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sábado, 19 de fevereiro de 2022

Lar doce lar



Quando estava escolhendo piso bege para revestir minha cozinha, o pedreiro me sugeriu comprar tudo branco, chão e parede, porque ficaria mais bonito. Eu já tinha em mente a cozinha que eu queria, com parede clara e chão mais escuro, tudo em tom de bege e os acessórios e eletrodomésticos vermelhos para destacar dos armários e geladeira e fogão brancos. No fim, tudo ornaria muito bem e com minha personalidade.

Pra mim, um ambiente muito Clean, que geralmente as pessoas escolhem porque os decoradores sugerem, é algo sem a marca do morador. Menos pra mim não é mais, é ausência mesmo, de reflexo de si no próprio lar. Pra mim, a nossa casa tem que contar nossa história, nossos gostos e personalidade. Tem que ter informações sim, porque somos complexos, porque temos estilo e memórias distintas. 

Eu não me sentiria bem numa casa toda branca e sem detalhes que remetam a minha vida conturbada e cheia de memória. Me sentiria um robô, sem poder ser espontânea para não tirar nada do lugar. Parabéns pra quem consegue e gosta. Mas eu, apesar de gostar de cada coisa no seu lugar, não sou metódica com a limpeza e nem me estresso com uma bagunça moderada, afinal, tudo o que é bom acaba desorganizando a casa. Onde tem vida, tem vestígios 

Por aqui, a pegada é rústica, com muito artesanato e paninho pra todo lado. Sou apaixonada por tapetes, almofadas, cores, cortinas, enfeites e porta retratos. Tem estátua de basset que remete a minha saudosa Safira, tem caminhão de bombeiros em homenagem ao meu pai, tem brinquedos dos netos, tem flores artificiais, cristaleira e madeira de verdade nos móveis. Tem cachorro zanzando, tem TV ligada e tem cheiro de bolo assando e café fresco de coador.

Tem muita informação, é um pouco escura, tem o tamanho ideal pra mim e tem a minha cara. Precisa de ajustes e melhorias, está em constante reforma, mas é aconchegante e agradável, como meu abraço. Não é a casa dos meus sonhos, mas é a casa que foi se transformando na extensão de mim mesmo, é um pouco de mim, da minha fé, da minha individuação. Quem entra aqui, me reconhece. É assim que acho que tem que ser.