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domingo, 29 de março de 2020

Grisalha!


Ficar grisalha não é uma escolha, é o processo natural da existência. A escolha é se aceitar como é ou continuar se camuflando com recursos artificiais, que diga-se de passagem, são extremamente cansativos. É uma conquista sem tamanho entender o conceito de liberdade e de quebra descobrir que o belo não tem padrão.

Grisalhas somos todas, só que algumas se camuflam atrás de disfarces. É um processo até todas entenderem que cabelo tingido não devolve a juventude a ninguém.

"Gorda não deve usar estampas, nem cabelos curtos porque engordam ainda mais... Cabelos grisalhos envelhecem muito, mulher tem que ser vaidosa..."

Cara, se eu for dar bola para os padrões que tentam me impor, terei que me forçar a ser outra pessoa. Não há nada que eu preze mais do que minha liberdade de ser o que eu quiser, na hora que escolher, do jeito que me convier. Fora das fôrmas, dos padrões, do que querem e esperam de mim. Sou gorda de preto ou com estampas e não há nada de errado em envelhecer. Aliás, raramente eu peço opiniões a alguém. Eu realmente não dependo delas.

Meus fios de prata refletem a luz que se acendeu dentro de mim. Toda mudança só é possível quando nasce na alma, que por si só é livre, mas muitas vezes impedida de apenas ser, por causa dos padrões que nos impõem.

Fomos ensinadas a ter vergonha dos nossos gris. Especialmente às mulheres, foi negado o direito de envelhecer, sem carregador nos lombos o estigma do prazo de validade vencido, da inutilidade, da exclusão. Ora, quem lutou e venceu a vida inteira, é guerreira até o final. A cor dos cabelos não diminui o valor de ninguém.

É incrível que a maioria das mulheres ainda tem medo da rejeição e por isso escondam a todo custo a cor dos próprios cabelos. Nem elas sabem mais como são. Mas quem ousa a se libertar, descobre que Deus deu a cada uma de nós um padrão único de cores, não há um grisalho igual ao outro, assim como é única suas digitais e único seu DNA.

Quero merecer meus 48 anos. Exibir cada fio branco e cada vinco no rosto, como quem carrega o prêmio de ter vivido bem. 

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