (alma, ser único, indivíduo).

Ao pecar, o homem deixou de ser governado pelo espírito, que já não vivificava o corpo, pois foi mortificado pela escolha consciente (atributo almático).

Por que o homem convertido, é um homem que nasce de novo? Porque é necessário que morra na Cruz, para receber a Vida de Deus em si novamente. Assim, o espírito é restaurado ao estágio original e a alma é que passa a ser mortificada de forma que todo o ser seja aperfeiçoado em Cristo, espírito vivificante.

A velha criatura morre e ressurge reorganizada. O instinto do corpo e a cobiça da alma, já não escravizam o homem, que passa a ser governado pelo Espírito de Deus em seu espírito. Uma espécie de educação que devolve ao espírito o seu lugar, para que as escolhas do homem, entrem em sintonia com a revelação de Deus.

Para melhor entender, gosto de usar o ovo como analogia. Para ser ovo, precisa ser o todo: casca, claro e gema. Os três elementos juntos é que formam o ovo. Assim somos nós, corpo, alma e espírito formam um único indivíduo e não há parte menos importante, apesar de cada uma ter sua função distinta.

Tal como a casca, nosso corpo é uma espécie de embalagem que guarda o que de fato somos, a alma com toda a sua individuação. E o âmago do ser é o espírito, que sustenta todo o restante, pois é a vida de Deus no homem.

A velha natureza é alma vivente e Deus a chama de mortos em delitos e pecados, pois o espírito está apagado, impedindo um relacionamento com Deus. A nova natureza restaurada em Cristo, religa o homem à Deus, tornando-o espírito vivificante, pois carrega em si a vida de Deus, refletindo Cristo, emanando por onde vai, como luzeiro na vida de muitos.

Os anjos são espíritos, por isso se relacionam diretamente com Deus. Nós, porém, por estarmos encerrados num corpo, precisamos de Jesus Cristo homem, para mediar nosso relacionamento com Deus.

O espírito não é propriamente nosso, como a alma (individuação) e o corpo (instrumento individual), pois volta para Deus que o deu, quando morremos. O corpo se deteriora e a alma é a parte de nós que sofrerá transformações durante a vida. É ela que alcançará a estatura de varão perfeito. Ela é aperfeiçoada, enquanto o corpo se corrompe.

O espírito portanto, é como o cordão umbilical que liga à placenta, que dá vida e sustenta até que a criatura esteja pronta para a eternidade. É uma espécie de canal que nos liga à fonte de Vida. É o que nos torna sensíveis para assimilar as revelações espirituais.

Deus é Espírito e soprou de si no homem para vivificá-lo. Com a conversão, Ele nos dá um novo espírito, pois o pecado havia nos lançado nas trevas e antes de crer, estávamos mortos (mortificados para perceber Deus, desligados Dele). Cristo ao nos vivificar Nele, restaura a ordem correta do ser. Assim, andando pelo espírito, temos condições de conhecer a revelação de Deus, pois o Espírito se comunica com nosso espírito.

Um ser almático (governado à partir da alma), não assimila as coisas do Alto. Um homem almático, sempre se baseará pelo raciocínio, emoção e vontade própria. Portanto a conversão produz em nós, a restauração do governo espiritual, assim, tanto a alma se submeterá, negando a si mesma em favor de um propósito maior, quanto o corpo concretizará obras concernentes à vontade de Deus.

Um homem que negue esta estrutura triuna, terá dificuldades em assimilar a voz do Espírito Santo, pois procurará compreender com assimilações mentais, o que só pode ser discernido espiritualmente. O homem espiritual está atento ao que vem de dentro para fora. E não precisa tanto do que vem de fora para dentro, como os estudos sistemáticos.

O homem regenerado, tem domínio sobre o que pertence à velha criatura, pois por meio de seu espírito, conhece o que Deus tem para ele. A alma não pode governar, pois levará o homem a se afastar da Luz e mergulhar nas trevas. O corpo não pode governar pois é instinto. 

Louvado seja Deus que nos regenera em Cristo, para que por meio Dele em nós, conheçamos a Sua vontade e a vivamos para a Glória Dele mesmo.



segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre um Deus atemporal

Saber que Deus não está sujeito ao tempo que Ele mesmo criou, é fundamental para compreender o que somos em Cristo. Assim, mudam os conceitos que usamos na oração, no processo de santificação, na compreenção da revelação bíblica, na identificação de heresias e doutrinas estranhas, etc.

Entender que o Cordeiro foi imolado ANTES da fundação do mundo, nos garante que Deus realmente nos amou primeiro, mesmo antes que houvesse no mundo cada um de nós. E em Si mesmo garantiu que fôssemos salvos, santificados, cooperadores de Seu Reino e aperfeiçoados no Seu amor.

Assim, minha oração não gira em torno da minha vontade, como se Deus estivesse inerte, esperando que eu o peça para agir. Antes, abro mão do que quero e peço para encontrar a sintonia com Sua Vontade e que ela me satisfaça.

Conhecendo que sou Dele, desde antes de ser gerada, compreendo que embora dentro do tempo, as minhas escolhas dependam de mim, sei que longe dos domínios do tempo, Ele me viu, me atraiu, me conduziu e me recebeu vencedora.

Assim como creio que o sacrifício do Cordeiro na Cruz, me redimiu da minha culpa, mesmo que tenha sido consumado no tempo há mais de 2000 anos, creio que minha carne também estava naquela Cruz, sendo necessário que morresse, para que Cristo vivesse em mim.

Ainda que dentro do tempo, eu a perceba vivíssima e carecendo do meu domínio sobre ela, sei contudo que quem a sujeita é o Espírito Santo e não eu. O trabalho é todo Dele e esta é minha única e suficiente garantia, de que vou chegar naquele Dia, apta a entrar na Pátria que Ele preparou.

sábado, 27 de setembro de 2014

O selo que garante o crente

Ontem eu conversava com uma moça, que resolveu separar 6 meses de sua vida para buscar a Deus e se consagrar. Era nosso terceiro encontro e desde o primeiro, viemos conversando sobre a fé, sobre nossas experiências com Deus e com a Igreja. E tem sido edificante para nós duas.

