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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Cristãos agnósticos

Há um pouco mais de cinco anos, tenho tido um contato mais estreito com pessoas que por razão que desconheço, enveredaram por um pensamento que tem se tornado muito comum. A ideia de que Deus, após esvaziar-se de Sua Glória e encarnar, tenha perdido seus atributos divinos e portanto hoje, a vida desses cristãos está isolada de qualquer tipo de intervenção divina. Deus não transcende com o homem e estamos todos soltos ao acaso.

Meu espírito rejeita essa ideia e talvez por isso eu nunca tenha me interessado em estudar com mais afinco o tema. Mas a vida se encarrega de trazer para minha convivência, pessoas que se impressionam com minha forma de viver a espiritualidade, justamente por ver em mim, algo que já não possuem.

Não é uma escolha minha. Minha experiência com o sobrenatural começou aos dois anos, quando eu não tinha condições de fazer escolhas por mim. Fui alvo de misericórdia, recebi uma cura importante, quando já estava desenganada. E também o momento da minha conversão (creio que o homem começa sua relação com Deus, quando nasce. Mas há um momento de escolha, quando enfim entende sua dependência) se deu num cenário repleto de mistérios e fatos que eu jamais poderei explicar. Logo, seria louca se depois de ter vivido tantas experiências, negasse que Deus se moveu em meu favor.

Me resta então observar essas vidas e tentar encaixar esse pensamento no cristianismo. Busco fundamento, mas só encontro um amor frio e algo como se o fio que nos conduz à Deus e nos faz percebê-lo, esteja com "mal contato" nesses amigos.

Jesus exultou dizendo que essas coisas foram ocultas aos sábios e entendidos, porque Deus escolheu se revelar aos pequeninos. Em tantas outras passagens bíblicas lemos que Ele, exalta aos humildes e aos exaltados, humilha. Que Ele resiste aos soberbos, mas tem misericórdia do coração quebrantado. Logo, não fica difícil entender que o tropeço e impedimento, é justamente o crescimento do ego.

Curiosamente, todas essas pessoas foram persuadidas por uma promessa de liberdade, que as fizeram abrir mão do convívio eclesiástico. Não entendem mais que receberam a liberdade espiritual, de não ser subjugado pela carne. Distorcem a palavra liberdade, como se ela significasse viver instintivamente como um animal irracional, mas como em toda escolha, colhem consequências. Na ânsia de ser, entram num labirinto de confusão. Na sede de ganhar a vida, a perdem.

Jesus pagou o preço da reconciliação, justamente para que fôssemos adotados e tivéssemos restaurados um relacionamento com Deus. A fé na justiça de Cristo, nos dá a mediação que nos faltava para estar religados à Deus. E para que Deus adotaria filhos, se não fosse para estar com eles? Nos abandonaria ao acaso? Não teria nos chamado com um propósito?

O mesmo Deus que procurou Adão e esperou na varanda o retorno do pródigo. O mesmo Deus que amou a causa do mundo, enviando a Redenção por meio de Jesus. O mesmo Deus que buscou se relacionar com seu povo, o que acolhe ao órfão e a viúva, o que tira o homem do pó e o faz assentar com príncipes. O Deus imutável, mudaria?

A fé é o instrumento que Deus disponibiliza ao homem para vivenciar as coisas do Alto. Vivemos pela fé e sem fé, não há assimilação das experiência com Deus.

Concluindo, para mim eles perderam a melhor parte. Apesar de confessar Jesus e fazerem questão de ser chamados cristãos, fizeram como Esaú e seu prato de lentilhas. Abriram mão de um direito conquistado para eles, por preço insignificante: a ilusão de ser.

Vale lembrar que só Deus É. O homem está limitado no tempo. 
E livre é o Espírito que é Vento e sopra onde quer. Qualquer tentativa de ser igual à Deus, me remete ao Éden e às palavras da Serpente. A mesma proposta ecoa hoje, com nova roupagem, causando a mesma morte, a mesma separação.


domingo, 16 de setembro de 2012

Culpa e perdão

"Davi, que julga a um desconhecido e o condena à morte e ouve mais tarde a revelação: 'Tu és aquele homem'" ["O Aleph", de Borges].

O Evangelho de Jesus, nos ensina o amor e isso é tudo.
Não ama quem não se coloca no lugar do outro, quem não consegue se alegrar com a felicidade alheia, quem não se importa com a dor do outro, mesmo quando temos a nossa própria dor.

Não ama quem corre atrás de seus próprios interesses, passando por cima de outras pessoas, como se elas fossem degraus. Não ama quem vê Jesus como seu vingador pessoal, pronto a destruir qualquer vida que ousar à se opor a este. 

