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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Conversão

Segundo a ortodoxia, há um momento na vida do homem, em que ele se reconhece pecador e aceita Jesus como seu Salvador. Cria-se em nossa mente, que à partir daquela data, nascemos de novo, o Espírito vem habitar em nós e começa um processo de santificação.

Mas basta olhar para a vida de um cristão confesso e perceber que ele é tão pecador quanto qualquer outro homem e tão indigno quanto outro que jamais ouviu falar de Cristo.

Observando os ensinamentos de Cristo e com a ajuda de Seu doce Espírito, tenho mergulhado na profundidade do Seu amor e compreendido algumas coisas que antes via através de uma suave penumbra, mas agora, com a clareza de um farol (que se descabelem os ortodoxos).

Este dia chamado de conversão, é uma ilusão. É só mais um rótulo para servir de vanglória.

À partir de minha experiência, posso dizer que meu relacionamento com Deus, começou no dia em que nasci, apesar de desconhecer qualquer tipo de doutrina.

A Revelação bíblica, me diz que antes da fundação do mundo, o Cordeiro foi imolado. Portanto, mesmo que minha carne seja corrompida, nasci sob a Graça. Jesus não ensinou religião, mas consciência de sermos todos um. E para isso, Paulo usou a metáfora do Corpo.

Durante a caminhada, as circuntâncias me moldaram e houve um dia em que me reconheci nua.

A narrativa da criação, ilustra o momento em que Adão se viu nú, reconhecendo sua condição, encontrando nessa maturidade de discernir entre bem e mal, a necessidade de ser lavado com o Sangue da reconciliação.

Mas o ponto da conversão é este: enxergar-se nú e completamente dependente e vulnerável como uma criança.

Os religiosos se enganam tanto... os vendilhões da fé corrompem a essência do cristianismo, convencendo os homens de que são privilegiados os bem sucedidos na vida. Mas a Revelação diz outra coisa.

O deus desse mundo é Mamon e é quase impossível não se corromper com ele em algum momento. O capitalismo dita as regras que comandam o mundo. E para continuar se vendo nú, o homem precisa escolher servir à Um e à aborrecer o outro.

Nas palavras de Cristo, um tanto duras, ele diz que um rico já teve sua recompensa e que para eles é quase impossível entrar no Reino. Justamente porque para entrar no Reino, é necessário se reconhecer nú.

Meditando nessas coisas, vi que não há nudez mais evidente, do que a das pessoas que tiveram a infelicidade de nascer em países subdesenvolvidos, ou assolados pela fome, pelas guerras, pelas catástrofes. Ou mesmo os que vivem entre nós como excluídos.

E justamente com eles que Cristo se identificou. Ele ensinou o desprendimento, quando disse que quando acolhemos estes, estamos fazendo à Ele diretamente e quando nos negamos à fazer pelos pequeninos, estamos negando à Ele.

Muitos desses pequeninos, jamais ouviram sobre o Evangelho, nem conheceram a história de Jesus homem, mas certamente Seu Espírito habita neles, porque são completamente vazios de qualquer glória, prestígio, status, e nem mesmo sua dignidade é reconhecida. São verdadeiramente nús.

Assim tenho crido. Quanto mais vazios de si, mais domínio Deus tem sobre o homem. A Graça não alcança o homem pela consciência do Evangelho, mas pela essência de Cristo transbordando do interior.

Perceberam que quanto mais um povo é sofrido, mais solidários são uns com os outros? E quanto maior o patrimônio de uma pessoa, mais cheio de si se torna e mais egocêntrico, vaidoso e arrogante com relação aos mais simples?

A parábola do Bom Samaritano é um bom exemplo que para ser segundo a essência de Cristo, não há necessariamente alguma ligação com a religião. Ou com um momento de conversão, mas basta a essência do amor.

E naquele dia, em que deveremos nos apresentar diante do Justo, não importam que tipo de obras religiosas temos realizado. Ele nos reconhecerá ou não, pela nossa essência parecida com a Dele, que renunciou a Sua Grandeza para ser maldito em favor de cada um de nós.

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