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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Aspergers sobre o prisma de um Asperger

 O espectro autista é formado por características que somadas, dão o diagnóstico de que uma pessoa não é tipicamente desenvolvida neurologicamente e diverge da maioria. Não é uma doença, mas uma síndrome, uma desordem, uma particularidade. 


Uma pessoa que esteja dentro do espectro autista, não é necessariamente alguém com déficit cognitivo, sem empatia, que só entende literalmente ou é pra sempre dependente. Vejo neurotípicos tentando explicar sem propriedade, o comportamento de um neurodiverso e definindo como anormal, traços que só o autista tem e conhece para definir.


Mas bora conversar sobre uns pontos que considero importantes: Você no nunca vai ver um autista tramando contra o outro, mentindo ou bajulando alguém para se beneficiar. Estas características são de neurotípicos. O autista é alguém que sente um imenso desconforto em trocar energia com um mundo corrompido por gente normal. É um desgaste sem tamanho entender o comportamento e atitudes de quem faz tudo por vanglória ou interesse.


Um autista tem os sentidos apurados, tem a mente limpa de egocentrismo, só quer se poupar do estresse da interação social porque é desgastante demais. Quando não encara, é porque sente a energia do outro, quando é literal, é porque não faz sentido pra ele por exemplo declarar um sentimento que não sente ou marcar um horário e chegar em outro. Não é metodismo, é apenas o que se encaixa no que entende ser correto. Muitas vezes é tratado como grosseiro, porque é sincero e verdadeiro e não sabe fazer média pra agradar, se poupar ou seduzir. A falsidade também é coisa de neurotípicos.


Muitas vezes a crise, é a incompreensão do outro, ou o sufoco de não poder ser, ou a pressão que os outros fazem para que uma criança ou adolescente entre no padrão da maioria. Mas é algo congênito, não vai mudar. É necessário uma vida inteira pra um neurodiverso fazer ajustes que tornem possível sua existência, treine seus sentimentos e comportamentos que o incluam pelo menos no básico.


Muitas vezes é tratado como chato porque é fiel ao seu hiperfoco, mas sofre por perceber que a maioria não se interessa em seu assunto preferido ou não alcança o que ele quer dizer.


Um autista é alguém que não se encaixa no mundo, mas tem que viver nele e por isso muitas vezes se deprime ou fica ansioso, mas diferente do neurotípico, ele não joga conversa fora, desabafa e segue adiante como se nada tivesse acontecido. Muitas vezes ele fica fixado num assunto ou situação, até por si só, digerir e mudar o foco.


Quanto mais severo o autismo, mais desconectado com o mundo dos "normais". Mas no caso do Asperger, embora tenhamos que conviver com muita frustração, solidão e a incompreensão de quem nos cerca, somos capazes de entender sobre este mundo e o nosso. É um pé lá e outro cá e muitas vezes o nosso silêncio e isolamento, são necessários para recarregar energia para uma nova tentativa de interação social.


Embora com menos prejuízo e menos necessidades, os aspergers tem que lidar com a reprovação o tempo inteiro, porque muitas vezes seus traços são negligenciados e é cobrado uma percepção de mundo que é incapaz de corresponder.


Asperger me roubou a carreira, os relacionamentos afetivos e distorceu minha imagem pra quem não quer ter o trabalho de me conhecer. Mesmo assim me considero vencedora, por tudo o que lutei e venci por mim mesmo e por quem amo. Sim, o autista é puro amor.

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