Dia desses li uma frase de uma música cristã (?) que dizia "Vai lá e pega quem falou da minha vida, avisa que eu Estou de Pé. E quem contou o fim dos meus dias, avisa que eu Estou de Pé" e fiquei pensando que a motivação das lutas, podem passar por vales de sentimentos de ódio e vingança, tipo "Conta lá, instiga a inveja deles, desperta a raiva desses filhos do cão".

Não foi isso o que Jesus ensinou. Não é o verdadeiro Evangelho, que nos ensina que somos mais que vencedores, POR MEIO de Cristo Jesus, que nos amou. Quem venceu foi Ele e por amor. Não há privilégios para a "nata da humanidade". Segundo Jesus, devemos amar os inimigos e orar por quem nos persegue, devemos ter a consciência que a luta em si, não é contra carne e sangue, mas contra forças do mal que opera em regiões invisíveis. Mas o ego... sempre o ego, prejudica o que deveria ser um relacionamento de Deus Pai, com cada filho.

Davi ao ouvir uma parábola, teve condições de sentir repugnância por sua atitude. Houve uma reprovação, porque ele não atinou pra sua culpa. Se fosse outro, estaria condenado por ele. Se cada um de nós tivesse o hábito de se colocar no lugar do outro, de fazer uma auto análise vez ou outra, a vida seria um pouco mais fácil.

Sim, Jesus levou sobre si a nossa culpa. Mas se não fazemos contato com nossos erros e sentimentos maus, eles continuam sendo nossos. Não há perdão sem arrependimento. Se não passarmos pelo Sangue, não há purificação.

A cada contato com a consciência da nossa condição humana, temos condições de rever posturas, voltar atrás em atitudes, reconhecer que a imagem do espelho, é de alguém que não caminha com Cristo. Assim há um despertar, seguido de coração incomodado, seguido de reconhecimento e arrependimento. Assim há perdão e liberdade.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Caminho largo e caminho estreito

"Entrai pela porta estreita porta grande e larga é a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. Estreito é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos encontram." (Mateus 7, 13.14)


Muito se discute sobre isto e são várias as interpretações que já ouvi. A maioria acha que o caminho largo, consiste nos prazeres do mundo, em detrimento à uma postura sacrificada, vivida na Igreja. Ultimamente tenho ouvido que o caminho largo é o apresentado pela religiosidade que ilude o cristão à buscar a prosperidade financeira, deixando de lado o verdadeiro Evangelho.

Enfim, comecei a meditar sobre isso hoje e foram brotando possibilidades, que meu espírito acolheu.

Creio que fomos salvos de nós mesmos, para viver uma nova realidade. Negar-nos e seguir Jesus, é mais do que simplesmente dizer um "sim", ter o nome inscrito no rol de membros e cumprir um protocolo.

"E poucos encontram." Percebe que Jesus não está falando de um grupo, ou de um conjunto de regras, mas da decisão e sucesso pessoal de cada caminhante? "Estreito" é um adjetivo que sugere a passagem individual de cada pessoa, assim como a possibilidade de encontrar esse caminho que conduz à vida, é algo que experimentamos à partir de uma busca pessoal.

A decisão por Cristo acontece em cada vida num momento distinto. E o caminho também é estreito, porque cada caminhante requer tratamento específico, cada um no seu passo, tempo e necessidade.

Para mim, o primeiro passo é assumir minha responsabilidade individual e intransferível. Meu crescimento espiritual, depende da mortificação da minha carne. Enquanto estamos nos enxergando como parte de um pacote, perdemos a noção da nossa individualidade dentro do Corpo. Sim, somos um organismo, mas nem todos são mãos, ou boca, ou olhos, etc.

Qual a importância de nos enxergarmos como indivíduos, tratados por Deus de forma artesanal? Porque assim conseguimos saber o quanto temos avançado ou o quanto temos ficado estagnados no caminho. Salvação é graça, mas o aperfeiçoamento é uma resposta natural na vida do salvo. É este desenvolvimento que se alcança no caminho estreito. Ninguém que tenha sido alcançado pela graça, permanece o mesmo.

Pelo que percebo, o caminho estreito se refere a viver em amor, que requer a renúncia de nossa vontade e do impulso de nos atender. É um caminho deveras desconfortável, penoso, difícil e apertado. Passar pela porta estreita, ou seja, o acesso que é Cristo, também se esvaziou de si para encarnar a vontade do Pai. Seguí-lo, é tomar consciência de que amar é algo mais próximo do sofrimento, do que desse perfil do cristão inserido num grupo seleto de privilegiados.

Em contrapartida, o caminho largo é o que escolhemos à partir do ego. É prazeroso e fácil nos servir e nos obedecer, mesmo que isso seja oprimir o outro.

A maioria das pessoas escolhem este caminho, posto que a carne age como a lei da gravidade. Não requer esforço algum, viver segundo nossos instintos caídos.

Mas amar é tarefa árdua. Se dar pelo outro, é para a minoria. São poucos os que encontram este caminho.