Páginas

terça-feira, 14 de outubro de 2025

o corpo que repele

Acabei de assistir um vídeo de cortar o coração, justamente por identificar no relato deste rapaz algo que já vivi. Isaque, um jovem que por algum motivo mora sozinho, se esforça para se enturmar com os jovens de sua igreja. Convida alguns para irem com ele para um congresso, sem sucesso, depois dois aceitam o convite. Ele então faz uma lasanha para receber essas pessoas em sua humilde casa. Um deles desiste antes e o outro em cima da hora. Com a voz embargada, ele lamenta não se sentir acolhido, tenta mas não é recebido nas "panelinhas", não o incluem e nem aceitam seus convites. Sozinho ele foi para o congresso e sozinho comeu a lasanha quando voltou. Com a voz embargada ele relata os fatos e posta na internet.

Cara, até quando nada será feito? Igrejas elitistas, sem a menor noção do que é congregar em amor, viram simplesmente entretenimento para satisfazer a carne e não fazem questão nenhuma de ser Corpo de Cristo. Se o jovem não se encaixa no padrão das panelinhas fica excluído, ou se enturma com pessoas mais velhas ou simplesmente vai procurar outro lugar que o enxergue.

Cheguei na igreja jovem ainda, com um filho criança e percebi a resistência logo de cara, as senhoras me acolheram, os jovens da minha idade não. Porém, eu resolvi participar das programações por minha conta mesmo e aos poucos foram abrindo a guarda. Porém eu não sou um tipo que entra em fôrmas, sempre tive personalidade e embora esperassem que eu " consertasse" minha vida casando, me tornando submissa de um marido e mãe de uma penca de meninos, resolvi que daria conta da minha própria vida, construí casa, fui morar só com meu filho, sempre trabalhei e fui uma mulher pensante. Não ligava muito para as discriminações, mas sabia que os mais conservadores não me viam com bons olhos. Foram muitos anos provando quem sou para merecer o respeito dessas pessoas. Foi justamente criticando essa postura de preconceito e exclusão que denunciei num de meus textos o quanto me sentia deslocada dessas programações e alguns se sentiram expostos e me atacaram. 

São tantos traumas, tanto desconforto lembrar desse lugar, onde deveria ser porto seguro para pessoas como eu, como meu filho, como outros membros que não se encaixam no esteriótipo deles, mas foram congregados pelo Espírito de Cristo. Quanta gente entrou e saiu, quanta gente deixou de existir para eles e isso não faz diferença para essas pessoas. Quanto sangue tem nas mãos e a consciência nem dói.

Pena que o Isaque ainda sofre e tenta. Eu desisti, não quero tentar mais nada no meio desse povo e só quero estar onde me cabe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário