Se fosse só a negligência de não sermos acompanhados por cristãos mais experientes eu até relevaria, afinal era uma igrejinha bem simples, com poucos membros, pouco estruturada, onde o que me atraiu era justamente todos se conhecerem possibilitando caminharmos juntos. Porém o que acontecia era verdadeiro bullying comigo e com meu filho, que era criança e muitas vezes saía da igreja chorando. Isso me arrasava. Nessa época eu ainda morava com minha mãe e a convivência familiar tinham algumas dificuldades e a igreja deveria ter sido um suporte espiritual para que eu pudesse vencer as dificuldades, mas ao invés disso, eu estava passando por preconceito e sendo motivo de chacota, ora por sermos gordos, ora por ser solteira e ter um filho.
Foram muitas situações e eu era tão carente que aceitei e perseverei em ficar alí durante anos, ouvindo coisas como "será que essa cadeira te aguenta?" Ou "ser solteira igual a você eu também sou" disse uma diaconisa casada e com idade de ser minha mãe, insinuando que eu tinha vida sexual.
Fora brincadeiras e apelidos com nosso peso que nós constrangiam ao ponto de eu avisar que se não parassem eu iria sair daquele lugar, porque meu filho já não estava mais querendo participar, isso traumatizou ele. Eu disse "Eu pediria pra vocês educarem seus filhos, mas vocês também fazem" e ninguém foi capaz de falar nada porque não sabiam onde enfiar a cara.
Além de bullying dos jovens, preconceito das senhoras, tinham também uns infiltrados que se insinuavam pra mim. Um deles levou uma mãozada com cachorro quente dentro do ouvido, enfim, essa igreja realmente nunca foi preparada para receber pessoas. No dia que resolvi construir uma casa e morar só com meu filho, alguns conservadores evitavam até me cumprimentar, porque na cabeça deles eu teria liberdade demais e uma mulher tinha que sair de casa com marido. Contando até eu fico abismada, como suportei 18 anos nesse circo de horrores?
Minha cegueira religiosa era tanta, que eu achava que tinha o lado bom das coisas, que meia dúzia me tratava com amor, que esses meninos na fé ainda iriam crescer, que alí estava minha segunda família, que os problemas, disputas por poder, tudo era coisa da condição humana... Comi tanto sal com esse povo!
Até que um dia resolvi fazer uma crítica sobre o mês da família, onde todas as palestras se direcionavam à famílias tradicionais, onde nós como famílias atípicas não nos sentíamos incluídos e isso destoava do Evangelho que é agregador, enfim, a igreja polemizou, se dividiu, uns concordaram, outros me crucificaram, pararam de falar comigo, um verdadeiro caos. E nessa ocasião, eu já era mais madura, já havia aprendido muita coisa sobre a fé cristã e já não via sentido em ser membro num lugar desses. Sai. Não sem luto, mas sai. Até hoje dói, mas bati o pó das sandálias e não me arrependo.
Sem querer generalizar, porque há de ter em algum lugar uma congregação séria, onde se prega Evangelho e se encarne a mensagem, eu sinceramente lamento muito ter que denunciar essas coisas e constatar que a grande Babilônia é um sistema inteiro e não apenas uma religião. O Reino de Deus é dentro do homem, onde o Espírito veio habitar. Qualquer um que quiser buscar fora o que só pode encontrar dentro, vai se frustrar. Graças a Deus eu aprendi a separar as coisas e embora não queira mais participar desses grupos, minha fé está bem guardada e Cristo é minha suficiência para continuar caminhando e sendo aperfeiçoada.
Bom, acho que já posso dormir.
Pra quem quiser ler o texto, é só buscar: "Mês da família?"
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