Eu já não queria mais nenhum bichinho, porque a minha Safira já supre essa necessidade de integração com a natureza, nosso amor sempre foi recíproco e quando a desejei, pensava que quem cuidaria dela, seria eu. Mas assim que foi crescendo, sua personalidade foi se revelando e percebi que ela veio para cuidar de mim. Assisti ao parto e assim que nasceu, sabia que seríamos muito amigas.
Ciumenta que só, ela não permitia que outros cães se aproximassem e ao escutar o menor barulho, ia cheia de atitude fazer a guarda da nossa casa. Um pouco espaçosa, verdade, acabou dominando mais do que deveria, mas com aquela graça e sedução, foi tirando de mim toda a permissão que queria. Era meu xodozinho. O bebê da casa. Ao mesmo tempo minha companheirinha, minha amiga fiel, aquela que festejava minha chegada e ia no portão se despedir quando eu saía. Safira me olha apaixonada até hoje e basta um olhar para que entenda a ordem. Nem sempre obedece na hora que mando, mas sei que entende :)
Heis que me deu uma volta e já no primeiro cio, deu 4 crias. E no segundo cio, a volta foi escondida, porque só percebi aquele barrigão crescendo e pensava que era gravidez psicológica. Logo nasceram os 6 rebentos, sendo que um estava morto.
Começou a maratona pra encontrar donos para os filhotes, mas um deles nasceu com problemas de locomoção. Se arrastava como uma lagarticha e depois de maiorzinho, tinha as patas trazeiras esticadas nas juntas. Caminhava, mas com certo desequilíbrio. Então, encontrei donos para todos, menos para ele, o Nico.
Entreguei os filhotes, dois para Sete Lagoas e dois para meus irmãos, que moram pertinho. Mas percebemos que uma virose os tinha acometido. O da minha irmã morreu logo, com uma pneumonia e a do meu irmão, morreu pouco depois com problemas na pele e no sistema digestivo. O Nico, que estava comigo ainda, começou com os sintomas da tal virose, a Cinomose, mas eu dava um complexo de vitaminas e oferecia outros tipos de alimentação mais fácil, enfim, ele acabou passando pela virose e ficou curado.
Porém, em seguida, percebi que ela tinha comprometido o sistema neurológico e ele começou com as convulsões. A veterinária receitou Gardenal, umas vitaminas e ele passou a me ensinar a prestar atenção no tempo, porque o remédio tem hora marcada. Parece uma preocupação à mais e é. Algo que eu não desejei, não planejei...
Mas ontem, meu irmão estava medicando os cães dele contra parasitas e pensou que ele ficaria infestado, se fosse o único a não ser medicado. Deu o remédio e o bichinho entrou em choque. Quando cheguei da rua, ele me viu e saiu da casinha, mas não conseguia ficar em pé. Estava entoxicado e desmaiou. Como estava com os olhos abertos e foi perdendo a voz, ficando frio, o enrolei no cobertor, mas já esperando o último suspiro.
Então já fiquei angustiada, imaginando que não teria mais aquele olhar doce, aqueles apelos choramingados, aquela carência crônica de quem depende de mim. Meu bebezinho estava morrendo e eu não podia fazer nada. Como à noite estava ainda respirando, coloquei mais cobertinhas e deixei ele quietinho. De manhã acordei com seu chorinho e ele estava bem :) Ainda cego e surdo, cambaleando, mas aceitou comer. Durante o dia foi se recuperando e agora está brincando lá fora.
Fico pensando no propósito de todas as coisas. De como nossa postura diante da vida vai mudando.
Eu não queria, mas já que fui escolhida para cuidar, já não quero perdê-lo. Safira veio para cuidar, Nico veio para exigir cuidado. E ambos são meus companheirinhos, que fazem um fuzuê que eu adoro em casa.