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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre um Deus atemporal

Saber que Deus não está sujeito ao tempo que Ele mesmo criou, é fundamental para compreender o que somos em Cristo. Assim, mudam os conceitos que usamos na oração, no processo de santificação, na compreenção da revelação bíblica, na identificação de heresias e doutrinas estranhas, etc.

Entender que o Cordeiro foi imolado ANTES da fundação do mundo, nos garante que Deus realmente nos amou primeiro, mesmo antes que houvesse no mundo cada um de nós. E em Si mesmo garantiu que fôssemos salvos, santificados, cooperadores de Seu Reino e aperfeiçoados no Seu amor.

Assim, minha oração não gira em torno da minha vontade, como se Deus estivesse inerte, esperando que eu o peça para agir. Antes, abro mão do que quero e peço para encontrar a sintonia com Sua Vontade e que ela me satisfaça.

Conhecendo que sou Dele, desde antes de ser gerada, compreendo que embora dentro do tempo, as minhas escolhas dependam de mim, sei que longe dos domínios do tempo, Ele me viu, me atraiu, me conduziu e me recebeu vencedora.

Assim como creio que o sacrifício do Cordeiro na Cruz, me redimiu da minha culpa, mesmo que tenha sido consumado no tempo há mais de 2000 anos, creio que minha carne também estava naquela Cruz, sendo necessário que morresse, para que Cristo vivesse em mim.

Ainda que dentro do tempo, eu a perceba vivíssima e carecendo do meu domínio sobre ela, sei contudo que quem a sujeita é o Espírito Santo e não eu. O trabalho é todo Dele e esta é minha única e suficiente garantia, de que vou chegar naquele Dia, apta a entrar na Pátria que Ele preparou.

sábado, 27 de setembro de 2014

O selo que garante o crente

Ontem eu conversava com uma moça, que resolveu separar 6 meses de sua vida para buscar a Deus e se consagrar. Era nosso terceiro encontro e desde o primeiro, viemos conversando sobre a fé, sobre nossas experiências com Deus e com a Igreja. E tem sido edificante para nós duas.

Ela veio de Guiné Bissau onde estava trabalhando em missões, marcada por uma decepção. Dizia que esperava perseguições dos de fora, mas foi surpreendida por conspirações, injúria e complôs dos que faziam parte do grupo. Esse filme já assisti muitas vezes e eu mesma já vivi experiência de perseguições dos que são de "dentro" e sofri bastante até compreender que o joio está alí para sugar a força e energia do trigo, para que ele não frutifique. Quem não é de fato um servo que vive segundo as orientações do Cabeça que é Cristo, de forma alguma acolherá seus membros. E o processo é sempre o mesmo, primeiro vem uma grande decepção, para depois vir o amadurecimento.

Naquilo em que posso ajudar, estou disponível, mas ontem ela falava de manifestações sobrenaturais e eu apenas ouvia. Ela percebeu que não me empolgo com o tema e fez perguntas diretas, onde tive que me posicionar. Percebi que ela ficou um pouco frustrada, tentando me convencer de algo que não faz sentido para mim.

Respondi apenas que as experiências dela com Deus, são para ela. E as minhas são para mim. Ele age com cada filho de forma única, por isso não conseguiremos uma conexão perfeita com ninguém. Não precisamos ter 100% de sintonia para nos amar e respeitar naquilo em que vivemos. Como estávamos nos despedindo quando o assunto entrou nesses termos, penso que ele vai continuar no próximo encontro. É muito chato ter que confrontar o que considero infantilidade, numa pessoa que se enxerga espiritual por "viver" experiências sobrenaturais.

Para mim, a mente humana é capaz de criar situações, ilusões, viagens na maionese, de acordo com os ambientes que se escolhem viver. Tomamos a forma dos grupos que escolhemos com muita facilidade. Somos persuadidos o tempo inteiro, somos influenciáveis, sugestionáveis e de fato, todos acreditamos que as experiências são de fato autênticas. Então, sei que vou passar por momentos desagradáveis tentando expor o que penso a respeito.

Quando vejo esses templos de ouro, onde os sinais e manifestações sobrenaturais são mato. E em contraste vejo a falta de pão em aldeias de homens simples, percebo o quão distorcida é a ideia de uma espiritualidade saudável.

Espiritual para mim, não é o místico que fala em línguas, dança e cai no espírito, mas aquele que ama, que acolhe, que não tem dificuldade com o perdão, que age com sabedoria, que lê e encontra clareza na revelação do Evangelho. Estes não precisam de nada que chamem atenção para si, apenas caminham como servos de Cristo, obedecendo as ordens de seu Senhor. Estes que são luzeiros na vida de muitos, sabendo que refletem tão somente a Luz de Cristo e não há mérito humano nisto.

Os dons... ah, os dons! Conforme o formato da Igreja vai mudando, os dons também acompanham estas mudanças. As necessidades do mundo são outras, o Evangelho avança de várias formas e o que a instituição transformou em doutrina, na prática já se extinguiu. Assim, se no início eram necessários Apóstolos, Profetas, Mestres e etc. Porque a mensagem precisava ser espalhada, hoje a necessidade é acordar os que se deixaram escravizar novamente, os que entregaram suas inteligências à homens astutos e covardes.

Amor! Este é o selo que nos separa para Deus. E uma vez alcançados por este amor que transcende e nos marca como propriedade Dele, recebemos também a capacitação para encaminhar este amor por onde passamos. Até quando veremos gente enrolando a língua, manipulando as outras vidas com supostas profecias, gente rodando, caindo, pulando como surtados num centro de macumba, se dizendo espirituais? Estes mesmos "irmãos" que não se comovem com a dor do outro e que continuam tão rasos e vazios como sempre foram.

Compreendo a infantilidade porque já fui menina. Houve um tempo em que me deixei levar por muitas influências desse tipo. Estava mal orientada, estava no lugar errado e confundia o que ouvia com Evangelho. Mas nas minhas orações, sempre pedi a Deus sabedoria e sempre pedi para perder as escamas dos olhos. Quando vi que estava entrando por um caminho sedutor e que este mesmo caminho era alimento para a vanglória, pedi libertação. E de uma hora para outra, comecei a enxergar que aquelas visões, presságios, sonhos, eram influências enganadoras e nada tinham do Evangelho. Deus me libertou, me revestiu de coerência. Hoje eu não preciso e nem quero manifestações sobrenaturais na minha vida. Deus fala e sempre falou ao meu coração com simplicidade e clareza, como o Senhor falava aos seus discípulos.

Para ilustrar um pouco o que estou dizendo, me lembrei hoje de uma experiência que vivi. Em 1996 conheci uma mulher grávida, que tinha uma bebê ainda de colo. Conversando com ela, descobri que o pai das crianças estava preso, ela passava necessidades e a situação era desesperadora. Me lembro que a apoiei e orei com ela algumas vezes. 15 anos depois, entrei numa loja e eis que a reconheci. Meu coração se alegrou, como se eu estivesse diante de uma grande amiga e eu agradeci a Deus aquele momento que encheu meu coração de gozo. Conversei com ela e claro que ela não se lembrava de mim, mas me deu notícias das meninas, que estavam adolescentes, estudavam e estavam sendo criadas na igreja, enfim, as notícias me alegraram muito.

Comentei sobre este encontro onde congrego e minha voz embargou, pois me emocionei. Alguém disse "ela crê que Deus ouviu a oração dela". Não entenderam nada! Quanta gente orou por ela? Pouco importa se Deus ouviu a minha oração ou a de outro. Não foi o que eu fiz, foi o que Ele fez, que me emocionou. Além de cuidar das necessidades daquela mulher, Ele cuidou de me dar notícias. Era como se dissesse: "Seu coração se moveu na direção desta irmã, eu cuidei e quero que você saiba disto". Deus é surpreendente e a Glória é toda Dele.

