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terça-feira, 27 de junho de 2023

sem rótulo

As pessoas precisam dos rótulos e como é difícil se desvencilhar deles! Há 30 anos, tive minha experiência mais importante com Deus. Antes disso, conhecia de ouvir falar, mas através desse momento, passei a enxergar que jamais estaria só. Não era mera teoria, estava diante de mim a cura, o acolhimento, a promessa, a fé encarnada em ações e o compromisso com o crescimento. 

Foram quatro anos estudando sozinha, me aprofundando no entendimento da fé cristã, até sentir a necessidade de caminhar com outras pessoas com a mesma fé. Então procurei de livre e espontânea vontade, grupos para congregar. Conhecendo mais de perto a religião em si, passei pelo longo processo de me enturmar, me acomodar e me desligar, pois identificação nunca houve.

A própria vida me deu a oportunidade de encontrar fora da estrutura religiosa, irmãos que foram mestres. Muitos encontros em várias épocas e vários formatos de ensino, que construíram com minha própria experiência, a minha noção do que é ser cristão, nunca me encaixei com o que eu enxergava na prática dos lugares que frequentei. No início, tentei modificar algumas coisas, depois vi que quem estava em outra sintonia era eu. 

Logo, eles que se adaptaram ao sistema religioso evangélico é que são os evangélicos. Na minha cabeça, claro como água, eu fui, sou e serei sempre cristã, porque meu parâmetro para viver é Cristo, minhas escolhas são pautadas no Evangelho e sempre peguei o Evangelho sem os enxertos da religiosidade. Para mim são duas coisas diferentes: o pacote de rotinas, agenda, estatuto, liturgia, entretenimento gospel, mercado musical, usos e costumes,etc. Coisas que fazem parte da empresa religiosa e desvirtua o que de fato é importante. E a postura na vida, princípios, valores, compromisso com a sã doutrina, relacionamento com a pessoa de Cristo, que é a vida que abracei.

Jesus passou três anos e meio desconstruindo a prática automática da religiosidade vazia e sem frutos, formando nas pessoas a consciência de segui-lo livres com seus dons e talentos, fora do arraial onde os campos estão brancos para a colheita. As pessoas criaram para si novas estruturas. Questão de escolha, mas não significa que estão certos.

Tanto me incomoda ser chamada de "desviada" pelos religiosos que vivem sua ilusão e dependência emocional pela estrutura de concreto, quanto ser chamada de "evangélica" pelas pessoas que me vêem pregando o Evangelho e acham que tudo é um balaio só. Não quero ser classificada, o que sou não tem um nome. Sou apenas filha e a coerência da minha fé é nítida no que falo e vivo.

Como disse um amigo dia desses, foi importante naquele momento viver aquela dinâmica? Sim, foi. Mas não tenho religião desde 2015 e pretendo nunca mais ter. Vida que segue como deve ser. Tempo de ser criança e tempo de deixar as coisas de criança. Da mesma forma que a Graça de Deus me despertou dentro de casa e não num ambiente religioso, ela vem me sustentando e conduzindo no chão da minha existência, desvinculada de qualquer dinâmica religiosa.

Quem quiser entrar em fôrmas, que entre. Quem quiser seguir roteiros, que sigam. Eu seguirei o governo que se estabeleceu no meu espírito. É de dentro para fora e não de fora para dentro. Porque me tornei habitação e a Igreja que prevalece é mística, da qual faço parte, não porque tenho mérito, mas porque fui comprada para pertencer. Assim sou, assim é, assim será.

domingo, 25 de junho de 2023

Depressão

Jesus falou sobre sua própria morte, e Pedro o repreendeu: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mateus 16:22). A resposta de Jesus foi áspera: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mateus 16:23). 

Por quê a depressão é algo diabólico? Porque a pessoa deprimida está trancada em si mesmo, afogada em sua dor, sem saída, sem noção do que está além de si mesmo. É justamente o oposto do Evangelho que propõe um esvaziar do si mesmo, para nos projetar na direção do outro, em quem nos enxergamos e passamos a ser um.

Pedro não era um diabo, era apenas alguém cegado pela carnalidade, tentando sugerir ao mestre, ser voltado a si mesmo, a escolha que pouparia sua vida, que na visão de Pedro, era o melhor que Jesus poderia fazer por si mesmo. Mas Jesus não veio com o propósito de enxergar a si mesmo como alvo, mas viveu com o propósito de pagar o resgate dos pecadores. Apesar de toda a angústia de saber que iria enfrentar a morte, sabia que este era o propósito eterno, pelo bem da humanidade. 

A vontade de Pedro parecia boa mas era egoísta. A realidade parecia injusta, mas era o ápice do amor, que se doa em favor do outro. O Cordeiro imolado desde antes da fundação do mundo, concretizou no tempo e espaço, o que já era proposto por Deus desde a eternidade.

