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sábado, 28 de julho de 2012

O mundo

João 15

18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
19 Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.


Baseados neste e em muitos outros versículos, a maioria dos cristãos interpretam que devem levar uma vida distinta dos "incrédulos". Que não devem frequentar os mesmos lugares, que não devem fazer as mesmas coisas, que sequer devem escutar as mesmas músicas, usar as mesmas roupas, etc. Consequentemente, criaram um mercado próprio, com coisas adequadas à eles, para que não precisassem mais se envolver com as coisas "do mundo". Um mercado oportunista, fantasiado de edificação, que com raras exceções acrescentam para o crescimento do cristão, mas quase sempre fecham sua mente dentro da religiosidade.

Não é novidade pra ninguém, eu acho, que não sou consumidora de produtos gospeis. Não escolho escutar músicas evangélicas, a não ser que esteja num ambiente como uma igreja por exemplo. Nem objetos, nem livros, nem nada que se venda em nome de Deus. Primeiro porque entendo que devemos dar de graça aquilo o que recebemos de graça, por isso não vou compactuar com o enriquecimento de ninguém que use o nome de Jesus. 

Segundo, porque o que entendo daquele episódio, onde Jesus se irou contra os vendilhões do Templo, expulsando todos dali, tanto os que vendiam, quanto os que compravam por estarem profanando o Sagrado, é que a atitude dele seria a mesma hoje, quando visse cristãos idolatrando cristãos, com direito inclusive à autógrafos e fotos. Ou usando o nome de Deus para vender roupas, objetos e toda sorte de coisas destinadas a quem acha que está no mundo, mas não deve consumir as coisas do mundo.

O que deve nos reger, é o bom senso de ecolher coisas condizentes com a vida que levamos e isso é algo que ninguém precisa nos dizer, basta discernimento. Além do que, não existe música sagrada e música do mundo. Existe música boa e música ruim em todos os segmentos.

Mas o motivo do post é sugerir uma outra interpretação para "o mundo".
Primeiro, vamos relembrar que Jesus andava com pecadores, se assentava com eles, dormia em suas casas, estava inserido no todo e jamais discriminou ninguém que o quisesse tocar, falar, aprender, pedir, enfim. Jesus não estava muito aí pra moral religiosa daquela época.

Sabemos que quando o Evangelho nos alcança, há uma mudança de mente. Paulo usa a metáfora do Corpo, para que entendêssemos que agora somos um, que cada um tem sua função no organismo chamado Igreja, que apesar de diferentes, nos completamos. Há um que é o Cabeça, Cristo. Cabeça, porque a mente é dele e nós o seguimos. É Jesus quem nos ensina a caminhar segundo a vontade de Deus. Portanto, a figura da Igreja, nada mais é, do que o espírito moldado segundo o Espírito.

Por esse prisma, "o mundo", nada mais é do que o espírito que não foi alcançado por uma mudança de mente, portanto continua escravizado ao seu egoísmo, à sua cegueira, à sua morte.

Logo, há gente dentro das igrejas, que congregam há anos e que estão no mundo, porque não são orientadas pela mente de Cristo. Em contrapartida, há gente que não congrega em prédios, templos, mas vivem o amor à Deus e aos seus semelhantes, logo cumpriram a lei de Cristo, fazem parte do Corpo.

Não é possível um outro tipo de vida, que não seja experimentado pelos nossos sentidos e se estamos aqui neste mundo, só é possível viver no mundo. O que não implica necessariamente, nos conformar com o sistema que rege o mundo, o pensamento comum, o espírito do mundo, seus conceitos.

Você eu não sei, mas falando por mim, não me arrependo de conhecer as coisas que conheci, os lugares que frequentei, as pessoas de religiões diversas que me relacionei. A culpa não conhece meu endereço.

Ser cristão é uma postura na vida, tomada por quem tem convicção e sabe em quem tem crido. E se há um lugar onde nossa luz pode brilhar, é bem no meio das trevas. Nossa postura tem que ser semelhante a de Jesus, o Lírio dos Vales, que permaneceu incontaminado, estando no meio da lama.

