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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dos sonhos




Um amigo, o Júlio Diniz, registrou um momento ímpar nesta foto. Algo que me despertou para refletir sobre o contraste entre a inocência de uma criança sobre o que a espera no futuro e alí logo em frente, a finitude dos sonhos. Alguém disse que os sonhos resistem a morte, mas discordo. Sonho é coisa de gente incompleta. Penso que do outro lado, não há anseios pois lá se encontra plenitude.

Os sonhos são narcóticos que tornam esta vida possível. Sem eles, a vida parece perder o sentido. Enquanto existem sonhos, há motivos para correr atrás deles.

Um sonhador, é alguém que ainda tem a ilusão da completude aqui neste lugar. Para mim, uma pessoa evoluída, amadurecida na fé, aprende a resignar-se diante do Mistério. Faz planos, mas com realismo.

Não tenho fórmula para indicar e talvez nem haja, mas posso contar minha experiência que é bem simples. Um dia disse à Deus: Enquanto minha vida era minha e eu achava que meus caminhos eram meus, eu quis ganhá-la e a perdi. Só escolhi caminhos de morte e só colhi sofrimento e dor. Não sei governar bem meus instintos, só faço me destruir, me depreciar. Toma agora a minha vida, agora ela é Sua, faz dela o que o Senhor quiser. Não quero mais o que eu quero. Quero o que o Senhor quiser pra mim.

Alí desisti de ser sonhadora, porque morri para o que eu era. Renasci serva de um Deus que sabe o que é bom pra mim. Eu queria ser feliz, ter uma família bem grande, um marido apaixonado e uma penca de filhos ao redor da mesa. Queria ter estudado, me formado e ter tido uma carreira, conquistado coisas, enfim, queria o que todo mundo quer e tem como ideal de felicidade.

Hoje vejo que tudo isso ficou para trás. Mas ao invés de frustração, vejo que não fui apenas mais uma. Deus tratou da minha vida de forma artesanal, talvez porque eu tenha a colocado em suas mãos. Fez de mim uma peça única, de uso exclusivo Seu. O que eu queria era tão menor, diante do que Ele quis pra mim!

Minha renda é suficiente para que eu viva com dignidade, mas nada sobra. Tive um filho só, que é suficiente para me fazer rir, chorar, me orgulhar e me preocupar. Nunca tive marido e sempre dependi de Deus. Não tenho ilusões quanto à este mundo, mas sou alegre e querida pelas pessoas que me cercam. Minha família, meus amigos, todos tem prazer de vir à minha casa. E ficam felizes por ver que de nada sinto falta.

Eu sei que neste mundo, não tem valor uma pessoa que não entra nas formas pré-estabelecidas. Alguém que nunca está ornando perfeitamente com o todo, alguém que está sempre insatisfeita com os conceitos impostos. Mas gente, eu tenho tempo de sentar-me aos pés de Jesus, assim como Maria, enquanto Marta se ocupava das coisas efêmeras.

Não vivo de sonhos, mas tenho esperança. Espero da vida, não ilusões, mas tudo aquilo o que Jesus já profetizou que haveria. Mas sei o que me aguarda no Dia do Senhor. Entendo que de nada serei poupada, mas estou segura em suas promessas. Com Ele, sou mais que vencedora, mesmo sem ter mérito nenhum.

O desapego das coisas ínfimas, é resultado de uma esperança muito maior, que vai além do dia em que partir daqui. Não é sonho, é certeza.

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