O maior erro da maioria das pessoas, é achar que o amor é um sentimento. À partir deste equívoco, relativizam toda a revelação bíblica, como se o fato de Deus ser Amor, o impedisse de ser qualquer outra coisa.
Amor não é sentimento. Amor é a própria essência de Deus, que transcende na direção do homem e encontrando receptividade, emana em cada direção. Não encontrando "terra fértil", volta para Ele.
Se a "terra" não é boa para frutificar, não serve senão para ser pisada. Terra seca é o coração voltado para si mesmo. O que busca o próprio interesse. O que se prioriza em relação aos demais.
A terra fértil, receptiva ao amor, gera a vida e se doa, alimenta e dá crescimento. Quanto mais frutifica, mais amor recebe, pois sabe que quanto mais dá, mais tem.
Muitos passam por esta vida, sem saber o que é amor, embora tenha sido amado. Pois para assimilar o amor, é necessário abandonar o egocentrismo. Quem se coloca no centro, não tem condições de viver pela fé; Colocou um impedimento no canal que o ligava à Deus. Um espírito bloqueado, não assimila o amor.
Mas a mensagem do Evangelho, tem o poder de arar a terra. Quem ouve e aceita esta Boa Nova, tem condições de ser vivificado. No momento em que nos enxergamos como estamos e desejamos ser transformados, o Espírito de Deus, realiza todo o trabalho. Apenas os que resistem a este impacto e o rejeita, permanecem áridos e mortos em seu egoísmo.
Quando digo que amo, estou me colocando à disposição para sofrer por você, me doar, te auxiliar, te perdoar, te cercar de cuidados, etc. Uma vez que você me impeça de te alcançar com meu amor, embora eu ainda te ame, não teremos acesso um ao outro. E tudo o que você tiver que passar, será longe de mim, porque assim você escolheu.
É assim com relação ao amor de Deus, de outra forma, não haveria justiça nem liberdade. Deus não invade ninguém. Não coloniza corações e dita ordens. O Espírito apenas nos convence de que sozinhos, nada podemos fazer. Assim, desejando sua intervenção, temos condições de receber vida em nós.
Da mesma forma que em nós, o ego é a ideia da individualidade, a ideia do "si mesmo", o amor é a ideia do "todos em UM".
Amar os inimigos, amar quem nos quer o mal, é estar disposto à ajudá-los a se reencontrar com Deus e se tornarem férteis, perdoando, iluminando, testemunhando a vida de Cristo em nós. Conseguiremos êxito nisto, à medida que nos mortificamos para nós mesmos. No Evangelho, o ego e o amor, são opostos entre si.
Quem odeia o outro, é amante de si mesmo. E quem trata ao outro com indiferença, também está mergulhado em desvalor. Portanto, ódio ou indiferença, não são sentimentos contrários ao amor como muitos pensam. O maior inimigo do amor, é o ego, por isso para amar, é necessário que nos neguemos.
O amor tem se esfriado da maioria, na medida que a vida se torna uma corrida por crescimento material, onde a valorização do homem consiste em ter, possuir, se destacar. O ego é o impedimento para que o homem veja no outro, a extensão de si mesmo. Somos um imenso organismo, onde um deveria se enxergar no outro.
Na medida em que demarco áreas e limites para o que chamo de amor, só demonstro meu egoísmo, em cuidar apenas daquilo o que considero meu: amigos, familiares, pessoas das minhas relações. O amor, não faz acepção de pessoas.
Com a distorção da palavra "amor" se comete todo tipo de torpeza, agressão e partidarismo. E não é preciso muito esforço para perceber que se trata do egoísmo e não do amor. Todo pecado nasce da cobiça, que é o desejo egoísta. O homem que se coloca no centro para buscar satisfação para sua alma, em detrimento ao bem estar de qualquer um, de forma alguma está agindo por amor.
João 15:13 "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos."
Este é o ápice do amor. Quando a própria morte, significou a vida de muitos. Consequentemente, o maior ato de autonegação. Isto só foi possível, porque Jesus homem, tinha a consciência de ser UM com o Pai e através do amor, se tornou UM conosco. Foi pleno neste propósito e por isso, foi Perfeito. No Getsemani, entendemos o quanto esta escolha foi difícil e dolorosa. O negar-se é sempre um sacrifício. O amor é sempre sofredor, porque requer abdicação.
A caminhada cristã consiste nisto: atravessar de um extremo ao outro. Sair do umbigo em direção ao alvo, o amor. Foi a esta "caminhada" que Paulo chamou de "desenvolver a salvação". Embora a Graça seja um favor imerecido, não havendo nada que o homem possa acrescentar para contribuir com ela, este crescimento em direção ao amor, ninguém fará por cada um de nós. Nos negarmos ao ponto de nos tornarmos UM com Cristo, correspondendo ao amor que recebemos primeiro.
Para mim, todas estas considerações, respondem as questões desde o ateísmo, que muitas vezes vem acoplado à ojeriza pela pregação do Evangelho; Até a distorção que o cristianismo fez quanto à caminhada cristã, tornando o que é secundário como o cumprimento de dogmas, a liturgia, rituais e regras, algo que caracteriza um cristão. E mais recentemente, numa corrida desenfreada atrás do vento, onde cristãos se empenham em conquistas, vitórias e alimento para o egoísmo. Quando o principal alvo que é o amor, deixa de ser anunciado. Tudo tem raiz no ego e impede o avanço do homem.
Grande parte dos cristãos, se movimentam por medo e não por amor. À medida que ganham conhecimento e entendem enfim que a salvação é Graça, perdem o ímpeto de serem úteis. Muitos retrocedem à estaca zero na caminhada, se voltando à sua vida egoísta. Espiritualmente estão estagnados, porque o amor não é motivação suficiente para avançarem,.
Fomos salvos de nós mesmos. Já não há nada que nos escravize ao ego. Somos livres para fazer escolhas que beneficiem o todo, o bem comum, enquanto a maioria vive a frieza da falta de amor, buscando a efemeridade e os tesouros corruptíveis.
O crescimento na verdade é um decrescimento, porque convém que diminuamos para que o amor cresça. Quanto menos de nós, mais próximos estaremos do alvo, colhendo altruísmo, perdão e empatia como frutos, porque já não será difícil nos negar em favor do outro, já que o bem do outro, se torna nosso próprio bem.
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (João 13 : 35)
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (João 13 : 35)