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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Sobre o Gênesis

Segundo os literalistas, Moisés narrou uma história real, onde herdamos a culpa de dois adolescentes, que não só trouxeram a morte para o mundo, como deformaram toda a criação de Deus com sua desobediência. Deus planejou, mas o pecado o pegou de surpresa colocando tudo a perder e o forçando a planejar a redenção.

Mas quando leio o Gênesis me enxergo, até porque, Adão significa humanidade. Moisés falava a um povo analfabeto, que dependia de seus líderes para conduzi-los, um povo que não era habitação do Espírito Santo, logo não podiam discernir as coisas espirituais e aprendiam por metáfora, parábola, figuras.

Para mim, o que é menos importante é se a narrativa de Moisés era literal ou se foi a forma que ele encontrou para fazer o povo entender que o pecado nada mais é do que usurpar o "centro" como lugar de Deus na nossa vida e nos colocar lá com nossas escolhas egocêntricas. 

De fato em outras passagens é dito que o Cordeiro foi imolado desde antes da fundação do mundo, quando foram separados para Deus seus escolhidos por presciência. Apesar de todo mistério dessas afirmações, fica claro que é o que deveria mesmo ser. Que nada pega Deus de surpresa nem frustra seus planos e que o ego estava lá mesmo antes de ser despertado.

Então, quando leio algo como "você será como Deus", "você será conhecedor do bem e do mal". Percebo que foi despertado no homem o ego, o si mesmo. Na ânsia de se tornar auto suficiente e independente de Deus, o homem "comeu" do fruto o desafiando. Não foi mera desobediência, mas para pecar, o homem abriu mão de seu relacionamento de intimidade, para realizar em si mesmo sua própria vontade.

Toda vez que o homem se coloca no centro, tira Deus de lá. É assim que pecamos. Uma escolha pelo ego em detrimento do amor.

No Velho Testamento, cada vez que o Rei era fiel a Deus o povo era abençoado, mas toda vez que o ego o levava a desonrar o nome do Senhor, o homem perecia. Até mesmo o Rei Davi que amava o Senhor e era amado, pecou quando se colocou no centro para fazer sua própria vontade, matando e adulterando, colhendo as consequências de suas escolhas.

Logo, a narrativa de genesis me conscientiza de que devo negar a mim mesmo se quero fazer a vontade de Deus. Foi o que Jesus instruiu ao que quer segui-lo.

O egoísmo é o oposto do amor. Enquanto o amor renuncia a si mesmo em favor do outro, o egoísta nega o outro em favor de si mesmo. 

Do genesis ao apocalipse, a luta do homem é contra o ego para se tornar cada vez mais parecido com Cristo, que a si mesmo se deu em favor de muitos.

O que a víbora fez tentando ao homem para tirar Deus do centro para alcançar uma suposta liberdade, Jesus veio mostrar que para realizar grandes coisas, é necessário diminuir e se tornar cada vez mais dependentes de Deus. Ser verdadeiramente livre tem a ver com a liberdade de escolher ser útil e não com o vício de se satisfazer.

Já observou as crianças? Elas não tem ego para ferir, então logo esquecem as desavenças e brincam de novo. Por isso delas é o Reino. No adulto, é o ego que deixa o ódio enraizar e para ser nova criatura, é necessário ser como criança, livre para amar e doar de si.

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