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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Cantor Pedro Henrique e outros

Vi tanta gente falando em arrebatamento numa tentativa de exaltar o exemplo do cantor Pedro, a princípio era um homem correto, pai, marido, filho... Mas algo me incomodou muito num podcast onde ele falava um pouco da carreira, em como as músicas de adoração são rejeitadas pelos cristãos em relação a  essas músicas antropocêntricas, confissão positiva, onde o ego é massageado e as promessas de vitória no mundo são constantes. Muitas vezes a adoração era deixada de lado porque o engajamento das músicas chorosas ou as que prometem o que Deus não prometeu eram muito maiores. O mercado dita as ordens. As pessoas consomem apenas o que agrada ao ventre.
Infelizmente a maioria não enxerga o estado doentio da igreja evangélica e o quanto está distante do Evangelho, o quanto o mercado gospel manipula até a maneira de cada um viver a fé. Será que será necessário pastores e cantores serem arrancados da Terra repentinamente para que despertem? Já pensou se cada um que se vende para a fama cairem para trás? Louvor e adoração não vende? É auto ajuda que atrai? Até quando essa ilusão? Até quando vão tratar cristãos como artistas? Ou até quando vão tratar como espirituais quem é só artista? (Não tô falando dele especificamente) Até quando pessoas vão enriquecer usando o nome de Cristo e serem adoradas por outros cristãos? Enfim, reflitam.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Sobre o Gênesis

Segundo os literalistas, Moisés narrou uma história real, onde herdamos a culpa de dois adolescentes, que não só trouxeram a morte para o mundo, como deformaram toda a criação de Deus com sua desobediência. Deus planejou, mas o pecado o pegou de surpresa colocando tudo a perder e o forçando a planejar a redenção.

Mas quando leio o Gênesis me enxergo, até porque, Adão significa humanidade. Moisés falava a um povo analfabeto, que dependia de seus líderes para conduzi-los, um povo que não era habitação do Espírito Santo, logo não podiam discernir as coisas espirituais e aprendiam por metáfora, parábola, figuras.

Para mim, o que é menos importante é se a narrativa de Moisés era literal ou se foi a forma que ele encontrou para fazer o povo entender que o pecado nada mais é do que usurpar o "centro" como lugar de Deus na nossa vida e nos colocar lá com nossas escolhas egocêntricas. 

De fato em outras passagens é dito que o Cordeiro foi imolado desde antes da fundação do mundo, quando foram separados para Deus seus escolhidos por presciência. Apesar de todo mistério dessas afirmações, fica claro que é o que deveria mesmo ser. Que nada pega Deus de surpresa nem frustra seus planos e que o ego estava lá mesmo antes de ser despertado.

Então, quando leio algo como "você será como Deus", "você será conhecedor do bem e do mal". Percebo que foi despertado no homem o ego, o si mesmo. Na ânsia de se tornar auto suficiente e independente de Deus, o homem "comeu" do fruto o desafiando. Não foi mera desobediência, mas para pecar, o homem abriu mão de seu relacionamento de intimidade, para realizar em si mesmo sua própria vontade.

Toda vez que o homem se coloca no centro, tira Deus de lá. É assim que pecamos. Uma escolha pelo ego em detrimento do amor.

No Velho Testamento, cada vez que o Rei era fiel a Deus o povo era abençoado, mas toda vez que o ego o levava a desonrar o nome do Senhor, o homem perecia. Até mesmo o Rei Davi que amava o Senhor e era amado, pecou quando se colocou no centro para fazer sua própria vontade, matando e adulterando, colhendo as consequências de suas escolhas.

Logo, a narrativa de genesis me conscientiza de que devo negar a mim mesmo se quero fazer a vontade de Deus. Foi o que Jesus instruiu ao que quer segui-lo.

O egoísmo é o oposto do amor. Enquanto o amor renuncia a si mesmo em favor do outro, o egoísta nega o outro em favor de si mesmo. 

Do genesis ao apocalipse, a luta do homem é contra o ego para se tornar cada vez mais parecido com Cristo, que a si mesmo se deu em favor de muitos.

O que a víbora fez tentando ao homem para tirar Deus do centro para alcançar uma suposta liberdade, Jesus veio mostrar que para realizar grandes coisas, é necessário diminuir e se tornar cada vez mais dependentes de Deus. Ser verdadeiramente livre tem a ver com a liberdade de escolher ser útil e não com o vício de se satisfazer.

Já observou as crianças? Elas não tem ego para ferir, então logo esquecem as desavenças e brincam de novo. Por isso delas é o Reino. No adulto, é o ego que deixa o ódio enraizar e para ser nova criatura, é necessário ser como criança, livre para amar e doar de si.

domingo, 5 de novembro de 2023

inteligência ou sabedoria?

É possível ser uma pessoa muito inteligente e ainda assim ser um tolo. Ser inteligente, implica em tão somente ter a capacidade cognitiva plena, ser capaz de absorver o conhecimento do que se dedica, ser capaz de entender e ensinar uma gama de assuntos e nisto sobressair entre os demais. Porém se a pessoa inteligente faz escolhas ruins, irá sofrer consequências ruins de suas escolhas.