O que Pedro estava propondo era que Jesus sentisse pena de si mesmo, que se sentisse injustiçado, ferido, magoado ao ponto de desistir. Quando Jesus o repreendeu, estava negando que o sentimento se instalasse minando sua energia, porque queria fazer a vontade do Pai que lhe enviou. Pedro estava limitado ao tempo e espaço, ainda não estava pronto para entender a consequência da morte de Jesus para o mundo. Este ato não poderia ser feito por mais ninguém. O amor só pode manifestar quando o ego recua. A autocomiseração anula o amor.

Jesus negou a si mesmo como homem, para cumprir inteiramente e consumar em si mesmo a vontade do Pai, riscando assim a dívida eterna que tínhamos e se tornando o nosso Mediador que nos reconcilia com o Eterno. De maneira nenhuma poderia dar ouvidos a Pedro, porque era isso o que o inferno mais queria.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

O Fruto do Espírito

Não raro escuto pregações sobre o Fruto do Espírito, onde o preletor ensina superficial e erroneamente que o Fruto é uma realidade a ser trabalhada, que por ser um fruto tem características que aparecem primeiro,etc. Pensa comigo.

Metaforicamente, éramos jambuseiro bravo e fomos enxertados na boa Oliveira que é Cristo. Nele, somos alimentados pela sua seiva e passamos a produzir o fruto segundo sua semelhança porque a raiz santíssima é uma só.

Embora haja o processo de amadurecimento na fé, porque há tempo para ser menino e tempo para deixar as coisas de menino, no tempo oportuno o servo está pronto para ser enviado por seu Senhor, repetindo o que aprendeu com Ele.

De fato se não há quem ensine, o povo continuará perecendo por falta de conhecimento. Um neófito tem que tem quem o conduza até que ele se emancipe. Mas se há pastor ensinando, o natural é o aperfeiçoamento.

Aí nos deparamos com pessoas acomodadas em seus maus costumes, falando do Fruto como se fosse uma possibilidade distante, como se fosse natural ouvir o Evangelho há 20, 30 anos e não produzi-lo.

Vamos observar:"Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei."
- Gálatas 5:22-23

Você consegue conceber que alguém que siga Jesus e reflete sua luz não tenha amor? Não o amor romantizado e distorcido dos homens, mas o amor de Cristo que doa de si em favor de quem não pode lhe dar retorno? Se este amor não for natural nos cristãos será em quem?

Consegue imaginar um cristão que não tenha alegria no espírito ou a paz que excede ao entendimento? Que não espere com paciência no Senhor e que não seja amável e bom? Se não for fiel a Deus ainda é servo? Se não for manso não seria ainda jambuseiro bravo? E se não tiver domínio próprio, onde está a liberdade com responsabilidade? 

Se o Fruto do Espírito é o que nos diferencia do que é comum, não há opção de não produzi-lo. Quem não tem o Espírito de Cristo não é Dele. Se a seiva da boa Oliveira circula em você, há fertilidade e há o Fruto.

De fato há muita gente nas igrejas deixando a desejar. Já ouvi um "pastor" dizer que ele nasceu assim e vai morrer assim (grosso, estupido e cheio de orgulho). De fato há muito joio no meio do trigo, mas acredite não é natural.

Natural é você usufruir de uma prosperidade que nasce de dentro para fora, te dando suporte para viver num mundo onde você está na contramão. Quando há guerra, você é pacificador, quando há perseguição você está orando, quando alguém se levanta contra você, você releva e perdoa porque sabe que é carne.

Sigamos sendo cada vez mais parecidos com Cristo, jamais relativizando o Evangelho nem nossa fé. À direita estarão os servos, os demais são filhos da desobediência, não queira estar entre estes. Produza segundo a essência amorosa que recebeu.

A máquina

Depois da criação no Éden, Deus criou o direito ao ócio. O descanso é direito dos que produzem, dos que movimentam, dos que fazem acontecer.

Quando se tem a agenda cheia de compromissos e além deles se enche também os fins de semana com afazeres religiosos, não sobra tempo para o descanso. Porém, se não se cumpre a agenda religiosa, o pobre se culpa e se sente negligenciando algo que Cristo não mandou.

As igrejas primitivas viviam em comunidade, praticamente juntos o tempo todo, uns cuidando dos outros, repartindo o pão e os recursos entre si, mas não criavam programações intermináveis, agendas semanais na estrutura, mas conviviam naturalmente em seus lares, onde um participava com o outro e eram um. Ninguém saía da rotina, continuavam trabalhando e descansando.

Depois que a Igreja virou empresa e não pode mais descansar sob o risco de perder gente e dinheiro, apareceu a necessidade de encher a agenda de atividades, entretenimento, além de rituais diários para justificar a presença da congregação praticamente o tempo todo.

Enquanto alimentam a máquina, seus membros estão cada vez mais no automático, sem a alegria de servir por amor, com a consciência de unidade que faz da comunidade uma Igreja.