Ela veio de Guiné Bissau onde estava trabalhando em missões, marcada por uma decepção. Dizia que esperava perseguições dos de fora, mas foi surpreendida por conspirações, injúria e complôs dos que faziam parte do grupo. Esse filme já assisti muitas vezes e eu mesma já vivi experiência de perseguições dos que são de "dentro" e sofri bastante até compreender que o joio está alí para sugar a força e energia do trigo, para que ele não frutifique. Quem não é de fato um servo que vive segundo as orientações do Cabeça que é Cristo, de forma alguma acolherá seus membros. E o processo é sempre o mesmo, primeiro vem uma grande decepção, para depois vir o amadurecimento.

Naquilo em que posso ajudar, estou disponível, mas ontem ela falava de manifestações sobrenaturais e eu apenas ouvia. Ela percebeu que não me empolgo com o tema e fez perguntas diretas, onde tive que me posicionar. Percebi que ela ficou um pouco frustrada, tentando me convencer de algo que não faz sentido para mim.

Respondi apenas que as experiências dela com Deus, são para ela. E as minhas são para mim. Ele age com cada filho de forma única, por isso não conseguiremos uma conexão perfeita com ninguém. Não precisamos ter 100% de sintonia para nos amar e respeitar naquilo em que vivemos. Como estávamos nos despedindo quando o assunto entrou nesses termos, penso que ele vai continuar no próximo encontro. É muito chato ter que confrontar o que considero infantilidade, numa pessoa que se enxerga espiritual por "viver" experiências sobrenaturais.

Para mim, a mente humana é capaz de criar situações, ilusões, viagens na maionese, de acordo com os ambientes que se escolhem viver. Tomamos a forma dos grupos que escolhemos com muita facilidade. Somos persuadidos o tempo inteiro, somos influenciáveis, sugestionáveis e de fato, todos acreditamos que as experiências são de fato autênticas. Então, sei que vou passar por momentos desagradáveis tentando expor o que penso a respeito.

Quando vejo esses templos de ouro, onde os sinais e manifestações sobrenaturais são mato. E em contraste vejo a falta de pão em aldeias de homens simples, percebo o quão distorcida é a ideia de uma espiritualidade saudável.

Espiritual para mim, não é o místico que fala em línguas, dança e cai no espírito, mas aquele que ama, que acolhe, que não tem dificuldade com o perdão, que age com sabedoria, que lê e encontra clareza na revelação do Evangelho. Estes não precisam de nada que chamem atenção para si, apenas caminham como servos de Cristo, obedecendo as ordens de seu Senhor. Estes que são luzeiros na vida de muitos, sabendo que refletem tão somente a Luz de Cristo e não há mérito humano nisto.

Os dons... ah, os dons! Conforme o formato da Igreja vai mudando, os dons também acompanham estas mudanças. As necessidades do mundo são outras, o Evangelho avança de várias formas e o que a instituição transformou em doutrina, na prática já se extinguiu. Assim, se no início eram necessários Apóstolos, Profetas, Mestres e etc. Porque a mensagem precisava ser espalhada, hoje a necessidade é acordar os que se deixaram escravizar novamente, os que entregaram suas inteligências à homens astutos e covardes.

Amor! Este é o selo que nos separa para Deus. E uma vez alcançados por este amor que transcende e nos marca como propriedade Dele, recebemos também a capacitação para encaminhar este amor por onde passamos. Até quando veremos gente enrolando a língua, manipulando as outras vidas com supostas profecias, gente rodando, caindo, pulando como surtados num centro de macumba, se dizendo espirituais? Estes mesmos "irmãos" que não se comovem com a dor do outro e que continuam tão rasos e vazios como sempre foram.

Compreendo a infantilidade porque já fui menina. Houve um tempo em que me deixei levar por muitas influências desse tipo. Estava mal orientada, estava no lugar errado e confundia o que ouvia com Evangelho. Mas nas minhas orações, sempre pedi a Deus sabedoria e sempre pedi para perder as escamas dos olhos. Quando vi que estava entrando por um caminho sedutor e que este mesmo caminho era alimento para a vanglória, pedi libertação. E de uma hora para outra, comecei a enxergar que aquelas visões, presságios, sonhos, eram influências enganadoras e nada tinham do Evangelho. Deus me libertou, me revestiu de coerência. Hoje eu não preciso e nem quero manifestações sobrenaturais na minha vida. Deus fala e sempre falou ao meu coração com simplicidade e clareza, como o Senhor falava aos seus discípulos.

Para ilustrar um pouco o que estou dizendo, me lembrei hoje de uma experiência que vivi. Em 1996 conheci uma mulher grávida, que tinha uma bebê ainda de colo. Conversando com ela, descobri que o pai das crianças estava preso, ela passava necessidades e a situação era desesperadora. Me lembro que a apoiei e orei com ela algumas vezes. 15 anos depois, entrei numa loja e eis que a reconheci. Meu coração se alegrou, como se eu estivesse diante de uma grande amiga e eu agradeci a Deus aquele momento que encheu meu coração de gozo. Conversei com ela e claro que ela não se lembrava de mim, mas me deu notícias das meninas, que estavam adolescentes, estudavam e estavam sendo criadas na igreja, enfim, as notícias me alegraram muito.

Comentei sobre este encontro onde congrego e minha voz embargou, pois me emocionei. Alguém disse "ela crê que Deus ouviu a oração dela". Não entenderam nada! Quanta gente orou por ela? Pouco importa se Deus ouviu a minha oração ou a de outro. Não foi o que eu fiz, foi o que Ele fez, que me emocionou. Além de cuidar das necessidades daquela mulher, Ele cuidou de me dar notícias. Era como se dissesse: "Seu coração se moveu na direção desta irmã, eu cuidei e quero que você saiba disto". Deus é surpreendente e a Glória é toda Dele.