O sábio, é alguém que faz escolhas avaliando seu saber. Assim, fazendo boas escolhas, terá também boas consequências. No âmbito do conhecimento bíblico, uma pessoa pode ser inteligente para estudar a Palavra e ainda assim julgar de forma errada, por exemplo: Deus ama o homem incondicionalmente, portanto sempre perdoará qualquer atitude. Quando a própria Bíblia afirma que Deus não muda, que existe diante de nós sempre o caminho do bem ou do mal e que para ser bem sucedidos, devemos escolher o bem. Ainda diz que de Deus não se zomba, portanto tudo o que o homem plantar, isto ceifará. Logo, há uma sentença imutável que muitos chamam de lei do retorno, fato é que toda ação traz consigo a reação, toda escolha traz a consequência e Deus dá a cada um segundo seu procedimento.

Além disso "amor incondicional" se refere a graça que é o favor que ninguém jamais mereceu e já foi ofertado de uma vez por todas. Isto não dá permissão para ninguém pecar deliberadamente, esperando que Deus simplesmente se corrompa para não levar nada em conta. Aliás daremos conta de nós mesmos, pois viver desafiando a Deus é negar o sacrifício do Filho em nosso favor.
O amor bíblico não tem nada a ver com esse sentimento romantizado que os homens apregoam. Amar é tão somente doar de si em favor do outro, foi o que Cristo fez na Cruz e é o que o cristão deve fazer por todos. Quando a salvação não faz acepção de pessoas entre judeus, gentios, homem, mulher, escravos e livres, isto é amor incondicional, ou seja doação de Vida a quem não é justo por causa da justiça em Cristo. 

Assim, um inteligente ainda pode ser tolo se escolhe a mediocridade e um ignorante ainda pode ser sábio, se sabendo põe em prática o que sabe.

Tiago 3:13 "Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria. 14 Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. 15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. 16 Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí  perturbação e toda obra perversa. 17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia."

Busque pois a sabedoria que vem do alto.

sábado, 28 de outubro de 2023

dentro do espectro autista



Ultimamente parece que o autismo tem se multiplicado, ou pelo menos tem se multiplicado o grau de informações que levam as pessoas a buscarem ajuda de acordo com a necessidade de suporte de cada indivíduo dentro do espectro autista.

Mas há 50 anos atrás, para uma família desconfiar da possibilidade de um filho ser neuro diverso, era necessário um grau de prejuízo cognitivo muito grande, ou a criança passável enfrentava suas dificuldades sem ajuda mesmo.

Me lembro como hoje da minha dificuldade de interação na escola, mas antes preciso dizer o que ouvi da minha mãe. Eu era um bebê que não ia para o chão. Minha mãe disse que era cuidado dela me deixar somente no carrinho, até que alguém me colocou no chão e eu já fiquei de pé segurando e alguns dias depois andei sem nunca ter engatinhado. Imagino que para aceitar ficar no carrinho até um ano, eu devia ser uma criança muito apática.

Poucos meses depois fiquei muito doente e regredi no desenvolvimento. Conforme as enfermidades iam se agravando, deixei de caminhar e só voltei a desenvolver depois dos dois anos, até três, quando me recuperei completamente. Porém, eu era uma criança que chorava muito e não ia com ninguém além da minha mãe.

Me lembro de muitas situações quando minha mãe precisava me deixar com outras pessoas para trabalhar. Eu sempre tinha crises de choro e gritos, algumas pessoas não tinham paciência e pra mim era muito difícil ter que lidar com outras pessoas. Minha irmã mais velha brincava com outras crianças, conversava, mas eu não. Me lembro que ficava perto dela, mas não interagia com ninguém. Até me retirar pra casa, deitar no chão esgotada, onde ficava até me sentir melhor.

Fui para a escolinha com três anos, mas assim que chegava, deitava numa rede e dormia até a hora de ir embora. Minha mãe desistiu de me deixar lá. Depois aos cinco, fui estudar de fato.

Nessa pré escola, a professora chamou atenção da diretora para minhas diferenças. Eu sentava em w no chão e elas vinham me corrigir. A professora me estimulava a interagir, me relacionar, mas eu só aceitava ficar com ela. Passei o ano todo sem participar dos eventos, apresentações, mas aprendia com facilidade. Em alguns momentos tinha crise de choro quando algo saia fora do esperado, ou quando me sentia pressionada. No ano seguinte, eu dispersava muito fácil e ficava " no mundo da lua", continuei sem interagir e em casa, sempre que chegava alguém de fora, eu me isolava no quarto, ou dentro do guarda roupa, debaixo da cama, até me aproximar devagar. Conseguia interagir um pouco usando meus irmãos como instrumento. Sem eles eu não conversava com ninguém.

Conforme cresci, na minha escola elegia alguém que também era isolado, tendo um coleguinha de cada vez. Nunca queria participar de nada e sentia muito desconforto até para responder a chamada. Nunca fiz educação física na vida e só passava de ano porque me davam prova escrita. 

