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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sobre se bastar

A sociedade de um modo geral, coloca nos lombos da mulher a responsabilidade de fazer os relacionamentos darem certo, mas especialmente os evangélicos, que são um grupo mais conservador, cobra impiedosamente que a mulher seja capaz de encontrar marido na tenra idade, se submeta a tudo e faça dar certo.


Não me casei, mas só pra constar, fui evangélica durante duas décadas, embora já tivesse chegado lá com um filho e permanecia solteira. Com o tempo construí minha própria casa, que sustentava sozinha e criei meu rebento com o apoio da minha família, mas o mais independente possível. Sempre me julguei capaz de cuidar da minha própria vida e jamais procurei a religião pra suprir alguma falta.


Pois bem, um pastor, que é como chamam as pessoas que fazem um curso e passam, tendo ou não tendo dom para viver este ministério, numa ocasião em que se viu desafiado, me classificou como frustrada e incompetente, claramente dando vasão ao coração preconceituoso, projetando a própria frustração e incompetência por não conhecer Bíblia e se ver encurralado pelos meus argumentos. Dei-lhe uma resposta que não vem ao caso e dali em diante, resolvi não me violentar permanecendo naquele lugar, pois há alguns meses a situação já estava insustentável. Tudo isso para explicar o porquê de não ter liberdade pra falar abertamente sobre minhas experiências e decisão de permanecer só. Embora viva numa família de pessoas de mente livre, tenho convívio com muitas mentes arcaicas e engessadas em seus conceitos.


Enquanto estava em processo de amadurecimento, buscava me relacionar com pessoas que com o tempo se mostravam medíocres. Muitas vezes me diminuí para caber na vida de alguém, que não me queria tanto assim. Pessoas com outros interesses, fetiches, gente que voltava do passado querendo tentar de novo e gente que se perdia no próprio egoísmo, sacrificando a relação. Todas as vezes que me apaixonei de verdade, primeiro me encantei e depois me decepcionei.


Já tive homens de várias idades, formatos e cores. Não é exclusividade do "Martinho da Vila" procurar a felicidade. Mas uma pessoa madura tem a obrigação de saber que a plenitude não existe. E pesando minhas opções, vi que estar só era bom pra mim. Já tive relacionamento de 12 anos que nunca divulguei e já tive relacionamento de 3 meses que me arrependi de ter tornado público. Então escolhi ser discreta e hoje sou convicta de que não quero qualquer um na minha vida. 


Logo, para mim o tal pastor que tentou me atingir e reduzir a uma mulher incapaz de formar uma família, só conseguiu mostrar o quanto a mulher dele que ele mesmo chama de retardada, foi anulada como indivíduo com suas particularidades. Aliás, minha linda família vai bem, obrigada. Tenho filho, neto, nora e futuramente talvez mais netos, enfim, gente para amar nunca me faltaram.


Sim, é possível estar satisfeita com a vida sem ter um dos pilares de sustentação. A vida da gente tem vários pilares: vida amorosa, vida familiar, vida financeira, vida social, etc. Quando um pilar não está bem, os outros precisam estar ou desmoronamos. E quando Deus é o centro das nossas vidas, sendo Ele o pilar principal, mesmo que faltem os outros, Ele nos sustenta. Então consigo atravessar a vida cumprindo o propósito da minha existência, sem lamentar não ter encontrado quem enxergue meu valor, até porquê eu enxergo, então não me contento com qualquer indivíduo ocupando um lugar que não merece.


Sociedade, vocês que lutem. Religião, vocês não estão aí pra isso. Pessoas são complexas e não deveriam ser socadas em fôrmas. E ser feliz nas mínimas coisas é dom intransferível.

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