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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Se o amor se esfriou, como tratar os frios?




Uma amiga desabafava comigo, à respeito de uma cunhada, que mesmo vendo que a mãe estava debilitada e precisando de repouso por causa de uma costela fraturada, permitia que ela cozinhasse e não a ajudava. Indignada, minha amiga dizia não entender como um coração podia ser tão ruim, capaz de ser indiferente à própria mãe.
 
Como estávamos numa festa e não era o momento oportuno para falar, eu só ouvi. Mas tenho uma opinião sólida à respeito do que acontece com esta moça. Não sei se as pessoas envolvidas lerão este texto, mas senti vontade de publicá-lo. Quem sabe posso ajuda-la a entender?
 
Primeiramente, o amor é uma disposição para se doar e servir ao próximo. Ele não espera retorno e não tem vínculo com obrigações. À princípio, é obrigação de uma filha cuidar da mãe nessas condições, mas porque há a instituição família, onde há troca (phileo) e não por causa do amor (ágape). O amor por si só, já dá um passo na direção do outro em necessidade, sendo este parente ou não.
 
Uma pessoa que não consegue amar, não está odiando e nem sendo indiferente. Ela está se colocando no centro, se servindo em primeiro lugar. O egoísta, é alguém que ainda não assimilou o amor de Deus, portanto, está impedido de amar ao próximo como à si mesmo.
 
Uma pessoa egoísta, não deve ser alvo do meu ódio, críticas e acusações, mas deve ser alvo de misericórdia. Devo exortá-la com amor, mas não devo atacá-la por não conseguir amar. Nem ela sabe que não ama, pois só a Graça de Deus, é capaz de desvendar os olhos do homem para a própria condição. E só à partir desta constatação, sabendo que somos dignos de condenação, passamos a agir com misericórdia com estes, até que ele desperte.
 
Se não há testemunho de sermos semelhantes a Cristo, o que fará o egoísta identifica-lo em nós? Se não refletimos Sua Luz, como o egoísta sairá das densas trevas? Descer ao patamar dele para afrontá-lo, é no mínimo infantilidade espiritual.
 
A "acusada" sempre me tratou com o maior carinho, me presenteou e fez questão de ir até minha casa. Logo, é uma pessoa capaz de demonstrar afeto. De forma nenhuma posso trata-la como se tivesse um coração pior que o meu. Só não é ainda capaz de ver, para dentro e à partir de si. Então, se prioriza.
 
Este não é um privilégio desta moça. O amor se esfriou da maioria, ao ponto de classificarmos quem merece e quem não merece o que chamamos de amor. O amor verdadeiro não faz acepções e toma para si a responsabilidade, mesmo que não haja parentesco. Aliás, quanto menor a obrigação, maior pureza haverá na manifestação do amor.
 
O que temos nós à oferecer à Deus, que Ele precise? Que necessidade Dele podemos suprir com nossos favores ou como podemos completá-lo? Que preço podemos pagar-lhe, como retribuição ao que Dele recebemos? Nenhum. Isto é amor.
 
A Graça de Deus nos alcançou e nos resgatou da miséria que somos. Somos pó e poderíamos ser aniquilados, mas o Amor decidiu nos salvar, incondicionalmente, gratuitamente. Este é o amor genuíno, essência divina que uma vez transcendeu à nós, para que pudéssemos emanar na direção do próximo.
 
O egoísta é alguém cego para este amor. Cadáveres limitados ao mundo físico. Gente com urgência em se atender, porque não se enxerga eterno. Para estes, o porvir não existe, se negar para servir ao outro é loucura.
 
Como cristãos, não cabe à nós guerrear contra a carne e sangue. Enxergar para além do que vêem, é compreender a escravidão espiritual, como algo fora do controle do escravizado. Olhar a estes como Jesus olhou aos que lhe matavam: "Pai, perdoa-lhes pois não sabem o que fazem!"

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