Assim, a manifestação que quero para mim é esta: que eu possa ser cada dia mais vazia de mim mesma, para ser cada dia preenchida pelo amor que vem de Deus. Que eu possa negar minha vontade que na maioria das vezes vem carregada das minhas cobiças, para que eu possa encontrar e me contentar com a Vontade de Deus, que é sempre boa, perfeita e agradável.

Que não haja manifestação alguma, que me diferencie de qualquer um, mas que o Senhor não cesse de me aperfeiçoar o caráter, até que eu chegue à estatura de um varão perfeito. O vínculo da perfeição é o amor e é este dom que eu desejo buscar incessantemente, até que Ele venha.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quando a dor produz crescimento




Eu não conheço uma pessoa sequer, que tenha sido aperfeiçoada na fé quando estava tudo bem, na mais perfeita paz. Mas são inúmeras as experiências de crescimento em meio a dor. Não a dor em si, mas a maneira de lidar com ela. O sofrimento é caminho que ninguém quer escolher, embora ninguém tenha como escapar dele.

Não digo a quantidade de sofrimento, mas a resignação que impulsiona a responder com amor à investida do mal.

Gosto sempre de lembrar das minhas experiências e localizar nelas o que recebi de Deus. Penso que tudo o que vivi, me ensinou algo e se me ensinou, devo usar para testemunho.

Quando ainda era criança, fui desenganada e sobrevivi. Então, este livramento marcou o início da minha fé, pois sempre vi a mão de Deus sobre mim. Aos vinte anos, depois de muitas decepções, traumas, medos e desilusões, reconheci diante de Deus que não era capaz de cuidar da minha própria vida. Me vi nua, doente, suja, sozinha e infeliz, completamente dependente Dele.

Foi quando tomei consciência de que deveria buscá-lo, pois sabia que não poderia mais viver sem um relacionamento com Ele. Embora eu tenha tentado voltar atrás, vi que já não podia. Estava condenada a depender do amor de Deus. Estava faminta e sedenta para aprender mais sobre Ele.

Anos depois, diante da traição, do engano, da perda, da vergonha, da consciência da condição humana, me vi forçada a me desprender da religiosidade que cega. Foi quando me enxerguei como sou. Houve um despertar que aniquilou com meu orgulho.

E depois de um longo período de sete anos, sofrendo toda a sorte de perseguições dentro de grupos que se diziam cristãos, depois de ataques, humilhações e falsas acusações por causa do Evangelho que há em mim, trilhei o caminho da perseverança, esperança e amadurecimento, me despindo de vez, de todos os conceitos antes construídos, para enfim viver a leveza do Evangelho simples, no amor de Cristo.

Olho para trás e vejo Deus em cada uma dessas ocasiões. Logo, não é a dor em si que frutifica para o bem, mas o amor que sustenta e guia no Caminho. Assim, as perseguições produziram orações por quem me perseguia. A traição produziu perdão. O ataque acabou gerando misericórdia, pois que miséria é viver sem Deus! O vazio, o medo, a doença, a dúvida, gerou dependência e entrega.

À exemplo de Jesus que no momento em que estava sendo assassinado, orava pelos assassinos, que não sabiam o que estavam fazendo. Assim age os que são do Evangelho. Não com vingança. dureza de coração e revolta contra Deus, mas com amor de Cristo, que nega a si mesmo, até as últimas consequências.

Tem gente que sofre tanto e repete as mesmas situações de sofrimento enquanto vivem. São pessoas que deixam o amor de lado e agem com egocentrismo, se afastam de Deus e do próximo, porque se priorizam. Estes permanecerão atrofiados e amargurados. 

Mas aquele que aprendeu a amar, se verá como um bem-aventurado, que quanto mais é espremido, mais derrama do melhor azeite. Que quanto mais é pisado, melhor vinho sai de si. Que quanto mais lapidado, mais exposto está o seu âmago virtuoso e quanto mais é sovado, melhor massa se tornará nas mãos de Deus. Que depurado, ganha valor. Que refinado, se purifica. E que enxertado em Cristo, já não é jambuzeiro bravo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Se morremos, porque ainda temos que mortificar a carne?




Olá amados seguidores deste blogue, quanto tempo! Ando bastante atarefada pois tenho aproveitado a oportunidade que surgiu para estudar, ler e aperfeiçoar o dom de mestre que o Senhor me deu. É uma espécie de curso, com matérias de seminário, com intuito de facilitar minha vida no preparo de mensagens, técnicas para treinar a oratória, enfim, ainda estou fazendo aula de grego. Tenho alguns livros esperando na fila, mas há de dar tudo certo :)

Há tempo para tudo nessa vida e confesso que não tenho sentido vontade de escrever. Algumas pessoas andaram insistindo para que eu transformasse minhas reflexões em literatura e isso chegou a me entristecer, pois nunca foi minha intenção comercializar o que Deus me dá de graça. Me dedico há anos na desconstrução de conceitos religiosos, escapando do esteriótipo evangélico da atualidade, nadando contra a correnteza que arrasta o sistema religioso no curso deste mundo, combatendo as formas, o comércio gospel, as ideias calcificadas e pregando o Evangelho na sua simplicidade. E parece que as pessoas não entenderam muito bem minhas propostas.

Então, escrevo pequenas reflexões e posto na minha rede social, mas perdi um pouco o interesse em atualizar o blogue frequentemente. Usei o período para aprender mais, para treinar a habilidade para lidar com pessoas no tete a tete. Afinal, fui chamada para cuidar de gente, mas sempre que der, volto aqui para deixar alguma reflexão.

Ontem estava pensando no mistério de estar cruscificada na Cruz, morta com Cristo e ressurreta Nele. Segundo Colossences 3, morremos em Cristo, mas a carne precisa ser mortificada na escolha de ocupar o pensamento com as coisas do Alto, abandonando as práticas concernentes à natureza antiga.

Então eu pensava: se estamos mortos, porque ainda temos que mortificar? E o Senhor me ensinou que olhando por Sua perspectiva eterna, atemporal, a Obra redentora consumada em Cristo desde antes da fundação do mundo, estabeleceu minha situação eterna. Agora estou cruscificada Nele, para herdar com Ele a Vida. Da mesma forma que creio que Sua morte levou sobre si a minha culpa, sendo suficiente para me religar à Deus, preciso crer que minha carne morreu, embora a perceba tão viva.

Sob a perspectiva humana sim, ela morrerá enquanto se caminha no crescimento, até a estatura de varão perfeito, de glória em glória e de fé em fé, na renúncia e no aperfeiçoamento do amor de Cristo em mim, de forma que eu sirva e veja o outro como extenção de mim mesma. Um longo e penoso processo de mortificação.

Mas mesmo isto, quem realiza em mim não sou eu. O preço foi pago e tudo consumado em Cristo. O que serei no fim de tudo, já foi conquistado desde a eternidade. Nossas escolhas são veredas que o Senhor preparou de antemão para que andemos por elas, logo, só cumpro o que devo cumprir, porque sou Dele e Ele é meu e ninguém pode me arrebatar de Sua mão.

Embora a minha carne me pareça tão viva e tão nociva quando conspira contra mim e contra o que meu espírito deseja, ela está condenada a definhar e desaparecer. E morrendo esta natureza antiga, a nova vai se renovando, até que eu seja plena em Cristo. Assim, vou crescendo enquanto vou diminuindo :)

Deus é lindo! Eu o louvo por tamanha revelação! Apesar de conhecer minhas tendências e reconhecer o que sou, sei que estou segura eternamente, porque Nele sou herdeira e um herdeiro só precisa esperar até tomar posse do que herdou. Se ninguém me arrebata de Sua mão e se Ele mesmo não me lança fora, à que temerei?

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Num bate-papo informal - sobre inferno

Em algumas conversas com um amigo, temos abordado alguns assuntos interessantes. Como desejo relembrar destes bates-papos num outro momento, vou registrá-los aqui, assim compartilho também com vocês de algumas ideias que defendo nessas conversas. Não vou transcrever a conversa, apenas registrar o que penso a respeito.

O assunto era o inferno e eu comecei dizendo que chamava minha atenção, que os ouvintes de Jesus não se surpreendiam com a ideia de inferno, justamente por conhecerem o Geena, lugar onde se lançavam animais mortos, lixo e onde havia fogo e enxofre. Ninguém se escandalizava com a condenação, até porque só foram ter a plenitude da revelação para entendê-la, quando receberam o Espírito de Cristo, após a ressurreição. Antes disto, viam o Messias como alguém que fosse libertar Israel naqueles dias e não tinham alcance para discernir espiritualmente aquelas coisas.

O que Jesus falava, era compreendido como algo do cotidiano deles. E a ideia de inferno como lugar de tormento, veio muito posteriormente.

Segundo a própria Bíblia, o inferno não é eterno, mas será aniquilado no lago de fogo. Pra mim, soa incoerente que alguém receba um corpo incorruptível para condenação, pois esta carne é pó e não consta que a alma tenha forma e seja combustível. Enfim, pra mim, este é mais um assunto manipulado pela religião, para domínio e controle através do medo e acusação. A ideia de inferno como lugar de condenação que o ocidente tem hoje, é uma influência da "Divina Comédia" de 1302.

Uma vez conversei com outro amigo sobre a visão adventista, que crê no inferno como evento e não como lugar de tormento eterno e ele considerou que assim é muito fácil, porque o camarada pode pecar a vida inteira deliberadamente e no final ser "só" aniquilado da existência. À ele pareceu uma pena leve demais rsrs

Na minha visão é assim (por enquanto). O perdão veio antes do pecado. Deus nos conheceu por presciência e nos separou para si com tudo o que somos, inclusive com nossa história de pecados. Sabe o que nem cometemos ainda, mas não nos despreza porque até nossos erros tem propósito nesta caminhada de crescimento Nele.

Só não será aperfeiçoado quem o desprezar, quem rejeitar o Evangelho, quem perder a confiança nas promessas da ressurreição. Estes serão separados e não voltarão a viver. Fogo consumidor é o próprio Deus e Sua Justiça.

Nele serão extintos a morte e o inferno (sepultura, lugar onde estão as almas) e deixarão de ser, para que a Igreja viva eternamente.

Sou passível de estar enganada, mas é assim que entendo. O amor nos atrai para a perfeição. Rejeitando-o já estamos em densas trevas. A própria vida é uma condenação pra quem não tem esperança. A própria amargura da falta de fé, mina a paz e a alegria. Só no amor, caminho estreito, é possível perseverar e manter a alegria da Boa Notícia, como quem acabou de recebê-la.

Quem ama não tem medo, porque o amor lança fora o medo. Inferno só é ameaça, pra quem se esquiva de amar e se deixa subjugar pela religiosidade. Quem é livre, apesar de se reconhecer miserável e carente da Graça o tempo todo, descansa, porque sabe que o mérito é de Cristo e nunca foi nosso.

Depois que entendi que a morte de Cristo foi eficaz pra perdoar meu passado, presente e futuro e que mesmo antes que eu fosse, Ele já conhecia meus passos, reconheço minha fraqueza e pequenez todos os dias, mas não me condeno. E a a usência de culpa e medo, não e pretexto pra afrontar e viver em pecado, ao contrário, tenho prazer no ensino do Mestre. O que consigo fazer, é porque a Graça me concede fazer. E o que não consigo ainda, em outro momento Ele vai me ensinar.

Houve tempo na minha vida que vivi um verdadeiro inferno, porque não tinha expectativa alguma. Mas agora me vejo eterna, saí do centro, me vejo inserida no todo. Sei que o plano de Deus não será frustrado e não peço nada pro meu próprio benefício. Meu desejo é de crescimento interior, de uma consciência saudável, de sabedoria e discernimento. Não é fácil pra mim também, mas tenho paz e alegria. Pra mim, isso já é o indício do que serei um dia.

Agora imagine o que seria da religião sem a ameaça do inferno nos castrando e impedindo de decidir por nós mesmos. Imagine se não houvesse o medo incrustado na alma para por limite aos impulsos. O homem não sabe que é livre e cria para si grilhões, porque recusa-se a dominar-se.

