Páginas

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Mães que não são pais

Dia dos pais foi domingo passado e curiosamente recebi inúmeras mensagens me parabenizando por ter sido pai para meu filho. Ultimamente a realidade de mães que criam sozinhas os seus filhos, tem trazido um "quê" de normalidade pra situação e até um certo grau de orgulho de algumas mães que julgam desempenhar bem os dois papéis. Ao deparar com uma postagem do meu próprio filho, parabenizando os pais e as mães que também são pais, pus-me a pensar na minha própria história .

Fui filha de um homem cheio de princípios e valores, que tinha como prioridade cuidar da própria família.  Tinha o cuidado de não apenas abastecer a dispensa, mas em nos instruir para a vida. Se preocupava com nosso futuro e se resguardou para que não ficássemos desamparados na sua falta. Era um homem alegre e brincalhão,  Mas também um homem que gostava de ordem e educação.  Tive nele os melhores exemplos do que é ser verdadeiramente um pai.

Ele morreu muito jovem, minha mãe ficou viúva aos 36 anos, com 4 filhos pra terminar de formar. Tivemos na figura do meu pai um exemplo de pai com todos os méritos e por mais que minha mãe tivesse arregaçado as mangas pra que nada nos faltasse e ter nos apoiado em tudo para nos tornar quem somos, a falta do meu pai foi insubstituível. Eu sabia que ele não estava comigo porque tinha morrido, ainda assim sua ausência doía demais.

Aos 19 engravidei num relacionamento conturbado e aos 20 fui mãe sem o apoio do pai do meu filho. Tenho plena consciência que não tive a estrutura necessária para assumir meu filho sem o apoio da minha mãe.  Precisei crescer e amadurecer com meu filho e com muito esforço busquei dar conta do papel de mãe.

Sim, dei tudo de mim e fui o melhor que consegui ser. E apesar de ter sido uma mãe solteira, fui uma mãe possível e me incomodo um pouco com essa conotação de que uma mãe que supra as necessidades materiais dos filhos, substitua um pai. Isto, porque sei que as lacunas que um pai ausente deixa na vida de um filho, mãe nenhuma consegue preencher.

É dever de um pai ser parâmetro do que é ser verdadeiramente um homem. Cabe ao pai encarnar a figura do que é ser o protetor, cuidador, provedor, padrão a ser seguido... enfim, por mais que uma mãe seja guerreira e saia para buscar provisões para sua família, não conseguirá fazer os dois papéis.  Ou está presente acompanhando a educação dos filhos, ou terá que deixá-los para sustenta-los.

No meu caso, tive o privilégio de trabalhar perto e cuidar ao mesmo tempo. E periodicamente o pai visitava o filho. Mas nunca assumiu responsabilidade alguma e isso deixou muitas lacunas que nem com todo amor do mundo consigo suprir.

Mãe tem que ser mãe e pai tem que ser pai. Do contrário os filhos sofrerão as consequências da ausência. Não que as frustrações sejam totalmente prejudiciais. Superações são importantes para formar gente forte. E um filho que saiba o que é ter um pai ausente, pode vir a ser um bom pai.

Aqui em casa é assim. Procuro dar o suporte para que meu filho seja um bom pai para meu neto. Da mesma forma que dei tudo de mim para ser mãe,  dou tudo de mim para ser avó. Mas consciente de que sou apenas o que é possível ser, dentro do que cabe a mim.

A sociedade está mudando. Está cada vez mais corriqueiro ver famílias desestruturadas e cada vez mais as gerações enfraquecem e perdem o senso do que é viver em família. Não é uma questão de valor, de poder ou de verdades absolutas, mas de funções diferenciadas. Todos sabem que há diferenças entre homem e mulher e ambos são importantes na formação das crianças. 

A rejeição por mais sutil que seja, vai deixar marcas na alma. E se vem de um dos pais, mais grave é a ferida.

Obrigada pelas parabenizaçoes, mas só fiz minha obrigação, porque cabia a mim ter escolhido o melhor pai pro meu filho e nisso eu também falhei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário