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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Eis que era muito bom

Ontem pela manhã, saí da igreja de alma leve porque falei um pouco sobre minha percepção da narrativa da criação, para pessoas que lêem e interpretam o Gênesis literalmente, perdendo a essência principal do texto  (e isso tira dele toda a beleza). Claro que não pude expor tudo o que escrevo aqui, pois a maioria das pessoas alí não tem estrutura para acompanhar minhas viagens. Mas aqui eu posso :D

As metáforas usadas naquela poesia para mim, fazem toda a diferença na forma como entendo a fé cristã e eliminá-las como figuras de linguagem, empobrece não só o texto, mas também compromete o entendimento de todo o contexto bíblico.

A conversa girava em torno do que os irmãos achavam sobre o fato de Adão preferir atender à Eva do que à Deus. Por que o homem não resistiu ao fruto proibido e por que a mulher ouviu a Serpente? Todos eram unânimes de que o pecado original era a desobediência e alguns se arriscavam a especular. Quando resolvi opinar, um silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente, mas fui em frente.

Para mim, a leitura da criação não é literal. Moisés(?) usou de figuras de linguagem, para que a interpretação fosse alcançada pelos hebreus. Todos sabem que uma sugestão é melhor assimilada que uma afirmação e a Bíblia inteira é repleta delas.

O Fruto portanto não era um fruto, mas a representação do discernimento. Algo que já estava reservado para o momento designado por Deus, pois o homem foi criado tal como somos, com sua parcela de bem e de mal, tanto que a "Árvore do conhecimento do bem e do mal" já estava representada alí.

Sem entrar numa discussão sobre o que representa o que, imagino Adão como homem e como humanidade. Assim, ao mesmo passo que leio a narrativa como a experiência dele, faço alusões com a postura comum de todos os homens.

O trabalho da "Serpente" não foi outro, senão despertar no homem, sua cobiça, sua concupiscência, seu ego. Usei a figura do diabo, para que os irmãos entendessem que o que nos seduz, é algo que já está estabelecido pelos nossos desejos mais íntimos. O mal se apresenta com a aparência de bem. A proposta que conspira contra nós, tem aparência boa e sedutora, mas sua raiz já está fincada em nossas almas.

Pois bem. Já li e ouvi inúmeras pregações à respeito da queda humana, sempre muito superficiais. Fica sempre no ar, um quê de injustiça, pois a humanidade herdou tudo o que há de mal, à partir da rebeldia de dois adolescentes que não sabiam discernir por não terem experiência alguma e uma figura astuta passou-lhes a perna (por isso as perdeu haha).

Mas se formos um pouco mais atentos para o fato de que o mal já havia (lembram da Árvore do conhecimento do bem e do mal?) e que a Serpente foi certeira ao seduzir o casal, dizendo que eles seriam iguais à Deus, constataremos que a arrogância foi tamanha, quando as criaturas desejaram usurpar um atributo que pertencia ao Criador. E uma ofensa à um ser Eterno, tem no mínimo consequências eternas.

Ele, que as colocou num lugar perfeito e os fez cooperadores consigo mesmo e ia ao seu encontro para relacionar-se com eles como um amigo íntimo.

Conhecedor de todas as coisas (lembram que a redenção estava em seus planos antes da fundação do mundo?) a pergunta "Onde estás?", serviu para que o homem se enxergasse longe da vontade de Deus. Cada vez que um homem se afasta do centro da vontade de Deus, esta pergunta lateja em sua consciência e por isso todos são inescusáveis (Rom 1:20).

A parte mais bonita que vejo nesta narrativa, é o gesto de amor que Deus tem, quando providencia-lhes vestes que cubram sua vergonha. Porque isto acontece após o homem reconhecer sua nudez e recebe perdão através do sacrifício de sangue. Apesar do casal colher as consequências de seu erro, vejo que o amor de Deus é o mesmo.

Para mim, apesar do pecado ter entrado no mundo por meio de um, cada homem responde por si. Todos nascemos com esta terrível tendência à escolher nossa própria vontade, em detrimento à vontade de Deus. E o auto domínio só é possível por meio da mortificação do ego. O negar-se tão aconselhado por Jesus.

Não sei se Adão tinha umbigo (:P) mas com certeza foi egocêntrico. E o homem que se coloca no centro e vê a vida a partir do próprio umbigo, é incapaz de viver o amor, que não visa o próprio bem, mas se manifesta sempre na direção do outro.

6 comentários:

  1. Adoro seus pontos de vista, Jan. Fazem-me repensar...

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  2. Tammy, que saudade de vc aqui! :D
    Sabe, a Bíblia é repleta de poesia, música, parábolas e metáforas, linguagens que penetram no coração, como a água em terra fértil. Pra mim, foi assim que Deus escolheu se revelar aos sensíveis. Beijo!

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  3. Estou contigo e não "abro"!

    Meu discernimento se alinha com o que está escrito, portanto, temos uma mente que está no mesmo Espirito!

    Dê vazão para a "loucura" pois ela é a sabedoria de Deus!

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  4. Meu discernimento se alinha com o que está escrito, portanto, temos uma mente que está no mesmo Espirito!

    Dê vazão para a "loucura" pois ela é a sabedoria de Deus!

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