Assim, terminamos a conversa sobre inferno e começamos uma sobre a tricotomia, que posto assim que concluir.


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sobre a condição humana




A natureza humana é corrompida e o homem exterior não consegue viver sem pecar. Ainda que o homem interior (espírito) julgue pelos parâmetros da consciência em Cristo e evite consumar o ato pecaminoso, o homem exterior (carne) não domina seus instintos, vontades, desejos, tendências. A alma por sua vez, justifica a ação da carne, embora o espírito fique entristecido com o sucumbir.

Contudo, a carne que para nada é aproveitável, clama e geme com sua fome e ânsia por satisfação. O espírito que está pronto, julga o ato antes, durante e depois, para que o homem possa escolher. Embora o homem exterior corra o risco de se contaminar, o interior permanece intacto e mostrará o caminho de volta. Caso caia, o que pode atrasar o processo de edificação, é a alma e sua lógica, conclusões e resistência ao espírito.

Esta guerra interior não terá fim até que sejamos transformados. Até lá, militaremos diariamente para mortificar a velha criatura em Adão, para cada vez mais nos tornarmos semelhantes a Cristo e sua natureza divina.

Não importa o que a alma do homem use como argumento para defender a velha criatura. Ela está condenada por Deus. A partir desta consciência, podemos decidir o que precisa ser destruído e o que deve ser edificado.

Quanto ao pecado, antes de ser consumado já existe nas entranhas do homem. A diferença entre o desejo e a ação é apenas prática. É hábito do homem graduar pecados e classificar a culpa por gravidade. Mas destituídos fomos todos e por nós mesmos estaríamos ainda com nosso escrito de dívida. Nenhum justo sequer. Todos invariavelmente dependentes da Mediação de Cristo.

A alma tentará minimizar a gravidade do desejo, mas no fim das contas, tudo isto faz parte da nossa condição. Só reconhecendo o que de fato é, o homem tem condições de conhecer a Deus. Enquanto se julga capaz de se manter sem pecado, a própria arrogância já é pecar.

Se resiste ao pecado, se vangloria. Se acerta, se enche de orgulho. Fazer o bem infla o ego e até nosso amor é imperfeito. Não há para onde fugir. A natureza corrompida, fatalmente nos lança no chão.

Minha percepção para este dilema, foi alcançado à duras penas. Colhendo consequências e desnudando o que sou diante de Deus, fui alcançando misericórdia e meus olhos foram desvendados.

Não nego meus impulsos e nem culpo ao diabo pelas minhas escolhas. Sei que o propósito de cada erro e acerto é ir me aperfeiçoando para o uso de Deus.

Meus acertos me levam a glorificar a Deus, pois tudo vem Dele, é Dele e volta para Ele. Mas meus erros me mantém simples e dependente do agir de Deus. Minha incompletude me leva a buscá-lo. Minha fraqueza aponta para Aquele que me fortalece.

Um cristão não peca deliberadamente, mas sabe que se pecar tem Advogado. Tem a consciência de que embora mereça o inferno, foi comprado e alforriado para ser um com Cristo. E este nos garante chegar no fim da caminhada vencedores.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Resposta à uma caçadora de marido



Tenho dormido fora nessas últimas semanas, primeiro porque uma amiga passou por uma cirurgia e eu me dispuz a acompanhá-la durante o período de recuperação e depois porque a convenci de comemorar seu aniversário e me ofereci para preparar os salgadinhos da festa. Como não tenho filho pequeno, nem quem dependa de mim, saio de mala e cuia e vou para onde quero.

Nas primeiras semanas ninguém disse nada, mas nessa última, alguém insinuou que eu estava procurando namorado nas bandas daquele bairro. Eu ri e de fato foi engraçado, mas um amigo me abriu os olhos, porque alguns falam, mas mesmo quem não fala, pensa.

Como a moça que fez o comentário é alguém um pouco fixada em arrumar marido, hoje eu estava relembrando e rindo, enquanto me imaginava conversando com ela. Em outra oportunidade vou chamá-la pra um papo e dar umas dicas sobre o assunto.

Quando Deus criou o homem, Ele disse que era bom, aliás, disse que era muito bom e de fato eu acredito nisto. Mas também acredito que é possível viver e bem, sem um do lado.

Uma mulher que se sinta incompleta, não vai conseguir viver só. Se não se casar, vai se sentir inferiorizada com relação às outras. Talvez justifique assim seus complexos e carências e certamente passará a vida tentando se completar no outro, acumulando frustrações.

No tempo de imaturidade, também fui assim. Perdi a conta de quanta gente passou pela minha vida e eu fantasiava uma vida comum com cada um deles. Até perceber que ninguém é perfeito e eu não poderia encontrar todas as virtudes numa pessoa só. Ou ele seria carinhoso, ou seria trabalhador, ou seria atencioso, ou seria pau pra toda obra... dificilmente reuniria em si tudo aquilo que almejei encontrar.

Conforme a vida foi passando e eu amadurecendo, percebi que eu conseguia  construir, mobiliar e manter sozinha a minha casa, as minhas despesas, conquistar os sonhos de consumo, manter as contas em dia, a despensa farta, o guarda-roupa atualizado, as viagens, passeios, enfim, percebi que na simplicidade do que faço para viver, dou conta sozinha.

Também não sou lá muito dependente. Não chego a ser auto suficiênte, mas gosto de fazer minhas coisas individualmente. Rendo mais planejando e realizando sozinha do que em grupo, então não sinto tanto a falta da cumplicidade e parceria comum no casamento. Troco carinho com muita facilidade, mas gosto de estar só no meu cantinho, então me adaptei com o estilo de vida que tenho. Quando quero estar junto, fico. Quando não quero, volto para meu cafofo.

Como não há homem perfeito e tenho muitos amigos, procuro a cada um segundo a sua qualidade e usufruo de cada um dos meninos, sem precisar me casar com eles haha. As amigas já acostumaram a dividir seus maridos comigo. Um me dá carona, o outro empresta o ombro, o outro faz reparos na casa quando precisa, o outro me ensina sobre o Evangelho e troca ideias comigo, e no final tenho tudo o que preciso. Mais ou menos "sou de todo mundo e todo mundo é meu também".

