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segunda-feira, 31 de março de 2008

Poema sem nome

Por Renato de Azevedo


Era tão pequeno que ninguém o via.

Dormia sereno enquanto crescia.

Sem falar, pedia - porque era semente -

ver a luz do dia como toda a gente.

Não tinha usurpado a sua morada.

Não tinha pecado. Não fizera nada.

Foi sacrificado enquanto dormia,

esterilizado com toda a mestria.

Antes que a tivesse, taparam-lhe a boca

- tratado, parece, qual bicho na toca.

Não soltou vagido. Não teve amanhã.

Não ouviu "Querido"... Não disse "Mamã"...

Não sentiu um beijo. Nunca andou ao colo.

Nunca teve o ensejo de pisar o solo,

pezito descalço, andar hesitante,

sorrindo no encalço do abraço distante.

Nunca foi à escola, de sacola ao ombro,

nem olhou estrelas com olhos de assombro.

Crianças iguais à que ele seria,

não brincou com elas nem soube que havia.

Não roubou maçãs, não ouviu os grilos,

não apanhou rãs nos charcos tranquilos.

Nunca teve um cão, vadio que fosse,

a lamber-lhe a mão à espera do doce.

Não soube que há rios e ventos e espaços.

E invernos e estios. E mares e sargaços.

E flores e poentes. E peixes e feras

as hoje viventes e as de antigas eras.

Não soube do mundo. Não viu a magia.

Num breve segundo, foi neutralizado com toda a mestria.

Com as alvas batas, máscaras de entrudo,

técnicas exactas, mãos de especialistas

negaram-lhe tudo ( o destino inteiro...)

- porque os abortistas nasceram primeiro.


Renato de Azevedo

9 comentários:

  1. Lutemos a favor da vida!! Lindo post!
    Tenho notícias no meu blog!
    beijos

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  2. Sou a favor da legalização do aborto e não me sinto culpado por tudo que esse cara tá dizendo aí não. É muito fácil falar do feto, mas dificílimo falar da mãe que morre numa gravidez de risco. Por trás disso tudo está uma política religiosa, machista, que se pretende em favor da vida, mas não está nem um pouco se lixando pela vida da mãe. Lamento que as próprias mulheres não enxergam isso.

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  3. Sou a favor da legalização do aborto, da pesquisa com células-tronco e da maioria das coisas que as pessoas se opõem sem questionar e que abordam sob a óptica de dogmas religiosos.

    É claro que essa minha aprovação a tudo isso, difrentemente do que fazem os que são contra, não é incondicional; ela é muito bem pensada e ponderada. Cada caso é um caso e alguns motivos que legitimam o aborto, por exemplo, são os que o Fanuel alegou; entretanto, há outros, que não abordarei aqui porque exigem muitas considerações.

    É fácil defender a dignidade da pessoa humana enquanto ela é um grupo de células recém-fecundado, mas será que depois vão continuar a defender a dignidade dessa pessoa quando ela estiver passando fome, roubando, matando, traficando, sendo morta pela polícia ou por seus comparsas de crime, ou estiver entupindo as celas dos inúmeros presídios que se constroem todos os dias nesse país injusto e desigual?

    Bj, Janete e origado pelo convite. ;D

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  4. Apoiado Fanuel e Elcio!

    ......
    B-joletas, Jan

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  5. Assunto delicado, minha opinião é a seguinte: Não acho que cabe à nenhum ser humano, decidir quem vive e quem morre, tampouco especular o que será do futuro dessa nova pessoa. Eu, como mulher, não quero esse direito.
    Já vivi duas situações diferentes:
    gravidez não programada, quando ainda era uma menina desestruturada e uma gravidez de risco, no momento mais conturbado da minha vida. Em nenhum dos dois momentos, pensei nessa possibilidade, preferi deixar nas mãos de Deus. Acabei perdendo o segundo filho, mas minha esperança era que vivesse.

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  6. Linda história, Janete.

    Há mulheres, no entanto, que precisam desse direito. (Em especial aquelas que correm risco de vida.)

    Soa cruel universalizar a minha experiência para todas as pessoas. É preciso uma igualdade de direitos. Não estou dizendo que deve ou não fazer o aborto. Estou dizendo que esse direito e essa escolha cabem à mulher que vai carregar o feto os nove meses na barriga, a mais ninguém.

    Que bom que você não escolheu o aborto! Mas se escolhesse, você não deveria ser vista como uma criminosa. Esse direito deve ser dado a todas as mães. E ninguém pode julgá-las eticamente por isso.

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  7. ei janete!
    bem bacana os assuntos abordados por aqui, gostei do seu blog e vou linka-lo no meu, ok?

    um beijo!

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  8. Hei, Sun!!!!
    Que bom te ver por aqui!
    Brigaduuuu! :)

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