Aliás, na adolescência era uma dificuldade falar em público e apresentar trabalhos, então na divisão de tarefas, muitas vezes eu escolhia fazer o trabalho sozinha, para outras pessoas apresentarem na turma. Fui reprovada duas vezes sob o argumento de que era imatura para passar, mesmo tendo nota suficiente. Me sentia muito mal, estava sempre só e quando chegava em casa era muito irritável e agressiva. Nunca consegui mentir, sempre fui tida como grossa e ríspida porque não dava voltas e dizia o que pensava sem filtro. Também era teimosa, porque precisava concordar com o argumento para obedecer. Não cabia no mundo, nunca me encaixei, era angustiante não conseguir me expressar. E assim, meu tratamento eram repreensões, castigo, surras e uma coleção de estigmas que até hoje tenho que desconstruir.

Na adolescência também tive muitas dificuldades de interação, mas tinha uma amiga e minha irmã para fazer a ponte. Enquanto elas interagiam, namoravam, eu estava só por perto assistindo. Só depois dos 15 tomei coragem para beijar um rapaz. Aos 16 tive o primeiro namorado, que não me levou muito a sério porque sempre fui infantilizada.

Além das características que já citei, tenho um jeito de andar peculiar, alguns stins com som ou gestos. Não me encaixar também me trouxe episódios de depressão e ansiedade. Tive muitos relacionamentos sem profundidade, mas pouquíssimos namoros. As pessoas não estão preparadas para quem é diferente e eu só me esforçava até um certo limite. Tive poucos amigos próximos a vida inteira, a maioria se aproveitou de uma certa ingenuidade que sempre tive. Colecionei decepções e isso contribuiu para que eu vivesse a vida inteira praticamente só.

Não posso dizer que sou frustrada. Tenho um filho que consegui criar só com a ajuda da minha mãe, tenho netos que também auxilio, construí, trabalhei, produzi e aprendi a controlar meus traços autistas. Interajo por algum tempo, depois me recolho na minha paz. É um desgaste de energia estar com muita gente, mas se for por pouco tempo consigo. As maiores dificuldades eram na infância e adolescência, mas hoje estou tranquila.

Aprendi a me expressar escrevendo. Falando ainda sou muito travada. Odeio falar ao telefone, barulho e muita informação. 

Tenho o hiperfoco na minha fé, onde busco compreender e falo muito nesse assunto. São poucos os meus interesses. Na maioria dos assuntos que a massa ama, eu simplesmente não entendo nada: esportes, regras de jogos, games, filmes, política, uma gama muito grande de assuntos. Não adianta tentar entender, parece que só absorvo conhecimento se me encantar muito. Assim como as pessoas que me relacionei, sempre houve primeiro uma admiração. Algo que sobressaísse muito.

Sobre literalidade, não entendo ironias, piadas, caio fácil em pegadinhas. Sou pontual, odeio mudanças, me incomoda até mesmo trocar um móvel de lugar.

Diagnóstico? Tentei uma vez, mas no SUS só tem acompanhamento quem oferece perigo à família. No meu caso de investigação neurológica não encaminhavam. Fiz o questionário por conta própria e o resultado confirmava minha suspeita, mas como na época não tinha condições de pagar particular, deixei pra lá. O que vivi está vivido, o que pude evoluir, melhorei. O que não muda, continuo vencendo diariamente. Um dia entenderei.

Mas com toda dificuldade, ainda discordo dessa classificação de pessoas. Afinal ninguém é igual a ninguém, nem um autista é igual ao outro. E por esse prisma, quem é neurotipico ou neurodiverso?

Fato é que nunca foi fácil, mas a gente vai se treinando para ultrapassar as barreiras e vencer as batalhas. Viu como se aprende figuras de linguagem? Não sei se algum dia terei um laudo, mas no fundo cada um é quem sabe o que é. Um profissional entenderá na medida das nossas próprias respostas e avaliará em cima da nossa avaliação. 

Continuarei daqui do meu mundinho explanando sobre minhas impressões de vida, já que não consigo falar em público e passei muito mal nos momentos que tentei. Pelo menos escrevendo me faço entender. E é assim também que me insiro no mundo, pelo menos onde me dão ouvidos.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Manifestando Cristo.

Não parece contraditório que justamente o povo que acredita nas manifestações espirituais e julga a si mesmo como o povo que detém a revelação de Deus, seja o mesmo povo tão envolvido e interessado na esfera material, nos interesses terrenos, na prosperidade, na confissão positiva, nos coaching gospeis, nas pregações estereotipadas de efeito psicológico e até nas hipnoses que arrastam os mais vulneráveis? 

Há na Bíblia a característica exata que o verdadeiro cristão manifesta, a saber o fruto do Espírito. 
Gálatas 5:22 Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, domínio próprio. 23 Contra essas coisas não há lei.
Estes convencem-se que o fruto se conquista como um processo, mas o que Paulo está dizendo, é que uma vez enxertados no ramo verdadeiro, não há como frutificar de outra forma, senão sendo semelhantes a Cristo. 

De fato haverá sempre a luta entre carne e espírito, mas uma vez que o espírito está pronto e a carne é fraca, ela tem que ser dominada, a menos que seja atendida deliberadamente. Natural na vida de quem é governado pelo Espírito de Cristo, é produzir segundo seu fruto. Cuidando para não cair, é isso o que acontece.

Portanto, as pessoas que de fato seguem a sã doutrina, não são as levadas pelos ventos estranhos, ainda que apresentem sinais e prodígios, porque é assim que o diabo engana a muitos. Mas aquele que seguindo como imitador de Cristo, apresenta nas relações o mesmo amor, alegria, paz, benignidade, paciência, bondade, fé, mansidão, domínio de si mesmo etc.

Ora, o povo de Deus, embora tenha os pés na temporalidade, tem a mente na eternidade e sabe que jamais encontrará o céu na Terra. Mas persevera consciente, que muitas vezes trará na carne um espinho, mas a Graça sempre bastará.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

O saber e o conhecer de Deus

Não diminua Deus de forma que Ele caiba na caixinha dos teus conceitos, o Cordeiro foi imolado desde antes da fundação do mundo. 
Então Ele sabia que o homem iria pecar? Sim, na narrativa do Éden não havia a árvore do conhecimento do bem e do mal? Que mal? O que haveria de vir. Então a víbora não fez o homem pecar? Não, ela só mostrou ao homem que ele tinha ego, que poderia possuir a ciência como Deus e ser independente. O homem escolheu se emancipar.
Então, se Deus sabia que a Lei não justificaria ninguém, porquê a deu à Israel? Pra mostrar ao homem que ele é réu de suas próprias escolhas desde sempre e que precisa da mediação de Cristo para se religar, porque o bem que deseja fazer não consegue. Mas consumando o que estava proposto desde a eternidade no tempo oportuno, o Filho advoga nossa causa.
Mas e a Igreja? Se corrompeu e se tornou cópia da religiosidade de Israel, inclusive forjando outros ídolos. O homem é réu, lembra? Mas veio a reforma e os evangélicos são o povo de Deus, né? Bem, um olhar honesto sobre os passos da religião, verá que é mais do mesmo. O alvo mudou, os interesses são outros, é mais política e poder, fama e lucro do que qualquer outra coisa. O homem é réu, lembra? 
Deus sabia disso também? Claro que sim, você não soube que o falso profeta, a besta, o inferno e a prostituição das religiões serão lançadas no lago que consome? Para que haja restauração e plenitude, o que é palha será destruído. O que restará então? O ouro, o tesouro incorruptível que só o amor, a justiça, a misericórdia produz, estas são as obras que acompanham a fé, sem estas obras, a fé é só religião vazia mesmo, é morta. 
A Bíblia está ao alcance de quase todos, mas a sabedoria é para quem a busca.

domingo, 3 de setembro de 2023

Sem carimbo de posse

Para mim, a vida é como uma viagem de um ponto para outro, cuja obrigação de cada um é colecionar instantes. 

Assim como um viajante que olha pela janela de um trem em movimento, onde chamam atenção pessoas, paisagens, detalhes e movimento das coisas, mas não é possível se fixar em nada porque já foi. Prender o pensamento em algo, é tirar outras coisas do primeiro plano.

Ocupo os pensamentos com o que há de vir, com a expectativa, com a missão que ainda tenho, pois se ficar retida no que já passou, corro o risco de ficar desatenta ao que de fato é relevante para avançar.

Assim, me chama a atenção a capacidade de quem vive de passado ou quem é tão apegado a coisas e pessoas que se recusa a enxergar que tudo na vida é engrenagem, mas que segue adiante até perder o sentido para que novas experiências tomem seu lugar e acrescente mais crescimento. Me parece que estão estagnadas em algo ou alguém.

Situações, pessoas, estágios, fazem sentido até deixarem de fazer. Estar em determinado grupo, faz diferença até deixar de dar crescimento. Enquanto você vive uma fase, tudo ao redor conspira ao favor de te fazer evoluir, mas evoluindo, é necessário mudar os cenários e círculos de relacionamentos. 

Pessoas que avançam cinco passos mas precisam voltar dois, só avançaram três. Acabam precisando de psicólogos para ajudar a ampliar seus horizontes ou psiquiatras para dar uma camisa de força química, porque não avança e perde o objetivo atravessando na frente e atrapalhando os outros.

Enfim, aprendi a caminhar sem carimbo de posse. Instantes importantes, com pessoas que amei ficaram para trás nessa viagem que nunca parou. Posso voltar, mas jamais as encontrarei pois também viajaram e já são outras pessoas, em outras situações e outros momentos de suas vidas. Também sou passado, também sou vaga lembrança.

Nem laços de sangue tem o poder de manter pra sempre a afinidade. Cada indivíduo tem um universo distinto e nenhuma obrigação de se reconhecer no outro, embora racionalmente se sinta ligado. 

No fim das contas, a vida é a soma dos instantes, tudo o que se experimentou, enxergou, aprendeu no tempo e espaço que durou a viagem. 

Daremos conta de cada estação, do que deixamos e levamos de cada um, do que focamos como valor, do que guardamos como princípio. Reter num estágio é negligenciar outro pois tudo e todos são importantes. É assim que vivo, marcando o chão enquanto ele me marca.

sábado, 1 de julho de 2023

cegueira religiosa

É um tal de pregações e músicas antropocêntricas, um tal de "o Senhor é meu Deus, mas quero minha vitória", "sou servo se for abençoado", "te sirvo mas não aceito a dor", "é vencer ou vencer"... Um bando de barganhadores, meninos birrentos, um rebanho de tolos que lê mas não entende, se frustra porque não tem sabedoria, não discerne o que é espiritual, não compreende a fé que professa.

Não há como caminhar na contramão de um sistema estabelecido sem passar pelas aflições que Jesus disse que passaríamos. Não há como defender a sã doutrina sem passar por perseguições ou desprezo, não há como viver num mundo que jaz na iniquidade sem enfrentar percalços e desafios. Não há como viver uma vida integral sem conhecer a dor. Não há como viver a fé sem seguir os passos de Jesus a quem chamamos de Mestre. Não há porquê ansear o porvir se houvesse perfeição aqui e agora. Nem tudo é o diabo, às vezes é só o ego gritando mesmo.

Busque o Reino e de nada sentirá falta, busque sabedoria e entenderá o porquê de suas lutas, busque ser filho da obediência e encontrará propósito para sua existência, saia do centro e verá que nem tudo é sobre você e o que você quer, mas todas as coisas foram, são e serão conforme a soberania de Deus desejou.

O Evangelho prepara filhos para serem co-herdeiros com Cristo, mas as distorções religiosas criam alienados ensimesmados. Consomem comida podre de um mercado que faz comércio de gente vazia. Insistem em idolatrar pessoas, cantam incessantemente suas músicas programadas para emburrecer, seguem líderes carnais que só sabem gritar engodos. E tudo isso enquanto apontam o dedo em riste para quem vive longe de toda essa insensatez.

Quem tem ouvidos, ouça. Se Jesus não voltou e para que vocês se convertam e não apenas vivam de ilusão.

terça-feira, 27 de junho de 2023

sem rótulo

As pessoas precisam dos rótulos e como é difícil se desvencilhar deles! Há 30 anos, tive minha experiência mais importante com Deus. Antes disso, conhecia de ouvir falar, mas através desse momento, passei a enxergar que jamais estaria só. Não era mera teoria, estava diante de mim a cura, o acolhimento, a promessa, a fé encarnada em ações e o compromisso com o crescimento. 

Foram quatro anos estudando sozinha, me aprofundando no entendimento da fé cristã, até sentir a necessidade de caminhar com outras pessoas com a mesma fé. Então procurei de livre e espontânea vontade, grupos para congregar. Conhecendo mais de perto a religião em si, passei pelo longo processo de me enturmar, me acomodar e me desligar, pois identificação nunca houve.

A própria vida me deu a oportunidade de encontrar fora da estrutura religiosa, irmãos que foram mestres. Muitos encontros em várias épocas e vários formatos de ensino, que construíram com minha própria experiência, a minha noção do que é ser cristão, nunca me encaixei com o que eu enxergava na prática dos lugares que frequentei. No início, tentei modificar algumas coisas, depois vi que quem estava em outra sintonia era eu. 

Logo, eles que se adaptaram ao sistema religioso evangélico é que são os evangélicos. Na minha cabeça, claro como água, eu fui, sou e serei sempre cristã, porque meu parâmetro para viver é Cristo, minhas escolhas são pautadas no Evangelho e sempre peguei o Evangelho sem os enxertos da religiosidade. Para mim são duas coisas diferentes: o pacote de rotinas, agenda, estatuto, liturgia, entretenimento gospel, mercado musical, usos e costumes,etc. Coisas que fazem parte da empresa religiosa e desvirtua o que de fato é importante. E a postura na vida, princípios, valores, compromisso com a sã doutrina, relacionamento com a pessoa de Cristo, que é a vida que abracei.

Jesus passou três anos e meio desconstruindo a prática automática da religiosidade vazia e sem frutos, formando nas pessoas a consciência de segui-lo livres com seus dons e talentos, fora do arraial onde os campos estão brancos para a colheita. As pessoas criaram para si novas estruturas. Questão de escolha, mas não significa que estão certos.

Tanto me incomoda ser chamada de "desviada" pelos religiosos que vivem sua ilusão e dependência emocional pela estrutura de concreto, quanto ser chamada de "evangélica" pelas pessoas que me vêem pregando o Evangelho e acham que tudo é um balaio só. Não quero ser classificada, o que sou não tem um nome. Sou apenas filha e a coerência da minha fé é nítida no que falo e vivo.

Como disse um amigo dia desses, foi importante naquele momento viver aquela dinâmica? Sim, foi. Mas não tenho religião desde 2015 e pretendo nunca mais ter. Vida que segue como deve ser. Tempo de ser criança e tempo de deixar as coisas de criança. Da mesma forma que a Graça de Deus me despertou dentro de casa e não num ambiente religioso, ela vem me sustentando e conduzindo no chão da minha existência, desvinculada de qualquer dinâmica religiosa.

Quem quiser entrar em fôrmas, que entre. Quem quiser seguir roteiros, que sigam. Eu seguirei o governo que se estabeleceu no meu espírito. É de dentro para fora e não de fora para dentro. Porque me tornei habitação e a Igreja que prevalece é mística, da qual faço parte, não porque tenho mérito, mas porque fui comprada para pertencer. Assim sou, assim é, assim será.

domingo, 25 de junho de 2023

Depressão

Jesus falou sobre sua própria morte, e Pedro o repreendeu: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mateus 16:22). A resposta de Jesus foi áspera: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mateus 16:23). 

Por quê a depressão é algo diabólico? Porque a pessoa deprimida está trancada em si mesmo, afogada em sua dor, sem saída, sem noção do que está além de si mesmo. É justamente o oposto do Evangelho que propõe um esvaziar do si mesmo, para nos projetar na direção do outro, em quem nos enxergamos e passamos a ser um.

Pedro não era um diabo, era apenas alguém cegado pela carnalidade, tentando sugerir ao mestre, ser voltado a si mesmo, a escolha que pouparia sua vida, que na visão de Pedro, era o melhor que Jesus poderia fazer por si mesmo. Mas Jesus não veio com o propósito de enxergar a si mesmo como alvo, mas viveu com o propósito de pagar o resgate dos pecadores. Apesar de toda a angústia de saber que iria enfrentar a morte, sabia que este era o propósito eterno, pelo bem da humanidade. 

A vontade de Pedro parecia boa mas era egoísta. A realidade parecia injusta, mas era o ápice do amor, que se doa em favor do outro. O Cordeiro imolado desde antes da fundação do mundo, concretizou no tempo e espaço, o que já era proposto por Deus desde a eternidade.

O que Pedro estava propondo era que Jesus sentisse pena de si mesmo, que se sentisse injustiçado, ferido, magoado ao ponto de desistir. Quando Jesus o repreendeu, estava negando que o sentimento se instalasse minando sua energia, porque queria fazer a vontade do Pai que lhe enviou. Pedro estava limitado ao tempo e espaço, ainda não estava pronto para entender a consequência da morte de Jesus para o mundo. Este ato não poderia ser feito por mais ninguém. O amor só pode manifestar quando o ego recua. A autocomiseração anula o amor.

Jesus negou a si mesmo como homem, para cumprir inteiramente e consumar em si mesmo a vontade do Pai, riscando assim a dívida eterna que tínhamos e se tornando o nosso Mediador que nos reconcilia com o Eterno. De maneira nenhuma poderia dar ouvidos a Pedro, porque era isso o que o inferno mais queria.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

O Fruto do Espírito

Não raro escuto pregações sobre o Fruto do Espírito, onde o preletor ensina superficial e erroneamente que o Fruto é uma realidade a ser trabalhada, que por ser um fruto tem características que aparecem primeiro,etc. Pensa comigo.

Metaforicamente, éramos jambuseiro bravo e fomos enxertados na boa Oliveira que é Cristo. Nele, somos alimentados pela sua seiva e passamos a produzir o fruto segundo sua semelhança porque a raiz santíssima é uma só.

Embora haja o processo de amadurecimento na fé, porque há tempo para ser menino e tempo para deixar as coisas de menino, no tempo oportuno o servo está pronto para ser enviado por seu Senhor, repetindo o que aprendeu com Ele.

De fato se não há quem ensine, o povo continuará perecendo por falta de conhecimento. Um neófito tem que tem quem o conduza até que ele se emancipe. Mas se há pastor ensinando, o natural é o aperfeiçoamento.

Aí nos deparamos com pessoas acomodadas em seus maus costumes, falando do Fruto como se fosse uma possibilidade distante, como se fosse natural ouvir o Evangelho há 20, 30 anos e não produzi-lo.

Vamos observar:"Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei."
- Gálatas 5:22-23

Você consegue conceber que alguém que siga Jesus e reflete sua luz não tenha amor? Não o amor romantizado e distorcido dos homens, mas o amor de Cristo que doa de si em favor de quem não pode lhe dar retorno? Se este amor não for natural nos cristãos será em quem?

Consegue imaginar um cristão que não tenha alegria no espírito ou a paz que excede ao entendimento? Que não espere com paciência no Senhor e que não seja amável e bom? Se não for fiel a Deus ainda é servo? Se não for manso não seria ainda jambuseiro bravo? E se não tiver domínio próprio, onde está a liberdade com responsabilidade? 

Se o Fruto do Espírito é o que nos diferencia do que é comum, não há opção de não produzi-lo. Quem não tem o Espírito de Cristo não é Dele. Se a seiva da boa Oliveira circula em você, há fertilidade e há o Fruto.

De fato há muita gente nas igrejas deixando a desejar. Já ouvi um "pastor" dizer que ele nasceu assim e vai morrer assim (grosso, estupido e cheio de orgulho). De fato há muito joio no meio do trigo, mas acredite não é natural.

Natural é você usufruir de uma prosperidade que nasce de dentro para fora, te dando suporte para viver num mundo onde você está na contramão. Quando há guerra, você é pacificador, quando há perseguição você está orando, quando alguém se levanta contra você, você releva e perdoa porque sabe que é carne.

Sigamos sendo cada vez mais parecidos com Cristo, jamais relativizando o Evangelho nem nossa fé. À direita estarão os servos, os demais são filhos da desobediência, não queira estar entre estes. Produza segundo a essência amorosa que recebeu.

A máquina

Depois da criação no Éden, Deus criou o direito ao ócio. O descanso é direito dos que produzem, dos que movimentam, dos que fazem acontecer.

Quando se tem a agenda cheia de compromissos e além deles se enche também os fins de semana com afazeres religiosos, não sobra tempo para o descanso. Porém, se não se cumpre a agenda religiosa, o pobre se culpa e se sente negligenciando algo que Cristo não mandou.