Assim, a manifestação que quero para mim é esta: que eu possa ser cada dia mais vazia de mim mesma, para ser cada dia preenchida pelo amor que vem de Deus. Que eu possa negar minha vontade que na maioria das vezes vem carregada das minhas cobiças, para que eu possa encontrar e me contentar com a Vontade de Deus, que é sempre boa, perfeita e agradável.

Que não haja manifestação alguma, que me diferencie de qualquer um, mas que o Senhor não cesse de me aperfeiçoar o caráter, até que eu chegue à estatura de um varão perfeito. O vínculo da perfeição é o amor e é este dom que eu desejo buscar incessantemente, até que Ele venha.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quando a dor produz crescimento




Eu não conheço uma pessoa sequer, que tenha sido aperfeiçoada na fé quando estava tudo bem, na mais perfeita paz. Mas são inúmeras as experiências de crescimento em meio a dor. Não a dor em si, mas a maneira de lidar com ela. O sofrimento é caminho que ninguém quer escolher, embora ninguém tenha como escapar dele.

Não digo a quantidade de sofrimento, mas a resignação que impulsiona a responder com amor à investida do mal.

Gosto sempre de lembrar das minhas experiências e localizar nelas o que recebi de Deus. Penso que tudo o que vivi, me ensinou algo e se me ensinou, devo usar para testemunho.

Quando ainda era criança, fui desenganada e sobrevivi. Então, este livramento marcou o início da minha fé, pois sempre vi a mão de Deus sobre mim. Aos vinte anos, depois de muitas decepções, traumas, medos e desilusões, reconheci diante de Deus que não era capaz de cuidar da minha própria vida. Me vi nua, doente, suja, sozinha e infeliz, completamente dependente Dele.

Foi quando tomei consciência de que deveria buscá-lo, pois sabia que não poderia mais viver sem um relacionamento com Ele. Embora eu tenha tentado voltar atrás, vi que já não podia. Estava condenada a depender do amor de Deus. Estava faminta e sedenta para aprender mais sobre Ele.

Anos depois, diante da traição, do engano, da perda, da vergonha, da consciência da condição humana, me vi forçada a me desprender da religiosidade que cega. Foi quando me enxerguei como sou. Houve um despertar que aniquilou com meu orgulho.

E depois de um longo período de sete anos, sofrendo toda a sorte de perseguições dentro de grupos que se diziam cristãos, depois de ataques, humilhações e falsas acusações por causa do Evangelho que há em mim, trilhei o caminho da perseverança, esperança e amadurecimento, me despindo de vez, de todos os conceitos antes construídos, para enfim viver a leveza do Evangelho simples, no amor de Cristo.

Olho para trás e vejo Deus em cada uma dessas ocasiões. Logo, não é a dor em si que frutifica para o bem, mas o amor que sustenta e guia no Caminho. Assim, as perseguições produziram orações por quem me perseguia. A traição produziu perdão. O ataque acabou gerando misericórdia, pois que miséria é viver sem Deus! O vazio, o medo, a doença, a dúvida, gerou dependência e entrega.

À exemplo de Jesus que no momento em que estava sendo assassinado, orava pelos assassinos, que não sabiam o que estavam fazendo. Assim age os que são do Evangelho. Não com vingança. dureza de coração e revolta contra Deus, mas com amor de Cristo, que nega a si mesmo, até as últimas consequências.

Tem gente que sofre tanto e repete as mesmas situações de sofrimento enquanto vivem. São pessoas que deixam o amor de lado e agem com egocentrismo, se afastam de Deus e do próximo, porque se priorizam. Estes permanecerão atrofiados e amargurados. 

