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domingo, 26 de janeiro de 2020

Sobre os mistérios da existência

Tenho consciência de que a energia encapsulada num corpo, é muito menor do que a energia que se expande depois da "morte". Por esse prisma, a sensação de pertencimento é maior com o universo do que com a própria existência nessa realidade da consciência de quem sou.

A impressão que tenho, é de que vivi o que era pra ser vivido. De certa forma estava programado para mim, subir estes mesmos degraus para me tornar esta essência que me tornei. Não há em mim uma raiz de arrependimento por ter escolhido este e não aquele caminho, esta e não aquela companhia... Sinto que era esta família, este lugar, estes amigos, esta experiência e tudo sob o controle de algo muito maior, o todo onde estou conectada.

Desta forma, o Evangelho está entranhado em mim, quando entendo que estou no mundo mas não pertenço a ele, que sou iluminada pela verdadeira Luz, que quando choro pelo outro, ou me alegro com ele, é por causa dessa conexão, onde eu sou o outro diluída no todo. A sensibilidade para chegar e sair quando o ciclo se fecha, o foco maior no que sentir do que no conseguir conquistar coisas. Ao mesmo tempo, tive tudo o que precisei inclusive as respostas. Sinto que aceitei um pacote completo e sabia o que esperar da vida.

Me lembro de responder na infância, quando alguém perguntava o que eu queria ser quando crescesse e eu respondia: Quero ser mãe, mas não quero ter marido. Parecia que estava contando o que viria pela frente, porque sabia que jamais constituiria uma família tradicional. Sou mãe sem marido e avó sem nora. Mas sinto que não poderia ser diferente.

Com relação aos grupos que participei, sinto que não encontrei a verdade. Encontrei pretensão, julgamento, hipocrisia e muita falsidade, maquiado de piedade. Embora considere que cada um teve propósito para me ensinar alguma experiência, soube quando o tempo de estar alí se esgotou e não sinto saudades de nenhum.

Enquanto estiver limitada a esta capsula de carne, tudo o que tenho são impressões, mas tenho consciência de que a Vida tem uma dimensão muito maior do que consigo definir. É como se o espírito soubesse de tudo e eu tivesse que me compactar pra caber no contorno desta forma.

Pra caber nas definições, me classificaram como asperger. Talvez isso facilite para quem é neurotipico, entender que não preciso de tanta interação com o mundo físico e pareço diferente. Mas pra mim, quanto mais severo é o autismo, mais a pessoa está conectada com coisas maiores. E quanto mais "normal", mais conformado com o ínfimo.