As igrejas primitivas viviam em comunidade, praticamente juntos o tempo todo, uns cuidando dos outros, repartindo o pão e os recursos entre si, mas não criavam programações intermináveis, agendas semanais na estrutura, mas conviviam naturalmente em seus lares, onde um participava com o outro e eram um. Ninguém saía da rotina, continuavam trabalhando e descansando.

Depois que a Igreja virou empresa e não pode mais descansar sob o risco de perder gente e dinheiro, apareceu a necessidade de encher a agenda de atividades, entretenimento, além de rituais diários para justificar a presença da congregação praticamente o tempo todo.

Enquanto alimentam a máquina, seus membros estão cada vez mais no automático, sem a alegria de servir por amor, com a consciência de unidade que faz da comunidade uma Igreja.

domingo, 23 de abril de 2023

Do outro lado da porta

Mal cheguei no mundo e já lutei pela vida. Desafiando a medicina que me desenganou com menos de dois anos, acabei vencendo por meio da fé e luta de outras pessoas. Mas entrar nessa esfera etérea e vislumbrar a porta entreaberta, me garantiu crescer crendo. Eram muitos testemunhos e cada vez que eu os ouvia, mais me aproximava de Cristo com gratidão.

Se olhar para a esfera natural, esse tempo e espaço onde um ego disputa com outro, sou aquela que fracassou. Muitas vezes me questionei o porquê de estar aqui, se tudo o que desejei ficou pelo caminho. Foram tantas as lições e provações que vivenciei, que mesmo desejando não estar aqui perseverei por causa da porta entreaberta.

Por ali saía minha força, por alí no tempo oportuno saíram cor, sabor e perfume, ao som de palavras que são Espírito e Vida. Se não fosse o que há do outro lado, jamais teria me sentido cuidada, suprida, acompanhada, ensinada, garantida. Mas o fio que me liga e faz atravessar a porta que para mim ainda é mistério, me leva a lutar e vencer ou lutar e crescer quando não venço.

As religiões não respondem, mas a fé sim. Eu não saberia explicar, mas é o que tem que ser. Despindo-me do que quis e revestindo-me do que Deus planejou para mim, ainda que perca tudo, de nada tenho falta. Aprouve a Deus cuidar de tudo o que preciso pelo tempo que reservou para eu viver essa experiência. Aqui não me enraizei e quando minha senha chegar, me desprenderei sem dificuldades. Sabendo que vida mesmo, é o que tem do outro lado da porta.

terça-feira, 28 de março de 2023

diferenças

As diferenças não são para que um homem compita com o outro, nem para fatiar a humanidade em guetos, nem para um menosprezar o outro. Somos diferentes para somar, para nós completar, para que onde acabe o limite de um comece o do outro, como um perfeito organismo funcionando juntos e sendo uma coisa só. 

Qualquer tentativa de segregação é como uma doença autoimune, onde sacrificando o outro, vai junto uma parte de nós. Ninguém tem todas as respostas, ninguém tem razão o tempo todo, ninguém é dono da verdade absoluta e essa constante disputa é carne, é ego, é engano, é distanciar-se do propósito para o que fomos chamados.

Assim, as religiões tentam sintetizar a intuição, tentam moldar a forma das pessoas, tentam traduzir para a linguagem humana, o que o espírito pronto já conhece. Geralmente não consegue, cada uma cria seu próprio dialeto.

O que nos unifica só pode vir de dentro para fora. É seiva que circula na alma, como o sangue para o corpo. É o que faz a diferença na vida de alguém: se você aprendeu a amar ou não.

Amar não só os que se parecem com você, não só os que alimentam seus devaneios, os que caminham na mesma direção. Mas amar sem acepção, sabendo que o próximo é sua extensão, mesmo quando está distante, falando o que você não concorda, aprendendo em outra sintonia, vivendo outras experiências. Ainda assim te completa, ainda assim troca contigo, ainda assim somos um.

sábado, 18 de março de 2023

Não sou lugar, sou caminho.
Ninguém demorou em mim.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

E.Q.M.

Quando assisto alguém falar de suas experiências de quase morte, chego a suspirar de esperança. Algumas pessoas religiosas podem rejeitar ou classificar como delírio forjado pela mente em crise, mas para mim que sempre faço um link com as palavras de Jesus, percebo que se esquecer um pouco a tradição religiosa, tudo faz muito sentido. 

Lembro de Paulo se referindo a sua própria experiência, quando visitou o terceiro céu e ouviu coisas inefáveis. Muitos acham simplesmente que ele foi arrebatado para ter essas visões, mas sabemos o quanto ele foi agredido e ficando entre a vida e a morte tantas vezes, sofrendo espancamentos, naufrágio, apedrejamento, etc. Nem ele conseguia explicar se foi no corpo ou fora do corpo, mas viu coisas tão maravilhosas que preferia se calar.

Outras vezes me lembro das palavras de Jesus, descrevendo um lugar bonito, precioso e iluminado, onde dor e sofrimento não entram. Onde o tempo e espaço são singulares e incomparáveis, onde há moradas sem fim para todos. Um Reino de igualdade, justiça e plenitude, onde Ele mesmo estará conosco face a face.