Fico pensando na fissura desta moça em encontrar alguém para casar e sinto pena, porque sei que ela vai acabar casando-se pelo casamento e não para ser uma carne com o futuro marido. Imagine conviver com alguém, dividir com ele a intimidade, ter com ele responsabilidades, sem amor. Imagine que o que era pra ser um momento de prazer, acabe se tornando o pior momento todas as noites.

Infelizmente a maioria das pessoas que não compreendem a solteirice como opção, a relacionam com a falta de sexo. Eu jamais me casaria com uma pessoa para ter sexo disponível, até porque um dia isso acaba. Mas a renúncia, a entrega, a prática em ceder, a tolerância, isso não pode acabar.

Tem também o fato de ninguém garantir que o cabra seja bom de serviço e no caso de não ser, adquire-se mais um problema. E sinceramente? Quem sabe usar os dedinhos, não precisa andar frustrada. (falar isso pra uma evangélica escandaliza. Caçar marido atirando pra todos os lados pode, se tocar e se conhecer, não.)

Enfim, eu diria para a moça: amada, eu não estou procurando homem, nem tenho interesse em encontrar marido. Não fechei as portas de possibilidade alguma, mas também não ando insatisfeita com a vida que tenho. Acho que cada um deve viver segundo o dom que recebeu. Se algum dia for para acontecer, ele que me encontre e trate de me merecer!


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Se o amor se esfriou, como tratar os frios?




Uma amiga desabafava comigo, à respeito de uma cunhada, que mesmo vendo que a mãe estava debilitada e precisando de repouso por causa de uma costela fraturada, permitia que ela cozinhasse e não a ajudava. Indignada, minha amiga dizia não entender como um coração podia ser tão ruim, capaz de ser indiferente à própria mãe.
 
Como estávamos numa festa e não era o momento oportuno para falar, eu só ouvi. Mas tenho uma opinião sólida à respeito do que acontece com esta moça. Não sei se as pessoas envolvidas lerão este texto, mas senti vontade de publicá-lo. Quem sabe posso ajuda-la a entender?
 
Primeiramente, o amor é uma disposição para se doar e servir ao próximo. Ele não espera retorno e não tem vínculo com obrigações. À princípio, é obrigação de uma filha cuidar da mãe nessas condições, mas porque há a instituição família, onde há troca (phileo) e não por causa do amor (ágape). O amor por si só, já dá um passo na direção do outro em necessidade, sendo este parente ou não.
 
Uma pessoa que não consegue amar, não está odiando e nem sendo indiferente. Ela está se colocando no centro, se servindo em primeiro lugar. O egoísta, é alguém que ainda não assimilou o amor de Deus, portanto, está impedido de amar ao próximo como à si mesmo.
 
Uma pessoa egoísta, não deve ser alvo do meu ódio, críticas e acusações, mas deve ser alvo de misericórdia. Devo exortá-la com amor, mas não devo atacá-la por não conseguir amar. Nem ela sabe que não ama, pois só a Graça de Deus, é capaz de desvendar os olhos do homem para a própria condição. E só à partir desta constatação, sabendo que somos dignos de condenação, passamos a agir com misericórdia com estes, até que ele desperte.
 
Se não há testemunho de sermos semelhantes a Cristo, o que fará o egoísta identifica-lo em nós? Se não refletimos Sua Luz, como o egoísta sairá das densas trevas? Descer ao patamar dele para afrontá-lo, é no mínimo infantilidade espiritual.
 
A "acusada" sempre me tratou com o maior carinho, me presenteou e fez questão de ir até minha casa. Logo, é uma pessoa capaz de demonstrar afeto. De forma nenhuma posso trata-la como se tivesse um coração pior que o meu. Só não é ainda capaz de ver, para dentro e à partir de si. Então, se prioriza.
 
Este não é um privilégio desta moça. O amor se esfriou da maioria, ao ponto de classificarmos quem merece e quem não merece o que chamamos de amor. O amor verdadeiro não faz acepções e toma para si a responsabilidade, mesmo que não haja parentesco. Aliás, quanto menor a obrigação, maior pureza haverá na manifestação do amor.
 
O que temos nós à oferecer à Deus, que Ele precise? Que necessidade Dele podemos suprir com nossos favores ou como podemos completá-lo? Que preço podemos pagar-lhe, como retribuição ao que Dele recebemos? Nenhum. Isto é amor.
 
A Graça de Deus nos alcançou e nos resgatou da miséria que somos. Somos pó e poderíamos ser aniquilados, mas o Amor decidiu nos salvar, incondicionalmente, gratuitamente. Este é o amor genuíno, essência divina que uma vez transcendeu à nós, para que pudéssemos emanar na direção do próximo.
 
O egoísta é alguém cego para este amor. Cadáveres limitados ao mundo físico. Gente com urgência em se atender, porque não se enxerga eterno. Para estes, o porvir não existe, se negar para servir ao outro é loucura.
 
Como cristãos, não cabe à nós guerrear contra a carne e sangue. Enxergar para além do que vêem, é compreender a escravidão espiritual, como algo fora do controle do escravizado. Olhar a estes como Jesus olhou aos que lhe matavam: "Pai, perdoa-lhes pois não sabem o que fazem!"

Registro de um amor sofredor...

 
 
 
O ideal que tracei para a pessoa que desejei pra mim, concretizou-se na minha frente, mas era tarde. Tarde para mim, marcada com tantos percalços, tarde para começar algo novo depois de tantas tentativas vãs e tarde para nós, pois havia um impedimento para que o amor pudesse ser entregue.
 
Não posso compreender a razão de receber uma pessoa tão especial, tal como sonhei a vida inteira, projetando nos outros e me frustrando ao perceber que me confundia. Mas agora ele está aqui na minha frente e não pode ser meu.
 
