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segunda-feira, 4 de maio de 2015

Mês da família?




Pela tradição da Igreja evangélica e para o cumprimento da agenda anual de programações da Igreja, o mês de maio é separado para instruir e exaltar a função das famílias dentro da comunidade cristã. Para isto, todas as pregações, cultos nos lares e palestras, são direcionadas ao mesmo tema: funções/obrigações/responsabilidades do marido para a esposa, da esposa para o marido, dos filhos para com os pais e dos pais para com os filhos.

Mas como fui agraciada com um olhar mais amplo, percebo coisas que a maioria das pessoas deixam passar desapercebidas ou se calam, para evitar mais constrangimentos. Meu objetivo neste post, pode ser visto como uma crítica à religiosidade, mas também pode servir como edificação do Corpo que foi chamado para acolher e amar.

Nada tenho contra as instruções de Paulo sobre a família, apesar de perceber que textos onde ele se mostra contrário ao casamento, não tenham o mesmo valor doutrinário. Creio piamente que uma família bem estruturada, tende a ser mais harmoniosa e amorosa, coisas primordiais para que a caminhada cristã seja facilitada.

Porém não posso fechar os olhos para as coisas que saltam às basicalidades e superficialidade das pessoas, que na tentativa de fortalecer conceitos sobre a estrutura da família, passam de largo para o que de fato legitima uma família: respeito mútuo, cooperação, divisão de tarefas e obrigações e principalmente o AMOR que possibilita uma boa convivência.

A realidade da Igreja é outra, somos formados também por famílias atípicas, que ficam à parte durante um mês inteiro. Entre estas: casais sem filhos, filhos sem pais cristãos, viúvos, divorciados, avós que criam netos, sobrinhos que acompanham familiares, mães solteiras, sogras que foram acolhidas... enfim, realidades que são descartadas no mês de maio, quando nada faz menção sobre estas vidas que durante o ano participam ativamente de tudo o que acontece na Igreja.

Atos 2:47b " E assim, a cada dia o Senhor juntava à comunidade as pessoas que iam sendo salvas."

Acompanhem meu raciocínio: A Graça alcançou sem acepção, o Senhor iluminou o entendimento, enxertou na Videira Verdadeira, arregalou os olhos para as revelações espirituais, constituiu a cada um de nós Rei e Sacerdote, porque a Igreja é um sacerdócio real segundo a Ordem de Melquisedeque. Então nos tornamos habitação do Espírito Santo e até nossa espiritualidade é reconhecida. Mas a comunidade ainda exclui e considera como caso à parte. O Evangelho é agregador, mas a tradição evangélica, o Cristianismo histórico, a instituição religiosa é excludente e continua agindo com acepção.

Pelos moldes da Igreja, nem Jesus se encaixaria, porque nem era filho de José. O que fica evidente, é que muitas vezes a tradição evangélica fala mais alto que o próprio Evangelho. E que histórias como a de Rute, que decide cuidar de sua sogra Noemi, a de Timóteo que é ensinado pela avó, a do pai que pede socorro pelo filho endemoninhado, a da mãe que pede socorro pela filha sem que sejam mencionados outros membros da família, ficam sem valor.

Pelo que parece, o Evangelho excludente, não é o mesmo que alcançou a mulher que foi pega em flagrante adultério, ou a que teve cinco maridos e estava com um que não era marido dela. 

E a questão é a seguinte: É Deus que cega a congregação por causa da constante falta da prática de amor, ou é o exagero da religiosidade que cega para as coisas que são de fato importante? O que é inegável é o retrocesso, ao invés do avanço na estatura de varões perfeitos, porque toda a segregação, toda a exclusão e todo o preconceito, são contrários ao amor que caracteriza a Igreja de Cristo.

Este ano não vou participar do retiro de encerramento do mês de maio da Igreja, porque foi estabelecido que família é o casal com filhos, o resto é parente e parentes não serão permitidos.

No meu caso, a família que considero é a parentela inteira, porque na prática, eu moro só. Mas para a Igreja que exclui, eu sequer tenho uma família. Assim como eu, muitas outras pessoas que o Senhor acolheu, ficarão em situação constrangedora, porque a Igreja não aprendeu a amar e nem a acolher essas pessoas.

Este ano fazem 18 anos que congrego no mesmo lugar, mas o esforço que faço para permanecer e perseverar, é muito maior no meu caso do que no caso de famílias tradicionais, porque tudo gira em torno do umbigo dos religiosos. Assim, nas festas de solteiros estou de fora por causa da minha idade e por ter um filho. Nos encontros de casais estou fora, nos encontros dos homens onde podem levar a família estou fora e também no contexto do mês de maio.

Se não fosse a Graça que me sustenta e o amor de Deus que jamais me abandona e nem despreza, por que eu bateria nesta porta que nunca se abre?


2 comentários:

  1. Querida Janete, você que conheceu o amor de Cristo não está só, sabemos disso. A igreja humana ainda não está preparada para acolher as diferentes famílias. Não tem a doçura da sabedoria do alto, que não exclui, porém compõe.

    Eu soube pelo Fórum Evangelho da crença do seu amado filho. Confesso que fiquei aliviado, pois ele não é prisioneiro de uma religiosidade mítica, muito comum e distante da religiosidade autêntica. Acho que tendo a mãe que tem, ele se orientará para uma espiritualidade abençoada.
    Fica para você minha torcida que a benção de Deus se faça sempre presente na família Cardoso. Um abraço.

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  2. Eu afirmei aqui anteriormente: "A igreja humana ainda não está preparada para acolher as diferentes famílias.", mas acho que foi uma afirmação temerária. Há igrejas fundadas por homossexuais com base bíblica e que acolhem aqueles que são vistos preconceituosamente, as minorias. Não sei qual o conceito de família que eles adotam, mas possivelmente eles são mais sensíveis e acolham diferentes formações familiares. Há igrejas que admitem pastoras, e acho isso muito importante. Na época do apóstolo Paulo havia apóstolas como Júnias, e cooperadoras no Evangelho como Priscila. A modernidade deve resgatar aquilo que já era politicamente correto na antiguidade. Quanto retrocesso e atraso ainda temos de enfrentar.

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