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terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre a caminhada cristã

Estava lendo um exercício do curso que estou fazendo na igreja, onde a missionária sugere o diário de um cão e o de um gato, para que cada aluno identifique sua postura diante da vida cristã. é mais ou menos assim:

Cão

8:00 Oba, ração--- gosto muito disso
9:30 Oba, um passeio de carro --- gosto muito disso
9:40 Oba, uma caminhada --- gosto muito disso
... e assim por diante.

Gato

Dia 283 no cativeiro. Meus sequestradores insistem em zombar de mim, balançando uns objetos pequenos e estranhos. Enquanto eles comem carne fresca, sou forçado a comer cereais secos. Só aguento isso por causa da esperança de escapar e da leve satisfação que tenho em destruir alguns móveis.
... e assim por diante.

E aí, como vocês já me conhecem, minha mente começou a borbulhar de ideias, coisas que provavelmente vou compartilhar amanhã, segunda semana do curso.

Nem a visão romântica do cão, que acha tudo perfeito e agradável, nem a visão murmuradora do gato, que acha que o mundo inteiro conspira contra ele.

Minha postura diante da vida é assimilar tanto o dia bom, quanto o dia mal, como necessários pro meu crescimento e proximidade com Deus.

Minhas dificuldades existem para que eu aprenda a confiar em Deus e depender Dele. Os momentos agradáveis, para que eu tenha sempre um coração grato. Vivemos o tempo da fartura e o da escassês, temos o dia de rir e o tempo de lamentar, porque precisamos desses parâmetros.

Se eu não soubesse o que é a morte, se não tivesse vivenciado o dia da perda, como assimilaria o sacrifício na Cruz? Se não soubesse o que é uma perseguição, abandono, traição, como entenderia o que Jesus sentiu no meu lugar? E se tudo nesta vida fosse maravilhoso como a visão romanceada do cão, por que eu guardaria a esperança na perfeição do porvir?

Quando leio que Jesus levou sobre si a minha dor, o que vem à minha mente, não é que estou isenta de sofrer. Mas a certeza de que seja lá que tipo de dor eu venha sentir, ele sentiu. Com a diferença de que sofro como consequência das minhas escolhas, mas ele, pura e simplesmente pela causa humana, por amor à nós.

Logo, entendo que a maturidade espiritual, não é negar que hajam  contingências, é justamente tirar de cada dia o seu valor e usá-lo como experiência. 

Como um pai que ensina o filho a andar de bicicleta e o vê caindo várias vezes, se machucando e tem compaixão dizendo: "tentamos numa outra oportunidade". Creio que assim é Deus, quando atende à um pedido de socorro. Ele livra, mas a prova virá em outro tempo, porque Ele nos quer emancipados. Geralmente o cristão quer ser abduzido do meio do problema. Eu creio que cada dificuldade tem seu propósito.

Quando pedimos a Deus sabedoria, fé, paciência, geralmente imaginamos uma chuvinha invisível de virtudes, que nos tornará de uma hora pra outra diferentes. Mas não é  assim que acontece. 

Se pedimos fé, sabedoria, disponibilidade para perdoar, somos provados com situações que vão mostrar se estamos mesmo buscando o que pedimos. Surgirão oportunidades para perdoar, para usar a fé ou para exercitar a sabedoria e geralmente chamamos essas situações de problemas. Assim se cresce na graça: vivendo.

Alguns cristãos pensam que as provações mostrarão quem somos a Deus. Mas o fato é que Ele sonda e esquadrinha corações e sabe perfeitamente o que somos. As provas portanto, servem para nos mostrar nossa condição à nós mesmos. Assim, tomamos consciência das nossas fraquezas, imaturidade e pequenez.

E à medida que caminhamos e mudamos nossa postura, entendemos enfim, que é nossa própria carne quem conspira contra nós e não inimigos externos.

Entender que a vida é inconstante, não é falta de fé, mas certeza de que seja lá em que circunstância for, seja o dia de rir ou o dia de chorar, tudo vai sempre cooperar pro nosso bem.

4 comentários:

  1. Muito bom, Neth. Vc chegou a externar esse raciocínio no seu curso? Se afirmativo, como foi a reação das pessoas?

    A gente naturalmente é mais inclinada a ser como o gato do que o cachorro. Claro, são visões bem radicais, mas como humanos temos geralmente a tendência a nos autopiedar. Aí, um cara muito esperto sacou essa necessidade e criou o neopentecostalismo, esse angu gospel-humanista, e colocou Deus atrás do balcão para servir o homem.

    De vez em quando eu também faço como o gato (apesar de não gostar de gatos, que fique beeem claro). Mas tenho tentando ver que todas as coisas passam, principalmente quando estou passando por alguma dificuldade, e aí vejo o quanto Deus "milagrou" minha vida, sem o menor merecimento meu. Não chego a ser tão otimista (ou seria conformado?) como o cachorro, mas hoje as coisas estão melhores que já tiveram.

    Isso dá conversa prá mais de metro!

    Bjs.

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  2. hehehe Oi, Lu

    Eu acabei não falando sobre o assunto, porque percebi que TODOS concordaram com o autor, que sugeria que se não quisermos ser murmuradores como o gato, deveríamos ser uns patetas como o cão, que aceita tudo sem discernir nada.

    O povo é infantilizado e as coisas tem que ser colocadas de forma homeopática, aos pouquinhos para fazer algum efeito, então me calei.

    Mas de vez em quando lanço umas passagens bíblicas que sugerem que a vida não é um mar de rosas e que tem tempo pra tudo. Que Paulo também tinha seu espinho e que Jesus garantiu que teríamos aflições por aqui.

    O fato, é que a religião ensina que o cristão é mais que vencedor, mas não o prepara para o trajeto que existe entre a luta e a vitória, que pode levar muito tempo. Como resultado, o cristão entra em crise, cada vez que sua "bênção" demora a chegar, perde a confiança, perde as lições do caminho. Tudo isso é muito nocivo, mas eu fico de mãos atadas...

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  3. Interessante essa postura do pessoal, porque eu achava exatamente o contrário. Mas talvez porque como eu pensei também em mim - e não sou nenhum pouco "cristã vencedora" no sentido neopentecostalítico da expressão. Realmente, quem vive de ouvir e perseguir a vitória fica como o cão e, como você falou, quando a bênção começa a tardar, passa a se comportar como o gato.

    Encontrar o meio termo não é difícil, é só pedir entendimento ao E.S. e ver o próprio exemplo da vida de Cristo e dos apóstolos.

    Bjs.

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  4. A gente tem uma visão mais realista. Sabe que precisa guardar a fé e a esperança em Cristo, mas também sabe que as contingências acontecem com todo mundo. A vida não faz acepção. Eu prefiro assim, caminho sem ilusões pra evitar desilusões. Eu sei em quem tenho crido e sei que até o mal coopera pro nosso bem. Beijo

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