Amo e tenho mesmo que amar, mas consciente da necessidade da negação da minha vontade. Vontade vem da alma. A negação consciente da vontade é espiritual. O fruto do amor é a doação e a recíproca sempre foi verdadeira. Mas mortificar o que é nocivo nesta relação tão bonita, é nosso desafio.
 
Renunciar também é amor. Deixar ir e deixar ser, é prova do amor mais puro, vazio de qualquer raíz de egoísmo. Não esperar retorno de tanta entrega, é assimilar o que Deus fez por nós, se entregando à quem não podia lhe retribuir.
 
O verdadeiro amor não se porta inconvenientemente. Antes, se resigna pelo bem comum. A carne dói e clama, mas o espírito sabe se equilibrar.
 
Amarei ainda, mas morrendo pra mim mesma, pra que outros possam ser. Ninguém ama sem dor. Por si só o amor é sofredor. Mas é ele mesmo quem permanece para sempre, nos transcendendo à eternidade, onde falta nenhuma haverá, onde toda carência será suprida, pois no Senhor há plenitude para os que crêem.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Milagres são para incrédulos

 
 
 
Havia uma família de cristãos, cujo Senhor também amava. Era uma amizade recíproca, onde tanto o Senhor tinha por eles um carinho especial, quanto cada um membro desta família, guardava no coração cada ensino e cada esperança baseada nas promessas de Jesus.
 
Lázaro morreu e tanto Marta quanto Maria, sabiam que se Jesus estivesse presente alí, poderia curá-lo e evitar sua morte. E mesmo crendo no poder do Filho de Deus, choravam a perda do irmão. Sabiam da ressurreição do último dia, mas davam a situação atual como perdida. Dentro das possibilidades humanas, a morte é mesmo um ponto final.
 
O Senhor se comoveu com a dor, embora já soubesse que aquela morte serviria para manifestar a Glória de Deus, na vida de alguns judeus que estavam alí presentes, consolando as duas irmãs. Milagres não são para crentes. São para que o incrédulo venha a crer.

Quem de fato crê, não precisa de milagres para continuar crendo. Mas ainda assim, pode ser alvo da misericórdia Divina, para que o testemunho edifique à muitos.
 
Então, a ressurreição daquele morto que já era salvo e já não carecia deste milagre, não serviu para impactar sua própria vida e nem a de suas irmãs. Mas serviu para revelar Cristo àqueles expectadores, para que cressem. Até porque, Lázaro morreu posteriormente.
 
Certamente acontecem ainda hoje muitos milagres e maravilhas na vida dos homens. Creio piamente que Deus intervém em nosso favor. Mas a banalização da palavra milagre e a distorção que ocorre hoje em igrejas cristãs, leva a crer que o milagre pertence ao crente, é um direito adquirido, é quase uma obrigação de Deus realiza-lo.
 
Creio que o que define o ambiente propício para que haja um milagre, não é a fé do que busca, mas o perigo deste sucumbir no meio do desespero. Deus age com misericórdia para que este não venha a se perder. A intervenção acontece quando alguém precisa ser impactado para que creia.
 
Um dia recebi uma cura que me livrou da morte já anunciada pelos médicos. Eu era criança e ainda não cria, mas esta cura impactou meus familiares que vieram a crer. Já na idade adulta, tive uma grande crise existencial e questionava à Deus o por quê de ter sido curada, se o Reino é das crianças. Na minha cabeça era injusto estar sofrendo, se poderia estar com Ele no paraíso.
 
Nesta ocasião recebi outra cura do corpo e junto com ela a salvação da alma. Foi um encontro maravilhoso com Deus, onde ficou muito nítido na minha vida o seu amor e o seu cuidado comigo. Naquela ocasião, era necessária esta intervenção, hoje não é.
 
Caso enfrente de novo uma doença, não preciso ser curada para crer que Deus cura. Não preciso resolver todos os meus problemas pra saber que Deus é socorro e auxílio. Não preciso ser poupada de nada nesta vida, pra saber que Deus continua tendo o controle do que acontece comigo.
 
Ainda posso ser alvo de milagres, mas se estes forem usados para manifestar a Glória de Deus à outras pessoas, para que venham a crer.
 
Para mim, ser alvo da Graça de Deus foi o único milagre necessário. Basta!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Aprendendo a reconhecer o verdadeiro Evangelho




A mensagem do Evangelho é algo que o mundo odeia. Cristo na Cruz, é a Boa Nova de que o preço foi pago, mas antes disto, é a constatação de nossa impotência, de nossa miséria, de nossa culpa, de nossos pecados, de nossa incapacidade de salvarnos à nós mesmos.

Ao olhar para Cristo cruscificado, o orgulho precisa ser discipado e isto é algo que a maioria dos homens não desejam fazer. É comum nos vangloriarmos em nós mesmos, é corriqueiro nos supervalorizarmos, exaltar o que julgamos nos sobressair com relação aos outros, queremos ser reconhecidos por nossos méritos, queremos que todos saibam de nosso valor.

O Evangelho não diminui o homem, mas o coloca em seu devido lugar. Quando compreendemos que estávamos em situação de morte e que ao crer recebemos vida, fazemos contato com a miséria que éramos. Sem Jesus, estaríamos pra sempre separados do nosso Pai Eterno, pois não havia um justo sequer.

Então, este evangelho simpático, que promete o céu na Terra, isenta o homem de problemas e os coloca num patamar de superioridade com relação à todo o resto, é uma mentira e um caminho muito perigoso.

Quem de fato prega o Evangelho, é convidado a se negar diariamente, à sofrer perseguições e à passar por muito sofrimento e muitas aflições, porque fomos contemplados não apenas com a salvação, mas com a honra de padecer por  Cristo.

Cristãos verdadeiros, são perseguidos e ridicularizados até por cristãos iludidos por falsas doutrinas. Falar de amor, de perdão, de reconciliação, de liberdade com responsabilidade, dos frutos do Espírito, provoca comichões nos ouvidos. O que as pessoas querem ouvir, são palavras que alimentem o ego e satisfaçam o ventre.

