Páginas

sábado, 14 de julho de 2012

Carnal ou espiritual?

A Bíblia diz que a carne milita contra o espírito e o espírito contra a carne e o resultado desta peleja, resulta na forma como lidamos com o sagrado. Ou nos tornamos espirituais, ou carnais, de acordo com o nosso lado que prevalesce.

Essa luta se dá, por uma guerra de vontades. A de Deus, que é boa, Perfeita e Agradável e a nossa, que conspira contra nós mesmos, apesar da ilusão de liberdade.

Antes, vou falar um pouco sobre as três partes que formam o homem: corpo, alma e espírito, pra nossa conversa fluir melhor.

O corpo pelo que entendo, é apenas um instrumento para que a vontade que prevalecer, realize suas obras na parte física. É frágil, não peca e não tem vontades. O corpo em si, é apenas matéria, é involuntário, seu funcionamento é fisiológico e o natural é que funcione plenamente. Qualquer disfunção é sinal de doença física. Portanto, ele leva a culpa pelo entendimento equivocado de alguns líderes evangélicos, que o confundem com a metáfora bíblica, que chama de "carne", todo homem centrado em si mesmo, ou seja, em sua vontade, sua alma. Ele é carne, porque é perecível. E para não perecer, precisa da intervenção de Deus. O homem carnal, na verdade, é um homem almático.

Isso, porque é na alma que o pecado é concebido e gerado. Lá habitam nossas concupiscências, estas que precisam ser mortificadas. E cabe a cada homem a decisão de mortificá-las. Como? Buscando a espiritualidade, porque das partes que formam o homem, o espírito é a única que está em seu estado definitivo. Ele está pronto.

Todas as características que nos dão o status de indivíduos, estão na alma. Ela é como um banco de dados, onde está registrado tudo o que somos, pensamos, desejamos e sentimos. Por isso, ela não é nossa "parte inimiga", ela é nosso ser. O que acontece, é que a alma é extremamente egocêntrica. Ela anseia por satisfação, tem sede de prevalecer, ainda que isso possa ferir o outro. Não está pronta. Ela agrega ou elimina coisas o tempo todo, modificando nosso caráter diante da vida.

A paixão, por exemplo, é almática. Uma pessoa movida por paixão, sofre um descontrole de seus sentimentos e atos. É uma espécie de deformidade que atinge a alma e a faz sofrer por atingir seu lado mais egocêntrico, aquele que deseja subjugar o outro e persuadí-lo a nos atender nas nossas vontades. O ego visa sempre a auto-satisfação e sofre muito se é negado. Por isso o sofrimento da alma é tão comum. A maioria das pessoas são almáticas e não espirituais. E quando uma alma está adoecida, ela manifesta doenças no corpo.

O espírito é o sopro de Deus que vivifica o homem. É como um empréstimo que volta pro Dono quando morremos. Mas enquanto estamos aqui, é o fio condutor, o canal que nos liga à Deus. É no espírito que captamos o sagrado, é no espírito que o Espírito de Deus escolheu morar e é lá que seu fruto tem crescimento. Alí percebemos a fé, o amor e temos senso de não sermos sós, fazemos parte de um todo. O espírito não é como a alma, que enxerga a vida à partir do ego. Ele se enxerga no Corpo e sabe que tem um que é o cabeça.

É por meio do espírito, que somos movidos na direção do outro. Alí, somos impulsionados a nos negar e renunciar em favor de um grupo inteiro. O amor é espiritual, por isso não busca o próprio bem, antes é doador. É entrega, é renúncia e sofre com a dor do outro porque é misericordioso, isto é, se coloca no coração do outro. Deus é amor, pois é Espírito. Amor portanto, não é sentimento, mas atributo de Deus no homem. E é privilégio de  alguns que conseguem se desprender da parte egocêntrica da alma. E nada é melhor para uma criatura, que estar sintonizada ao seu Criador e para o propósito Dele para tê-la criado.

Se por um lado o homem carnal deseja prevalecer, o homem espiritual tem intimidade com o perdão. O homem carnal é movido pelas próprias paixões, o espiritual sabe que as coordenadas são dadas por um Mestre. O motivo da paz de um homem espiritual, não está nas circunstâncias, mas em sua esperança.

