Terça feira, depois de sair do supermercado, parei no semáforo para esperá-lo fechar. Ele fica próximo à uma banca de revistas, onde também tem um poste. Como é um cruzamento difícil e eu vi que de um lado não vinha carro e do outro vinha um ônibus com certa distância, pensei: "Dá tempo de atravessar" e fui.
Ao chegar do outro lado da avenida, o ônibus que eu tinha visto, bateu na banca e parou no poste. Imediatamente o poste pegou fogo, os cabos de alta tensão arrebentaram e entraram em curto, caíram pela rua, enquanto dentro do ônibus as pessoas gritavam desesperadas e as pessoas na rua corriam para socorrer. Ficou tudo escuro e eu estática do outro lado da rua, pensando que por uma fração de menos de um minuto, eu poderia estar morta.
Teoricamente, eu estava em segurança, pois esperava o sinal fechar. Mas se não fosse o impulso de atravessar com ele aberto, eu poderia ter sofrido um atropelamento ou uma descarga elétrica que não me daria chance nem de ser socorrida.
Foi um susto bem grande, mas graças a Deus, não houveram mortes neste acidente e dos cinco passageiros feridos, só um precisou ir ao pronto socorro. Eu fui pra casa bem assustada ainda e durante esta semana, refleti em algumas coisas.
Se me perguntarem se tenho medo da morte, eu diria que não. Se perguntarem se quero ver o Senhor, é a coisa que mais anseio. Mas se perguntarem se quero sofrer um atropelamento ou ser eletrocutada, a resposta é claro que não. Isto, porque o autor da vida, nos deu o instinto de preservação dela. Sem este instinto, nos tornaríamos suicidas na primeira crise existencial.
Mas falando racionalmente, a hora que o Senhor me chamar, é isso mesmo. Sei que não tenho raízes nesta vida, nem ninguém que dependa de mim. As pessoas que sentiriam minha falta, sentiriam porque gostam da minha companhia e não porque precisam de mim.
Este episódio me fez pensar na brevidade da vida, em como somos vulneráveis e como nada depende de nós. Num minuto estamos aqui e no outro, podemos não estar. Então, será que as coisas que empurro com a barriga, ficarão inacabadas? Preciso repensar algumas posturas.
Também pensei em conceitos que são teóricos, mas que após um evento desses, se tornam experiências reais, como: Deus tem o controle de todas as coisas. De fato, vi com meus próprios olhos, que Ele domina minuto a minuto, pois não sei se gastei um minuto atravessando a rua, o que sei é que dentro de um minuto, Ele me tirou do lugar de risco e colocou num lugar seguro.
E se me livrou da morte, deve haver algum propósito. Sou uma pessoa que tem o privilégio de falar sobre o Evangelho todos os dias, mas será que isto é tudo o que posso fazer? Será que o Senhor espera mais de mim, será que preservou minha vida para que eu cresça mais e viva melhor?
Outra particularidade, é que meu pai morreu exatamente assim. A cena diante de mim, foi como uma viagem no tempo, a diferença é que meu pai ficou imprensado entre o ônibus e o poste, enquanto o curto impedia as pessoas de se aproximarem. Seria um choque enorme pra minha família, se me perdessem da mesma forma. Um mistério que não vou conseguir entender agora.
Por fim, o Senhor tem se agigantado em mim. É maravilhoso mergulhar no Evangelho e ajudar a edificar pessoas, enquanto eu sou edificada por outras. Melhor ainda é a certeza de que Ele está comigo o tempo todo, como prometeu, até o fim, porque o viver é Cristo e o morrer é lucro.