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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Abismo

Eu tinha a ilusão de que o amor era o elo que unia os homens. Achava que era capaz de me doar, despretenciosamente, incondicionalmente pelo simples fato de ter sido amada primeiro, pelo meu Deus. Achava que aquele sentimento que nascia livremente em mim, me traria mais benefícios ao encaminhá-lo, do que ao que recebesse. Mas em mim, esse sentimento se converteu numa doença corrosiva, que dissolveu o que eu julgava ter de mais valioso. Hoje, o que chamei de amor, me causa dores insuportáveis, que me fazem amanhecer o dia chorando e dormir do mesmo jeito.

E no outro, refletiu como algo repugnante, como um mal contagioso, que afasta e cria resistência. O que tive como amor, nada mais foi que vontade de amar. Vontade egoista de receber em troca. Não... não sou capaz de sentir amor. Amor que dá sem pensar em receber, amor que simplesmente ama e se entrega. Não sei amar, não sou capaz de me doar sem esperar retorno. Existe abismo mais fundo que esse? Tem como descer mais que isso?

Sexo pra mim, sempre foi algo sagrado e sublime. Tão puro, que passei a vida inteira me dominando para não profaná-lo. Não existe momento na vida de um ser humano, onde a entrega seja mais completa. Onde literalmente, um corpo entra no outro e se tornam um. Pra mim, sexo é mais que corpo, é enlace de almas, é algo imenso. E eu não consigo desvincular o prazer, do sentimento, da troca de afeto. Porém, desejo alguém que não quer estar comigo. Existe abismo mais profundo? Ainda há como descer mais?

Sim, já estive aqui em outras ocasiões, mas naquele tempo, reivindiquei apoiada numa suposta condição de filha. Num suposto direito adquirido. Talvez essa ilusão tenha me beneficiado. Eu fazia parte do grupo que acha que é, que acha que pode, que acha que sabe. Mas hoje, pela primeira vez me vejo nua, sendo nua. Me vejo só, sendo só. Me vejo miserável, sendo miserável. Me vejo doente, sendo doente.

Tem como rastejar mais que isso? Cheguei no fundo do abismo? Ou ainda pode haver alguém mais miserável ainda, que use minha carcaça como degrau e assim minha vida ganhe algum propósito? O único anseio que consigo ter, é a cova como abrigo e a terra como consolo. Não há força em mim para reagir, nem esperança para encontrar sabor nas coisas. Não sou digna do espaço que ocupo. Não mereço a vida. Estou perdida. Descobri que esse é o inferno e que não há esperança... não há nada adiante.

Em que consiste a boa notícia?Cristo dizia aos fariseus, que se fossem cegos não teriam pecado, mas como viam, eram imputado o pecado à eles. Estou vendo... antes, era cega e achava que o mal não me tocava. Era feliz. Mas agora vejo que não há o que fazer.
Meu desejo é contra mim. Meu sentimento mais puro, é doença.
Não, não há como descer mais que isso.

3 comentários:

  1. Não se preocupem, não sou suicida... :D vou fazer terapia. rsrsrs

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  2. Oi querida, os relatos estão aí para mostrar que somente quando chegamos no ponto em que não há mais como descer e passamos a enxergar nossa condição humana de estar só, miserável e doente é que Deus pode sobremaneira derramar o seu amor sem medidas. Quando enxergamos esta verdade (e isto é Ele também que opera em nós) percebemos que já não mais precisamos mendigar nem nos rastejar por isto, pois Ele é a fonte de todo amor. Ele é o próprio amor! E conhece cada uma das nossas necessidades mais essenciais. Um beijo grande. (E terapia é sim muito bom...)

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  3. Espero que estejas bem. Só Deus mesmo para nos confortar e suportar com todo o seu amor constrangedor.
    Meio caminho andado para a cura, é conseguir falar o que sentimos.
    beijos

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