Estamos no mundo, mas somos guiados pela mente de Jesus. E assim como ele, podemos usufruir de tudo o que nos cerca, na liberdade que ele mesmo nos deu.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sobre fanatismos

Muito se fala sobre o fanatismo religioso, sobre as distorções religiosas, mas hoje quero chamar a atenção para um outro tipo de fanatismo que está cada vez mais evidente.

Como sei se corro o risco de ser um fanático? Quando os laços de amor são subjugados pelas ideologias que defendo. Quando o que o outro sente, me importa menos do que a defesa da minha verdade. Isso acontece tanto com os fanáticos religiosos, que não toleram os outros grupos, quanto com os que se revoltam contra a institucionalização da Igreja e deixam de perceber, que estamos tratando de vidas, de amigos, de pessoas que o Evangelho libertou e portanto podem fazer suas escolhas, inclusive a de congregar em templos e ainda assim, serem respeitadas.

Alguns líderes que fomentam essa antipatia, não mencionam o tempo em que estiveram pendurados nas tetas institucionais, gozando de privilégios e sendo tratados como celebridades. Pra que denunciar nessa época, todos os erros onde eram coniventes? Mas bastou que em algum dia, fossem  tratados com a mesma intolerância, preconceito e covardia como qualquer outro pecador, para usarem o mesmo poder de persuasão que tinham antes, para a causa inversa. 

Estão na Graça? Talvez. Mas por que a dificuldade de perdoar seus antigos coniventes? Qual o movimento deles? Vingança. Jogar no ventilador os erros dos outros, como se isto amenizasse os seus próprios erros. Mistificam os próprios pecados, relativizam o ensino de Jesus, para que o Evangelho lhes sirva.

Ou perpetuam um discurso de auto-comiseração, lamentando serem uns excluídos, uns coitados, uns odiados pelos religiosos. Uma síndrome de Messias mal ressuscitado que nunca os deixa livres.

Não; Um homem, qualquer que seja ele, mesmo esses que se dispõem a conduzir rebanhos, sempre estarão imersos em sua humanidade e volta e meia suas feridas latejarão, suas mágos borbulharão até transbordar pela boca.

Reconheço, leio e concordo com muitas de suas ideias, mas não assimilo bem o fato de seus seguidores ganharem o mesmo esteriótipo arrogante, grosseiro e magoado, ao invés de seguirem o exemplo manso e humilde de Jesus.

Líder pra mim é Jesus, o Cristo. Verdade pra mim é o próprio, que à si mesmo denominou assim. É Ele quem vai à minha frente.

Não estou aqui pra defender religião alguma. Muito menos para atacar quem pensa diferente de mim. Estou aqui para acolher e amar a quem quer que seja, para se possível ir junto, no caminho do bem.

As minhas escolhas sou eu quem faço e talvez a sua verdade não sirva pra mim. Ainda assim, no amor, somos UM.

sábado, 14 de julho de 2012

Carnal ou espiritual?

A Bíblia diz que a carne milita contra o espírito e o espírito contra a carne e o resultado desta peleja, resulta na forma como lidamos com o sagrado. Ou nos tornamos espirituais, ou carnais, de acordo com o nosso lado que prevalesce.

Essa luta se dá, por uma guerra de vontades. A de Deus, que é boa, Perfeita e Agradável e a nossa, que conspira contra nós mesmos, apesar da ilusão de liberdade.

Antes, vou falar um pouco sobre as três partes que formam o homem: corpo, alma e espírito, pra nossa conversa fluir melhor.

O corpo pelo que entendo, é apenas um instrumento para que a vontade que prevalecer, realize suas obras na parte física. É frágil, não peca e não tem vontades. O corpo em si, é apenas matéria, é involuntário, seu funcionamento é fisiológico e o natural é que funcione plenamente. Qualquer disfunção é sinal de doença física. Portanto, ele leva a culpa pelo entendimento equivocado de alguns líderes evangélicos, que o confundem com a metáfora bíblica, que chama de "carne", todo homem centrado em si mesmo, ou seja, em sua vontade, sua alma. Ele é carne, porque é perecível. E para não perecer, precisa da intervenção de Deus. O homem carnal, na verdade, é um homem almático.

