O amor nesse mundo é loucura, amar e viver pela fé então... Destoa de tudo o que o hábito da frieza, egoísmo e maldade aceitam como normal e corriqueiro. Não foi atoa que Deus escolheu se revelar aos simples e dar sabedoria às coisas loucas desse mundo.
Todo mundo adoece em algum momento da vida, mas nem todo mundo cresce ouvindo testemunho de cura depois de ter sido desenganado. Todo mundo se sente sozinho e deslocado. Mas nem todos são neuro diversos tentando se encaixar num mundo que não acolhe e nem aceita as diferenças. Sorte minha que há sempre outros rejeitados e desfavorecidos para me juntar. A dor estreita as conexões. Mesmo sem conseguir me expressar, me explicar, brincar junto ou interagir espontaneamente, encontrei gente mais triste para acolher e cuidar, mais discriminados e estigmatizados que eu, para unir forças e continuar.
Todo mundo chora escondido, mas nem todo mundo chora por ver chorar. Muito menos num ambiente insalubre, com violência gritando na porta, pais discutindo, avó morrendo, carência de tudo ao redor. Ainda assim ser grato pelo básico, se alegrar com a grama no parque, a borboleta voando, a água revigorante do mar, a comidinha de mato, os bichinhos abandonados, os gatinhos nascendo, as joaninhas e o cheiro da rosa aberta. Ah, a contemplação me salvou tantas vezes e a reflexão embaixo da cama ou dentro do armário, onde esquecia os barulhos e o tempo e voltava pra minha essência.
Todo mundo se decepciona na vida, mas não incontáveis vezes como alguém descartável e sem valor, que só serve enquanto tem sumo para extrair. Todo mundo enfraquece, perde, desiste, mas ainda preserva a esperança de sair do fundo do poço, mas nem todos aprendem a voar, a encontrar abrigo no mistério, a viver os ciclos sabendo que eles terminam, esperando sempre o pior das pessoas e apesar de tudo ainda estar disponível.
Todo mundo se deprime, mas nem todos vivem essa melancolia constante. Uma tristezinha continua que já faz parte do ser. A poesia que nasce dela é a mais bonita.
Preto e pobre tem aos montes, lutando pela dignidade. Mas nem todos trabalham colocando ordem no caos alheio, ainda ter conselhos, risadas e compromisso de dar conta anos a fio. Ainda assim nunca bastar, nunca ter valor, não ser incluída e sair sem direitos.
Família todo mundo pode constituir, mas nem todas se vêem sozinhas com a responsabilidade de criar filho, construir casa, manter a dispensa cheia e as contas pagas sem depender de ninguém, mesmo com todas as limitações.
Insatisfeitos com o corpo muitos são. Quando não é a magreza, é a gordura, a careca ou o cabelo indomável. Mas nem todos convivem com a obesidade grau 3, carregando o peso de duas pessoas ou mais e tendo que dar conta de tudo. É doença desencadeada por distúrbios emocionais, mas a crueldade das pessoas muitas vezes é o que mais sobrecarrega.
Todo mundo vai se deteriorando com o tempo, perdendo o viço e a disposição de agradar. Mas eu que sempre fui autêntica, me vejo cada vez mais a margem de tudo o que é convenção. Antes eu até me esforçava para pertencer, agora quero evitar a fadiga.
E como se não bastasse o preconceito pela neuro diversidade, cor, status social, maternidade solo, obesidade e idade cronológica, agora ainda sou desigrejada. Taxada de desviada, porém encontrada pelo bom Pastor. Já compraram minha passagem para o inferno, só não vieram trazer porque sou louca e meu discurso é perigoso. Enfim, resisto e persevero, porque não existe plenitude nessa vida.
Só de uma coisa me glorio: de conhecer a Deus através de Cristo. Não me encaixei nos padrões mas fiquei livre dos grilhões.
Lucas 10, 21-24
"Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar."
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