Paulo diz à Timóteo: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos."
O Evangelho é a mensagem de Deus encarnado, Jesus é o Verbo que se manifestou em carne ao mundo, para que por sua Luz, enxergássemos nossa verdadeira condição e entendêssemos que por meio Dele, fomos resgatados para uma nova vida e uma nova esperança. Se o Senhor foi rejeitado e perseguido, porque seus servos não seriam? Se o mundo nos odeia, primeiro odiou ao nosso Senhor.

Paulo nos ensina como suportar tais percalços:

“Agora eu vou para Jerusalém, obedecendo ao Espírito Santo, sem saber o que vai me acontecer lá. Sei somente que em todas as cidades o Espírito Santo tem me avisado que prisões e sofrimentos estão me esperando. Mas eu não dou valor à minha própria vida. O importante é que eu complete a minha missão e termine o trabalho que o Senhor Jesus me deu para fazer. E a missão é esta: anunciar a boa notícia da graça de Deus.” (Atos 20. 22-24)

Quando entendemos que se fazendo maldito no nosso lugar e morrendo nossa morte, Jesus comprou com o próprio Sangue, a vida de muitos escravos, que Nele se tornaram livres para realizar um propósito na Terra, então compreendemos que somos Dele, Nele e para Ele. 

A prioridade já não é nossa vida efêmera, mas o plano de Deus. Então descansamos em Sua vontade, confiantes de que quem nos capacita para a boa obra é Ele mesmo e principalmente, confiamos de que tudo o que Ele desejou será concluído em seu devido tempo, porque Seus planos não serão frustrados, Ele é fiel para cumprir cada Palavra Sua.

Não enverede por caminhos de promessas vãs, de ensinamentos de homens, de distrações que podem fazer de ti um egoísta e não alguém que exale o bom perfume de Cristo, o amor.

O Senhor viveu no ambiente secular, intervindo na angústia, na dor, doença e nas causas humanas. Isto é ser santo, praticar a misericórdia em meio à miséria. Devemos ser assim, santos como Ele.

Aos que vivem aprisionados na religiosidade, cegos às necessidades do próximo, negligenciando no amor, na justiça e na misericórdia, Ele chamou de hipócritas. Aos que amaram as riquezas deste mundo, chamou de loucos. Mas aos que guardaram e obedeceram suas Palavras, chamou de amigos.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

De dentro para fora




O Reino de Deus é estabelecido dentro do homem. É à partir deste governo interior, que o homem faz suas escolhas e vive suas novas experiências, pautadas numa consciência saudável no Evangelho de Cristo.

É do íntimo que brota a verdadeira paz, esta que só Jesus, o Cristo de Deus pode dar, não como a paz temporária do mundo, mas uma paz que independe das circunstâncias. E havendo esta paz interior, a transmitiremos aos nossos relacionamentos. Não pode ter paz com o próximo, aquele que ainda não conhece a paz que só Jesus tem para dar.

Não pode transbordar de alegria, esta que formoseia o rosto, aquele cujo coração está oprimido e cheio de culpas. Somente aqueles que receberam o perdão de Deus, tem leveza e alegria. E somente estes conseguem perdoar e esquecer tudo aquilo o que é desnecessário carregar nas costas.

Somente aqueles que reconheceram o amor que faz expiação de pecados, aquele que lavou nossa culpa por intermédio do sacrifício salvífico de Cristo na Cruz, pode emanar a essência amorosa na direção do próximo. O amor que transcende à nós da parte de Deus, fonte de tudo o que é bom, irradia de nós nos encontros, nas relações, nas trocas...

Se não é à partir de dentro, se nossa essência não foi transformada em nova criação, com nova postura, novas atitudes, novo entendimento, nossas obras serão inúteis.

Claro que o que somos, deve ser expresso em atos, palavras e atitudes, mas nossos feitos não provocarão em nós mudança alguma. São as mudanças que acontecem a partir da conversão, que refletirão na vida prática.

Na fé distorcida, deformada, defeituosa, supomos que o cumprimento dos horários, dos dias marcados para cultuar, dos compromissos, de um protocolo e um esteriótipo, resultarão em bênçãos, benevolências e agrados da parte de Deus.

Deus nunca pediu fatia do tempo de ninguém. Uma vez alcançados pela Graça, somos Dele integralmente. E aquele que entrega o dízimo como dever cumprido e deixa seu próximo passar necessidades, peca. No Evangelho, não se contabiliza entradas e saídas de dinheiro. Se dá enquanto se tem, se ama sem medida e não se acumula, sempre com alegria. 

Amor não é investimento, é Graça, é doação. De nada vale cumprir uma obrigação, negligenciando no amor e na justiça.

Na fé verdadeira e pura, entendemos que todos somos merecedores do inferno, destituídos da Glória de Deus, corrompidos na nossa natureza, completamente dependentes da Graça de Deus, que é favor imerecido. Então nos alegramos nos feitos de Cristo, no mérito de Cristo, nas promessas de Cristo, porque num mercado de escravos nos comprou com sangue e agora somos dele.

Nada do que viermos a realizar nesta vida, acrescenta um ítem sequer para nos tornar merecedores de algo vindo da parte de Deus, não se iluda, não minta para você mesmo. Por melhor que seja seu conceito com relação à você mesmo, ele não testifica à seu favor.

Diante de Cristo, no dia do Senhor, todos aqueles que se achegarem dizendo "fiz isto e aquilo em teu Nome" será chamado maldito, pois estará colocando preço na salvação que é dada de graça ao que crê. Jesus nunca vos conheceu, pois nestes não há a essência amorosa de Deus.

Mas aqueles que mesmo fazendo, não creditam isto em seu favor, antes dizem "Quando fizemos estas coisas ao Senhor?" Estes amaram e são os benditos que entrarão no descanso do Senhor. Reconhecidos por causa do amor.

O que nos molda vem de dentro, pois o Espírito de Deus habita em nós. Assim, cada discípulo irradia para o mundo a Luz de Cristo, esta que faz de nós luzeiros na vida uns dos outros, para a Glória do Senhor.