Isso, porque é na alma que o pecado é concebido e gerado. Lá habitam nossas concupiscências, estas que precisam ser mortificadas. E cabe a cada homem a decisão de mortificá-las. Como? Buscando a espiritualidade, porque das partes que formam o homem, o espírito é a única que está em seu estado definitivo. Ele está pronto.

Todas as características que nos dão o status de indivíduos, estão na alma. Ela é como um banco de dados, onde está registrado tudo o que somos, pensamos, desejamos e sentimos. Por isso, ela não é nossa "parte inimiga", ela é nosso ser. O que acontece, é que a alma é extremamente egocêntrica. Ela anseia por satisfação, tem sede de prevalecer, ainda que isso possa ferir o outro. Não está pronta. Ela agrega ou elimina coisas o tempo todo, modificando nosso caráter diante da vida.

A paixão, por exemplo, é almática. Uma pessoa movida por paixão, sofre um descontrole de seus sentimentos e atos. É uma espécie de deformidade que atinge a alma e a faz sofrer por atingir seu lado mais egocêntrico, aquele que deseja subjugar o outro e persuadí-lo a nos atender nas nossas vontades. O ego visa sempre a auto-satisfação e sofre muito se é negado. Por isso o sofrimento da alma é tão comum. A maioria das pessoas são almáticas e não espirituais. E quando uma alma está adoecida, ela manifesta doenças no corpo.

O espírito é o sopro de Deus que vivifica o homem. É como um empréstimo que volta pro Dono quando morremos. Mas enquanto estamos aqui, é o fio condutor, o canal que nos liga à Deus. É no espírito que captamos o sagrado, é no espírito que o Espírito de Deus escolheu morar e é lá que seu fruto tem crescimento. Alí percebemos a fé, o amor e temos senso de não sermos sós, fazemos parte de um todo. O espírito não é como a alma, que enxerga a vida à partir do ego. Ele se enxerga no Corpo e sabe que tem um que é o cabeça.

É por meio do espírito, que somos movidos na direção do outro. Alí, somos impulsionados a nos negar e renunciar em favor de um grupo inteiro. O amor é espiritual, por isso não busca o próprio bem, antes é doador. É entrega, é renúncia e sofre com a dor do outro porque é misericordioso, isto é, se coloca no coração do outro. Deus é amor, pois é Espírito. Amor portanto, não é sentimento, mas atributo de Deus no homem. E é privilégio de  alguns que conseguem se desprender da parte egocêntrica da alma. E nada é melhor para uma criatura, que estar sintonizada ao seu Criador e para o propósito Dele para tê-la criado.

Se por um lado o homem carnal deseja prevalecer, o homem espiritual tem intimidade com o perdão. O homem carnal é movido pelas próprias paixões, o espiritual sabe que as coordenadas são dadas por um Mestre. O motivo da paz de um homem espiritual, não está nas circunstâncias, mas em sua esperança.

Uma alma bem orientada, não precisa entrar em formas. Temos características próprias e positivas, que favorecem o funcionamento do todo. Cada indivíduo é diferente, mas pode viver em plena integração. Basta que ela aprenda a discernir entre o impulso que a escraviza ao ego e são destrutíveis em sua integridade e os que a tornam única e portanto, positivas.

Um homem com "mal contato" com seu espírito, fica prejudicado na assimilação do amor, da fé, não há intuição, não há inspiração para a vida, para a comunhão, para a troca. Não há esperança. Ele passa pela vida mergulhado em sua confusão. Um homem espiritual, sabe o material de que é feito, tem consciência de sua alma e de tudo o que o prejudica. A diferença, é  que ele pode dizer "não" à si mesmo, negar-se. O homem espiritual também sofre, mas não está centrado em suas causas egoístas. Sabe que o propósito para todas as coisas, é o bem global. Tem seu fardo, mas é leve. Tem seu jugo, mas é suave.

Mas da mesma forma que um homem almático está com um mal contato que o prejudica a entrar em sintonia com o invisível, o homem espiritual não pode perder o contato com sua individuação, ou também entrará em crise. Ele precisa perceber a vida através de seus sentidos. Mente no alto e pés no chão.
 
