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domingo, 19 de fevereiro de 2023

E.Q.M.

Quando assisto alguém falar de suas experiências de quase morte, chego a suspirar de esperança. Algumas pessoas religiosas podem rejeitar ou classificar como delírio forjado pela mente em crise, mas para mim que sempre faço um link com as palavras de Jesus, percebo que se esquecer um pouco a tradição religiosa, tudo faz muito sentido. 

Lembro de Paulo se referindo a sua própria experiência, quando visitou o terceiro céu e ouviu coisas inefáveis. Muitos acham simplesmente que ele foi arrebatado para ter essas visões, mas sabemos o quanto ele foi agredido e ficando entre a vida e a morte tantas vezes, sofrendo espancamentos, naufrágio, apedrejamento, etc. Nem ele conseguia explicar se foi no corpo ou fora do corpo, mas viu coisas tão maravilhosas que preferia se calar.

Outras vezes me lembro das palavras de Jesus, descrevendo um lugar bonito, precioso e iluminado, onde dor e sofrimento não entram. Onde o tempo e espaço são singulares e incomparáveis, onde há moradas sem fim para todos. Um Reino de igualdade, justiça e plenitude, onde Ele mesmo estará conosco face a face.

De certa forma, ouvir essas pessoas é consolo pra quem vive a densidade de existir nesta dimensão. Pessoas que estiveram em coma, ou em choque, ou em parada cardíaca, se enxergam fora do corpo físico e pisam o solo da atemporalidade, onde experimentam novos sons, cores, nova forma de se comunicar e sobretudo, a delícia de se livrar do peso desse corpo. Entendem a necessidade de se enxergar no todo, como parte uns dos outros, com a função de se auxiliar e com a missão de dizer que o que faz a diferença é o amor, com mais eficiência que as religiões que perderam o alvo.

Minha vida é densa, meu corpo pesa tanto... Minha história é pesada, meus relacionamentos foram difíceis, a luta parece nunca ter fim. Mas minha fé me sustenta numa dimensão onde caminho no chão da vida, enquanto minha mente espera nas coisas do Alto. As metáforas bíblicas dizem que estou assentada nas regiões celestes com Cristo, aguardando a consumação dos séculos, vivendo o Reino desde agora e para sempre. Então espero, anseio, desejo ardentemente me libertar dessa densidade, para enfim conhecer a plenitude. A morte não é o fim, é a redenção.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

corpo gordo

O corpo gordo não é digno de afeto.
Antes de ser apedrejada, gostaria de dizer que eu tenho um corpo gordo e não estou dizendo que não me relacionei com ninguém. Ao contrário, basta querer que sempre tem um cara " disposto". Porém, ou assumem seu fetiche vazio de qualquer sentimento, ou simplesmente fingem ser o que não são por algum tempo, até esgotar a paciência e a própria pessoa gorda acaba pondo fim na relação.
Quando eu era novinha e cheia de ilusões, achava que sempre haveria uma tampa para cada panela. Porém, depois de muitos relacionamentos abusivos, percebi que o formato do meu corpo determinou o quanto de afeto mereci. Meus relacionamentos foram de muita doação da minha parte, mas o retorno foi pouco sexo e afeto nenhum.
Claro que não posso generalizar a partir da minha experiência, mas basta conversar com outras mulheres gordas e constatar que a ditadura da perfeição que classifica as pessoas e especialmente as mulheres, determina quem vai ser ou não contemplada com a "felicidade" de ser correspondida afetivamente. A maioria dos homens que se relacionam com mulheres gordas, ou querem uma aventura, ou a tem como segunda opção. Dificilmente a assume publicamente, seu caráter, virtudes, individuação não são levados em conta, com raríssimas exceções.
As pessoas que perguntam porque optei por atravessar a vida sozinha, já sabem a resposta. Ou a pessoa gorda se submete a viver de resto ou vive sua dignidade sem esperar nada dos outros.
Grande parte delas vivem a frustração de ser preterida por alguém dentro dos padrões e emendam uma busca na outra, mas eu preferi focar minha energia em outros alvos. Consciente que apesar de ser tão bacana quanto as outras, jamais receberei de cidadão nenhum o afeto que mereço. Sigo cuidando de mim.