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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Saudades do homem mais lindo do mundo

Naquele dia, ele acordou de muito bom humor e resolveu não sair para trabalhar tão cedo. Ficou conosco até mais ou menos 10hs da manhã e depois desceu ao estacionamento para limpar o carro antes de  sair.

Não era costume nosso, mas naquele dia, ficamos nas janelas dos dois quartos, dois em cada uma, como uma platéia, assistindo ele dançar e fazer gracinhas, enquanto passava o pano e lustrava tudo.

Ele estava orgulhoso de ver a família alí, assistindo ele se preparar pra sair. Estava tão alegre, que entrou no carro e saiu de ré. E à cada espaço de dois metros, colocava a cabeça pra fora da janela e dava um tchauzinho. Fez isso várias vezes, enquanto a gente se escangalhava de rir. E por último, parou no portão do estacionamento e ficou por alguns minutos acenando.

Foi a última vez que vi meu pai com vida.
Naquela noite, à um quarteirão de casa, um acidente o levou de nós.
Hoje, fazem 24 anos. Parece tempo demais, mas o amor jamais acaba. 
Num dia eterno, sentaremos sob uma árvore e eu o ouvirei cantarolar novamente ao som do violão.



Minha mãe fez este vídeo à uns anos atrás. No final, ele cantava num momento qualquer, uma música que ela compôs. Que saudades... amado... eternamente amado!

8 comentários:

  1. Me deu saudade também.

    Que escrita tão doce, querida Jan.

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  2. Meninas, que pena que as fotos são antigas e de péssima qualidade, além de muito pequenas. Vocês veriam que além de tudo isso que falamos no vídeo, meu pai era muito lindo :)

    A morte, a distância, o tempo, são circunstâncias ineficazes contra o amor, que é algo divino e eterno. Vocês não tem noção do quanto amei esse homem!

    Vivi, quando ouço a voz dele nesse vídeo, parece que estou vendo ele dedilhar o violão.
    Parece que quando alguém amado se vai, tudo o que ele foi fica imenso dentro de nós. Talvez seja por isso que ainda dói tanto.

    Tamara, meu pai se parecia com você. Ele se entregou inteiro para a vida, para a alegria, para a música, para os amigos, os breves 40 anos que viveu foram plenos e muito felizes.

    É isso, gente.

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  3. que pena que o mundo perdeu uma pessoa maravilhosa, que imagino que tenha sido, pelo jeito que vc o descreve.

    Vivi

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  4. O meu pai foi muito intenso, Vivi. Ele era uma pessoa encantadora e não tinha um que não gostasse muito dele. Mas ele sempre disse que morreria aos 40 anos, porque Deus disse à ele (não me pergunte como) e mesmo que a gente desconversasse e dissesse que era bobagem, ele insistia em nos instruir para que não fôssemos pegos de surpresa.

    No dia anterior, era domingo. Ele me deixou com minha irmã num baile na esquina de casa e ficou em frente, num restaurante com minha mãe, dizendo à ela à quem ela deveria procurar caso acontecesse, como ela deveria proceder com o velório, o que deveria fazer para quitar o apartamento, etc.

    Se um ônibus desgovernado não tivesse invadido o estacionamento do supermercado e pego meu pai de costas, poderíamos até imaginar que ele estava planejando algo sinistro. Mas o ônibus perdeu o freio, o sinal fechou, haviam pessoas atravessando. Para não atropelar esses, o motorista jogou o ônibus para o estacionamento e atropelou meu pai, que estava abrindo a porta do carro para vir embora, depois de comprar chocolates pra nós. Ele ficou imprensado no poste de pé, só feriu a cabeça e não viu a morte. Algo terrível que comprometeu toda a minha estrutura e eternizou tudo o que ele representou pra nós.

    Além de militar, ele era taxista nas horas vagas. Aquele era o último dia da licença prêmio que ele recebeu, mas não descansou em nenhum. Trabalhou no taxi o mês inteiro. E foi esse dinheiro que nos sustentou até a família se reestruturar. Minha mãe viúva aos 36 anos, com 3 filhos e uma sobrinha para acabar de criar.

    Nunca vi um velório tão abarrotado de gente. Os taxistas fizeram um círculo no quarteirão inteiro. Os militares fizeram aquele ritual com tiros para o ar e amigos incontáveis lamentaram muito aquela perda.

    Mas ele se dizia pleno e realizado. E tinha uma fé muito firme. Eu creio que nada acontece fora do tempo.

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  5. história linda e triste, mas linda.
    Vivi

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  6. É, a morte é um mistério pra nós e a melhor postura diante dela é mesmo o silêncio.
    Mas pelo menos dentro de mim e da minha família, ele vive :)

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