O funcionamento pleno de tudo o que nos forma, depende apenas de uma boa orientação. E nada melhor para nos orientar na vida, que o Autor da Vida.







terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre a caminhada cristã

Estava lendo um exercício do curso que estou fazendo na igreja, onde a missionária sugere o diário de um cão e o de um gato, para que cada aluno identifique sua postura diante da vida cristã. é mais ou menos assim:

Cão

8:00 Oba, ração--- gosto muito disso
9:30 Oba, um passeio de carro --- gosto muito disso
9:40 Oba, uma caminhada --- gosto muito disso
... e assim por diante.

Gato

Dia 283 no cativeiro. Meus sequestradores insistem em zombar de mim, balançando uns objetos pequenos e estranhos. Enquanto eles comem carne fresca, sou forçado a comer cereais secos. Só aguento isso por causa da esperança de escapar e da leve satisfação que tenho em destruir alguns móveis.
... e assim por diante.

E aí, como vocês já me conhecem, minha mente começou a borbulhar de ideias, coisas que provavelmente vou compartilhar amanhã, segunda semana do curso.

Nem a visão romântica do cão, que acha tudo perfeito e agradável, nem a visão murmuradora do gato, que acha que o mundo inteiro conspira contra ele.

Minha postura diante da vida é assimilar tanto o dia bom, quanto o dia mal, como necessários pro meu crescimento e proximidade com Deus.

Minhas dificuldades existem para que eu aprenda a confiar em Deus e depender Dele. Os momentos agradáveis, para que eu tenha sempre um coração grato. Vivemos o tempo da fartura e o da escassês, temos o dia de rir e o tempo de lamentar, porque precisamos desses parâmetros.

Se eu não soubesse o que é a morte, se não tivesse vivenciado o dia da perda, como assimilaria o sacrifício na Cruz? Se não soubesse o que é uma perseguição, abandono, traição, como entenderia o que Jesus sentiu no meu lugar? E se tudo nesta vida fosse maravilhoso como a visão romanceada do cão, por que eu guardaria a esperança na perfeição do porvir?

Quando leio que Jesus levou sobre si a minha dor, o que vem à minha mente, não é que estou isenta de sofrer. Mas a certeza de que seja lá que tipo de dor eu venha sentir, ele sentiu. Com a diferença de que sofro como consequência das minhas escolhas, mas ele, pura e simplesmente pela causa humana, por amor à nós.

Logo, entendo que a maturidade espiritual, não é negar que hajam  contingências, é justamente tirar de cada dia o seu valor e usá-lo como experiência. 

Como um pai que ensina o filho a andar de bicicleta e o vê caindo várias vezes, se machucando e tem compaixão dizendo: "tentamos numa outra oportunidade". Creio que assim é Deus, quando atende à um pedido de socorro. Ele livra, mas a prova virá em outro tempo, porque Ele nos quer emancipados. Geralmente o cristão quer ser abduzido do meio do problema. Eu creio que cada dificuldade tem seu propósito.

Quando pedimos a Deus sabedoria, fé, paciência, geralmente imaginamos uma chuvinha invisível de virtudes, que nos tornará de uma hora pra outra diferentes. Mas não é  assim que acontece. 

Se pedimos fé, sabedoria, disponibilidade para perdoar, somos provados com situações que vão mostrar se estamos mesmo buscando o que pedimos. Surgirão oportunidades para perdoar, para usar a fé ou para exercitar a sabedoria e geralmente chamamos essas situações de problemas. Assim se cresce na graça: vivendo.

Alguns cristãos pensam que as provações mostrarão quem somos a Deus. Mas o fato é que Ele sonda e esquadrinha corações e sabe perfeitamente o que somos. As provas portanto, servem para nos mostrar nossa condição à nós mesmos. Assim, tomamos consciência das nossas fraquezas, imaturidade e pequenez.

E à medida que caminhamos e mudamos nossa postura, entendemos enfim, que é nossa própria carne quem conspira contra nós e não inimigos externos.

Entender que a vida é inconstante, não é falta de fé, mas certeza de que seja lá em que circunstância for, seja o dia de rir ou o dia de chorar, tudo vai sempre cooperar pro nosso bem.