De certa forma, ouvir essas pessoas é consolo pra quem vive a densidade de existir nesta dimensão. Pessoas que estiveram em coma, ou em choque, ou em parada cardíaca, se enxergam fora do corpo físico e pisam o solo da atemporalidade, onde experimentam novos sons, cores, nova forma de se comunicar e sobretudo, a delícia de se livrar do peso desse corpo. Entendem a necessidade de se enxergar no todo, como parte uns dos outros, com a função de se auxiliar e com a missão de dizer que o que faz a diferença é o amor, com mais eficiência que as religiões que perderam o alvo.

Minha vida é densa, meu corpo pesa tanto... Minha história é pesada, meus relacionamentos foram difíceis, a luta parece nunca ter fim. Mas minha fé me sustenta numa dimensão onde caminho no chão da vida, enquanto minha mente espera nas coisas do Alto. As metáforas bíblicas dizem que estou assentada nas regiões celestes com Cristo, aguardando a consumação dos séculos, vivendo o Reino desde agora e para sempre. Então espero, anseio, desejo ardentemente me libertar dessa densidade, para enfim conhecer a plenitude. A morte não é o fim, é a redenção.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

corpo gordo

O corpo gordo não é digno de afeto.
Antes de ser apedrejada, gostaria de dizer que eu tenho um corpo gordo e não estou dizendo que não me relacionei com ninguém. Ao contrário, basta querer que sempre tem um cara " disposto". Porém, ou assumem seu fetiche vazio de qualquer sentimento, ou simplesmente fingem ser o que não são por algum tempo, até esgotar a paciência e a própria pessoa gorda acaba pondo fim na relação.
Quando eu era novinha e cheia de ilusões, achava que sempre haveria uma tampa para cada panela. Porém, depois de muitos relacionamentos abusivos, percebi que o formato do meu corpo determinou o quanto de afeto mereci. Meus relacionamentos foram de muita doação da minha parte, mas o retorno foi pouco sexo e afeto nenhum.
Claro que não posso generalizar a partir da minha experiência, mas basta conversar com outras mulheres gordas e constatar que a ditadura da perfeição que classifica as pessoas e especialmente as mulheres, determina quem vai ser ou não contemplada com a "felicidade" de ser correspondida afetivamente. A maioria dos homens que se relacionam com mulheres gordas, ou querem uma aventura, ou a tem como segunda opção. Dificilmente a assume publicamente, seu caráter, virtudes, individuação não são levados em conta, com raríssimas exceções.
As pessoas que perguntam porque optei por atravessar a vida sozinha, já sabem a resposta. Ou a pessoa gorda se submete a viver de resto ou vive sua dignidade sem esperar nada dos outros.
Grande parte delas vivem a frustração de ser preterida por alguém dentro dos padrões e emendam uma busca na outra, mas eu preferi focar minha energia em outros alvos. Consciente que apesar de ser tão bacana quanto as outras, jamais receberei de cidadão nenhum o afeto que mereço. Sigo cuidando de mim.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

injustos juízes

Priscila Alcântara, Leonardo Gonçalves, Kleber Lucas, cito esses nomes só pra chamar atenção, porque quero mesmo é falar de quem os ataca. Volta e meia assisto discussões ferrenhas entre os que são religiosos e constituem a si mesmo como juízes uns dos outros, classificando pessoas e destinando ao inferno quem não compraram com sangue. 
É incrível como os legalistas de hoje ainda não compreenderam que o pródigo nunca deixou de ser filho e que cada ser humano tem seu próprio processo. Que o que fica, não só já condenou o que vai, como reprova inclusive a bondade do Pai. 
Um olhar menos hipócrita, enxergaria que entre a meia dúzia de convertidos que há no vosso meio, tem também os omissos, os alienados e os filhos do inferno sugando a energia do trigo. E que estar num rol de membros, ou com um diploma de pastor na mão, ou cumprir uma agenda religiosa não garante a ninguém um relacionamento com Deus. 
Que se estivessem se importando de fato, estariam buscando com pranto uma nova reforma com menos distorções da Bíblia, porque nem tudo é ignorância, na maioria das vezes é má fé mesmo. 
Quem resgata o homem é a Graça de Deus e Ele mesmo arregala os olhos dos filhos para a própria miséria. Se cada um chorasse e lamentasse pelas próprias falhas, não sobraria tempo para fiscalizar a caminhada alheia. 
Ainda que seja possível enxergar joio e trigo, o trabalho de separar não é nosso. À Igreja cabe anunciar que o preço foi pago e acolher quem o Espírito ajunta. Se entra no meio de vocês uma prostituta, um ex presidiário, um travesti, vocês não sabem o que fazer com eles, como querem conduzir o entendimento de quem se enxerga como filho? Não souberam o que fazer comigo que sou mãe solteira, como acham que podem resgatar quem escolheu ficar bem longe da bocarra cheia de bravatas e hipocrisia de vocês? 
Cada um responderá pelas próprias escolhas e enquanto há vida, todo mundo pode se esvaziar da caduquice dos seus conceitos. Deus cuida de cada um. Quando o pródigo lembra do pai, não é com o discurso condenatória do filho que acha que não erra, mas vem com gratidão. E o Pai só tem pra ele, festa.