Mas aquele que aprendeu a amar, se verá como um bem-aventurado, que quanto mais é espremido, mais derrama do melhor azeite. Que quanto mais é pisado, melhor vinho sai de si. Que quanto mais lapidado, mais exposto está o seu âmago virtuoso e quanto mais é sovado, melhor massa se tornará nas mãos de Deus. Que depurado, ganha valor. Que refinado, se purifica. E que enxertado em Cristo, já não é jambuzeiro bravo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Se morremos, porque ainda temos que mortificar a carne?




Olá amados seguidores deste blogue, quanto tempo! Ando bastante atarefada pois tenho aproveitado a oportunidade que surgiu para estudar, ler e aperfeiçoar o dom de mestre que o Senhor me deu. É uma espécie de curso, com matérias de seminário, com intuito de facilitar minha vida no preparo de mensagens, técnicas para treinar a oratória, enfim, ainda estou fazendo aula de grego. Tenho alguns livros esperando na fila, mas há de dar tudo certo :)

Há tempo para tudo nessa vida e confesso que não tenho sentido vontade de escrever. Algumas pessoas andaram insistindo para que eu transformasse minhas reflexões em literatura e isso chegou a me entristecer, pois nunca foi minha intenção comercializar o que Deus me dá de graça. Me dedico há anos na desconstrução de conceitos religiosos, escapando do esteriótipo evangélico da atualidade, nadando contra a correnteza que arrasta o sistema religioso no curso deste mundo, combatendo as formas, o comércio gospel, as ideias calcificadas e pregando o Evangelho na sua simplicidade. E parece que as pessoas não entenderam muito bem minhas propostas.

Então, escrevo pequenas reflexões e posto na minha rede social, mas perdi um pouco o interesse em atualizar o blogue frequentemente. Usei o período para aprender mais, para treinar a habilidade para lidar com pessoas no tete a tete. Afinal, fui chamada para cuidar de gente, mas sempre que der, volto aqui para deixar alguma reflexão.

Ontem estava pensando no mistério de estar cruscificada na Cruz, morta com Cristo e ressurreta Nele. Segundo Colossences 3, morremos em Cristo, mas a carne precisa ser mortificada na escolha de ocupar o pensamento com as coisas do Alto, abandonando as práticas concernentes à natureza antiga.

Então eu pensava: se estamos mortos, porque ainda temos que mortificar? E o Senhor me ensinou que olhando por Sua perspectiva eterna, atemporal, a Obra redentora consumada em Cristo desde antes da fundação do mundo, estabeleceu minha situação eterna. Agora estou cruscificada Nele, para herdar com Ele a Vida. Da mesma forma que creio que Sua morte levou sobre si a minha culpa, sendo suficiente para me religar à Deus, preciso crer que minha carne morreu, embora a perceba tão viva.

Sob a perspectiva humana sim, ela morrerá enquanto se caminha no crescimento, até a estatura de varão perfeito, de glória em glória e de fé em fé, na renúncia e no aperfeiçoamento do amor de Cristo em mim, de forma que eu sirva e veja o outro como extenção de mim mesma. Um longo e penoso processo de mortificação.

Mas mesmo isto, quem realiza em mim não sou eu. O preço foi pago e tudo consumado em Cristo. O que serei no fim de tudo, já foi conquistado desde a eternidade. Nossas escolhas são veredas que o Senhor preparou de antemão para que andemos por elas, logo, só cumpro o que devo cumprir, porque sou Dele e Ele é meu e ninguém pode me arrebatar de Sua mão.

Embora a minha carne me pareça tão viva e tão nociva quando conspira contra mim e contra o que meu espírito deseja, ela está condenada a definhar e desaparecer. E morrendo esta natureza antiga, a nova vai se renovando, até que eu seja plena em Cristo. Assim, vou crescendo enquanto vou diminuindo :)

Deus é lindo! Eu o louvo por tamanha revelação! Apesar de conhecer minhas tendências e reconhecer o que sou, sei que estou segura eternamente, porque Nele sou herdeira e um herdeiro só precisa esperar até tomar posse do que herdou. Se ninguém me arrebata de Sua mão e se Ele mesmo não me lança fora, à que temerei?