Uma alma bem orientada, não precisa entrar em formas. Temos características próprias e positivas, que favorecem o funcionamento do todo. Cada indivíduo é diferente, mas pode viver em plena integração. Basta que ela aprenda a discernir entre o impulso que a escraviza ao ego e são destrutíveis em sua integridade e os que a tornam única e portanto, positivas.

Um homem com "mal contato" com seu espírito, fica prejudicado na assimilação do amor, da fé, não há intuição, não há inspiração para a vida, para a comunhão, para a troca. Não há esperança. Ele passa pela vida mergulhado em sua confusão. Um homem espiritual, sabe o material de que é feito, tem consciência de sua alma e de tudo o que o prejudica. A diferença, é  que ele pode dizer "não" à si mesmo, negar-se. O homem espiritual também sofre, mas não está centrado em suas causas egoístas. Sabe que o propósito para todas as coisas, é o bem global. Tem seu fardo, mas é leve. Tem seu jugo, mas é suave.

Mas da mesma forma que um homem almático está com um mal contato que o prejudica a entrar em sintonia com o invisível, o homem espiritual não pode perder o contato com sua individuação, ou também entrará em crise. Ele precisa perceber a vida através de seus sentidos. Mente no alto e pés no chão.
 
O funcionamento pleno de tudo o que nos forma, depende apenas de uma boa orientação. E nada melhor para nos orientar na vida, que o Autor da Vida.







4 comentários:

  1. Encantada com a clareza com que vc relata seus artigos!!! Qualquer leigo como eu consegue entender de forma clara e objetiva o que vc deseja passar com suas mensagens. Totalmente tocada por seus artigos...

    ResponderExcluir
  2. Que bom ler isso, Lu! O Senhor escolheu se revelar aos simples e meu objetivo é esse mesmo, usar uma linguagem clara e simples, oferecendo minha ideia como sugestão para clarear e não para complicar. No mais, carinho é sempre bom, mas a Glória é do Senhor! beijo

    ResponderExcluir
  3. Graça e Paz Neth!

    Estou estudando e meditando neste tema: espirito, alma e corpo há alguns anos e confesso que quando acho que entendo vejo que nada concluí de fato.

    Na porçao em que vc faz a diferenciação entre os três ambientes do homem (ser racional) eu ainda entendo que o homem natural é o ser "almático" cuja psiquê é movida pelos desejos e vontades sem filtros do Evangelho.

    O homem carnal, seria o almático melhorado, pois já se relaciona com a verdade (Cristo) mas ainda sob fortes influência da alma que quer estabelecere sua própria santificação as custas de leis, regras e obediências, acreditando que são performances externas que nos santificam diante de Deus Pai.

    O homem espiritual, seria aquele que não se deixa medir (julgar-se) pelas médias (ou performances) exteriores, que busca avaliar-se por comparaçao de terceiros, mas se renova de consciência em consciência quanto ao que, segundo o Evangelho, seja bom, agradável e perfeito. Ou seja, seu filtro de exercício de vida se faz pelo Evangelho!

    Porém este discernimento abaixo esclareceu todo meu entendimento:

    "Mas da mesma forma que um homem almático está com um mal contato que o prejudica a entrar em sintonia com o invisível, o homem espiritual não pode perder o contato com sua individuação, ou também entrará em crise. Ele precisa perceber a vida através de seus sentidos. Mente no alto e pés no chão."


    Que o Senhor Deus continue falando contigo e através de ti!

    ResponderExcluir
  4. Amém, amado.
    A alma não pode ser vista pura e simplesmente como uma vilã, porque quem nos deu os sentidos, sabe porque fez isto. Somos seres únicos e nossa individuação está na alma. Por sermos únicos, somos filhos que se relacionam pessoalmente com o Pai, que tem planos exclusivos e dons diferentes para cada um.

    Por outro lado, apesar de almejarmos o alvo de nos tornarmos espirituais, é no chão o nosso trabalho. No contato com toda a miséria que ainda temos em nós por causa do pecado.

    Mente no alto e pés no chão, para caminharmos melhor. Beijo!

    ResponderExcluir