João 15
18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
19 Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o
que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do
mundo, por isso é que o mundo vos odeia.
Baseados neste e em muitos outros versículos, a maioria dos cristãos interpretam que devem levar uma vida distinta dos "incrédulos". Que não devem frequentar os mesmos lugares, que não devem fazer as mesmas coisas, que sequer devem escutar as mesmas músicas, usar as mesmas roupas, etc. Consequentemente, criaram um mercado próprio, com coisas adequadas à eles, para que não precisassem mais se envolver com as coisas "do mundo". Um mercado oportunista, fantasiado de edificação, que com raras exceções acrescentam para o crescimento do cristão, mas quase sempre fecham sua mente dentro da religiosidade.
Não é novidade pra ninguém, eu acho, que não sou consumidora de produtos gospeis. Não escolho escutar músicas evangélicas, a não ser que esteja num ambiente como uma igreja por exemplo. Nem objetos, nem livros, nem nada que se venda em nome de Deus. Primeiro porque entendo que devemos dar de graça aquilo o que recebemos de graça, por isso não vou compactuar com o enriquecimento de ninguém que use o nome de Jesus.
Segundo, porque o que entendo daquele episódio, onde Jesus se irou contra os vendilhões do Templo, expulsando todos dali, tanto os que vendiam, quanto os que compravam por estarem profanando o Sagrado, é que a atitude dele seria a mesma hoje, quando visse cristãos idolatrando cristãos, com direito inclusive à autógrafos e fotos. Ou usando o nome de Deus para vender roupas, objetos e toda sorte de coisas destinadas a quem acha que está no mundo, mas não deve consumir as coisas do mundo.
O que deve nos reger, é o bom senso de ecolher coisas condizentes com a vida que levamos e isso é algo que ninguém precisa nos dizer, basta discernimento. Além do que, não existe música sagrada e música do mundo. Existe música boa e música ruim em todos os segmentos.
Mas o motivo do post é sugerir uma outra interpretação para "o mundo".
Primeiro, vamos relembrar que Jesus andava com pecadores, se assentava com eles, dormia em suas casas, estava inserido no todo e jamais discriminou ninguém que o quisesse tocar, falar, aprender, pedir, enfim. Jesus não estava muito aí pra moral religiosa daquela época.
Sabemos que quando o Evangelho nos alcança, há uma mudança de mente. Paulo usa a metáfora do Corpo, para que entendêssemos que agora somos um, que cada um tem sua função no organismo chamado Igreja, que apesar de diferentes, nos completamos. Há um que é o Cabeça, Cristo. Cabeça, porque a mente é dele e nós o seguimos. É Jesus quem nos ensina a caminhar segundo a vontade de Deus. Portanto, a figura da Igreja, nada mais é, do que o espírito moldado segundo o Espírito.
Por esse prisma, "o mundo", nada mais é do que o espírito que não foi alcançado por uma mudança de mente, portanto continua escravizado ao seu egoísmo, à sua cegueira, à sua morte.
Logo, há gente dentro das igrejas, que congregam há anos e que estão no mundo, porque não são orientadas pela mente de Cristo. Em contrapartida, há gente que não congrega em prédios, templos, mas vivem o amor à Deus e aos seus semelhantes, logo cumpriram a lei de Cristo, fazem parte do Corpo.
Não é possível um outro tipo de vida, que não seja experimentado pelos nossos sentidos e se estamos aqui neste mundo, só é possível viver no mundo. O que não implica necessariamente, nos conformar com o sistema que rege o mundo, o pensamento comum, o espírito do mundo, seus conceitos.
Você eu não sei, mas falando por mim, não me arrependo de conhecer as coisas que conheci, os lugares que frequentei, as pessoas de religiões diversas que me relacionei. A culpa não conhece meu endereço.
Ser cristão é uma postura na vida, tomada por quem tem convicção e sabe em quem tem crido. E se há um lugar onde nossa luz pode brilhar, é bem no meio das trevas. Nossa postura tem que ser semelhante a de Jesus, o Lírio dos Vales, que permaneceu incontaminado, estando no meio da lama.
Estamos no mundo, mas somos guiados pela mente de Jesus. E assim como ele, podemos usufruir de tudo o que nos cerca, na liberdade que ele mesmo nos deu.