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terça-feira, 30 de abril de 2024

A casa



Penso eu que a casa da gente é tudo sobre nós, principalmente nossos armários e cantinho de repouso. Tudo está alí nos detalhes, na forma que a gente cuida, no que representa e fala ao nosso respeito.

Minha casa está longe de ser Clean. Me incomoda o estilo minimalista, porque ninguém veio ao mundo para ser ou ter o mínimo. Estamos aqui para ser nossa melhor versão dia após dia, logo se minha casa me reflete e expõe minha alma, tem que ter meus excessos.

Escolhi um estilo boho porque me identifico com essa ideia de liberdade de agregar coisas que não são necessariamente programadas para combinar. Mas não um boho chique com tons pastéis e muito off-white. É  um boho afetivo assim como eu, com os registros de uma vida inteira.

Tem muitas cores, muitas texturas e principalmente muita natureza: madeira, palha, ferro, barro... Só não tenho muitas plantas naturais porque não tenho o dom de cuidar delas, então optei por fazer meus próprios arranjos mortos, afinal o artificial também faz parte do todo.

Meu romantismo me faz encher a casa de almofadas, cortinas e tapetes, muito artesanato. Preciso desse aconchego para acalmar meus sentidos e pensamentos no fim do dia. Não gosto do vazio, da frieza, da monotonia que vejo por aí.

E por fim, minha casa está repleta de lembranças das viagens, de alusões à fé e às pessoas que amo. É uma casa simples e funcional, mas também é um lar habitado pela alegria das crianças, bagunça do cachorro e muito silêncio durante a semana.

Eu realmente amo abrir minha porta e entrar. Cada cantinho que olho, vejo um pouco de mim. Sinto vontade de voltar pra casa e o melhor lugar do mundo pra mim é o meu lar.

domingo, 7 de abril de 2024

Ser Igreja

Não é o frequentar o mesmo endereço ou ter a mesma agenda que faz de mim irmã de alguém. É minha postura, minha consciência, minhas escolhas diárias, minha mente pautada nas palavras de Cristo. Sou irmã de quem eu auxílio e meu irmão em Cristo é quem me auxilia. 

Não concordo com o sistema religioso que se estabeleceu. Não o reconheço como a igreja bíblica, não o identifico com o povo que Deus está aperfeiçoando para si. 

Alguns defendem como se fosse "a Igreja", mas a Igreja é mística. São pessoas que se reconhecem espiritualmente e não porque carregam um crachá e defendem uma placa. São princípios e valores que norteiam, são promessas que sustentam, é o Espírito testificando o pertencimento e não um rol de membros.

Quando eu fazia parte de um círculo desses, já não concordava com algumas posturas, já discernia a falta de sabedoria de quem escolhia músicas ou usava o púlpito, já argumentava que algumas escolhas eram anti-biblicas, mas sentia a necessidade de doar de mim, pois é para isso que os dons servem, edificar uns aos outros. Mas na medida em que fui sendo cerceada, quando me discriminaram como indivíduo, quando me desprezaram como membro de um grupo, quando me coibiram de dizer o que  penso, perdeu o sentido estar alí. 

Quase uma década passou e eu sou a mesma pessoa que antes, porém mais honesta comigo. Hoje apenas sou o que sou e reconheço na vida quem quer ser comigo. Acredito que ser Igreja é isto: Deus transcendendo a alguns, que se reconhecem e se ajudam na caminhada mutuamente. Enquanto os sistemas só atendem aos seus próprios interesses.